Lideranças devem se unir pela transformação
Anne Morais,
especial para o DC
A solenidade em celebração aos 90 anos do DIÁRIO DO COMÉRCIO foi repleta de emoção, reflexões e conhecimentos compartilhados. Além da entrega do Prêmio José Costa, o evento, que aconteceu no último dia 17, no Auditório do Renaissance Work Center, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte, marcou o fim da série Diálogos DC 90 anos, iniciativa que ao longo do ano reuniu personalidades em temas inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Nos cinco debates anteriores, uma questão foi citada com frequência: a importância das lideranças na busca por mudanças de impacto. Por isso, o debate de encerramento do Diálogos DC trouxe o tema “Lideranças Transformadoras para os Futuros da Humanidade” e contou com a participação de expoentes em iniciativas de áreas social, organizacional e pública.
O painel mediado pela jornalista e Diretora de Relações Corporativas da Fundação Dom Cabral, Marina Spínola, teve a participação de três debatedores: Suzana Fagundes, que é Chief Legal & Institutional Relations Officer da Localiza, como liderança organizacional; o Coronel Ricardo Brandão, secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Acre, como liderança pública; e Marciele Delduque, presidente estadual da Central Única das Favelas de Minas Gerais (Cufa-MG), como liderança social.
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A liderança pública nasce por genuína indignação, com a realidade atuando e a dor – Coronel Ricardo Brandão
| Crédito: Alessandro CarvalhoÉ preciso coragem
Na plateia, público ávido por cada palavra dos participantes do debate e as palmas e ovações estiveram presentes do início ao fim do painel. As falas inspiradoras vieram de pessoas, iniciativas e contextos distintos, mas uma característica foi o fio condutor de todos os líderes ali reunidos: a coragem de fazer diferente. Cada um à sua maneira, partindo de necessidades diversas, vem transformando e inspirando transformações para um futuro melhor da sociedade.
Representando a área social com a Cufa-MG, Marciele Delduque falou sobre o caminho de percepção de liderança, sobre descobrir seu papel na sociedade e o quão líder já era antes de alcançar o status atual. Afinal “nasce uma mulher, nasce uma líder”, ressaltou. Nessa trajetória social, nascida e criada em Mariana (MG), em um território de favela, que foi sua base, ela percebe o quão importante é o fortalecimento do indivíduo e do território para o empreendedorismo e, com isso, o empoderamento. “As pessoas que estão em uma situação de vulnerabilidade passam por uma ressignificação a partir do momento que você dá acesso e entrega oportunidades”, pontuou.
A instituição está presente em todos os estados brasileiros e em 19 países e atua para dar vozes aos territórios de favela e promover melhor qualidade de vida, que depende muito da independência financeira das pessoas. “O verdadeiro empoderamento só existe por vias econômicas. Se a gente não compartilhar conhecimento, riquezas e acolhimento, além da necessidade de trazer esses indivíduos para um lugar de ressignificação, não é um avanço”, destacou. Nesse sentido, o exemplo, que vem de sua cidade natal, mostra que mais de 800 mulheres empreendedoras são responsáveis pela circulação de mais de R$ 3,5 milhões por mês.

O verdadeiro empoderamento só existe por vias econômicas. Se a gente não compartilhar conhecimento, riquezas e acolhimento, além da necessidade de trazer esses indivíduos para um lugar de ressignificação, não é um avanço - Marciele Delduque
| Crédito: Alessandro CarvalhoDiversidade
Já Suzana Fagundes, que atua na liderança organizacional, revisitou o papel do setor privado na contribuição das transformações necessárias. “Não dá mais pra gente achar que os governos são responsáveis por solucionar todos os problemas, inclusive desigualdade e educação, nem deixar na mão do Terceiro Setor e das ações sociais”, destacou a empresária, que é que é Chief Legal & Institutional Relations Officer da Localiza.
Do seu ponto de vista, as empresas precisam ser protagonistas e as práticas ESG têm sido essenciais. A movimentação no mercado quanto a isso mostra que as empresas que não se envolverem nas demandas sociais serão esquecidas, uma vez que os investidores e também colaboradores e consumidores passam a exigir uma postura das marcas. “Mas, será que as empresas precisam aguardar essa pressão externa para se envolverem e ajudar na transformação das exigências sociais e mundiais? Por que não as empresas se tornarem mais protagonistas e provocadoras dessas mudanças tão necessárias”, questionou.
Fagundes completou que “não é simples, requer coragem e vai muito das lideranças de cada empresa”, ponderando também que vai além da sensibilidade, mas assumindo a coragem de mudar com uma liderança mais diversa, com programas reais que envolvam diversidade de raça, gênero, opiniões, visões e experiências.

Mas, será que as empresas precisam aguardar essa pressão externa para se envolverem e ajudar na transformação das exigências sociais e mundiais? Por que não as empresas se tornarem mais protagonistas e provocadoras dessas mudanças tão necessárias – Suzane Fagundes
| Crédito: Alessandro CarvalhoParcerias
A coragem também é requisitada nas lideranças públicas e sair da zona de conforto talvez seja o maior desafio. O Coronel Ricardo Brandão, atual secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Acre, buscou inspiração em outros modelos de gestão e governos, inclusive no de Minas Gerais, para tirar o Estado do último lugar no Ranking de Competitividade dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).
Na sua trajetória, viu a acomodação de muitos, mas seu olhar inquieto para o que precisa de atenção o fez avaliar as necessidades de mudanças e o quão essencial se torna repensar a liderança pública para fazer diferente na gestão e obter resultados reais. “A liderança pública nasce por genuína indignação, com a realidade atuando e a dor”, reflete. Nesse cenário, um gestor que não sabe o que acontece na periferia, na Amazônia, ou até entre a vivência de servidores públicos e suas dificuldades, não é capaz de entender quais são as transformações que demandam maior atenção.
“Se nós temos que fazer diferente, vamos fazer diferente?”: foi a partir desse pensamento que o secretário mobilizou diversas frentes, desde a conscientização interna da equipe pública do governo acreano até a busca por parcerias privadas, desenhou projetos e planos de ação e, hoje, o Acre se encontra algumas posições acima dos indicadores. Conquistou o 26º lugar do ranking em 2021 e atualmente está na posição de 24º e continua no caminho para eficiência da máquina pública, capital humano, potencial de mercado, sustentabilidade ambiental e inovação. A essência dessa mudança partiu da construção de parcerias relevantes e da sensibilização dos servidores públicos, aqueles que permanecem mesmo após as transições de governo e que são o contato direto com a população. “Se eles comprarem a ideia, eles carregam essa transformação para o resto da vida”, conclui.
De maneira geral, os palestrantes consideraram que é fundamental uma ação coordenada nos programas, buscar uma ação e conexão que tenham o mesmo olhar. Em uníssono, em qualquer esfera, ouvir as necessidades, ir além dos problemas individuais e partir para os coletivos, encarando as burocracias, mas andando em conjunto, alcançando assim a melhor performance e resultados eficazes.
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