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Minas Gerais: uma potência brasileira em geração de energia limpa

Desde 2012, a geração própria de energia solar já proporcionou ao Estado a atração de mais de R$ 13,9 bi em investimentos | Crédito: Reprodução/HCC Energia Solar
Líder em solar, potente em hidrelétricas e biomassa, e capaz de crescer ainda mais no futuro; confira tudo sobre a força do Estado em energia

Nesta segunda-feira (29), comemora-se o Dia Mundial da Energia. Criada em Portugal, mais precisamente no ano de 1981, a data marca a celebração de um dos bens mais valiosos da humanidade. O objetivo é motivar e conscientizar a sociedade sobre a importância de se poupar energia e incentivar a geração por meio de fontes renováveis. 

Nesse sentido, Minas Gerais sempre foi uma potência brasileira. Tanto é que o Estado foi o primeiro a receber uma usina hidrelétrica (UHE) de grande porte no Brasil, ainda na década de 1960. A famosa usina de Furnas, localizada entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, foi um marco na história do setor no País. 

Mas a força mineira na produção de energia limpa não para por aí. Em abril, por exemplo, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Minas foi a primeira unidade da Federação a ultrapassar 5 gigawatts (GW) de energia solar fotovoltaica em operação. O resultado ocorreu em função de consideráveis investimentos nos últimos anos. 

Ainda sobre energia solar, o Estado é líder em geração centralizada (GC). O segmento é composto por grandes usinas, normalmente situadas longe dos centros de consumo. Segundo a Aneel, Minas possui hoje na modalidade uma potência em operação de 2,9 GW, quase o dobro da segunda colocada Bahia (1,5 GW). 

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Além disso, Minas está em segundo lugar na geração distribuída (GD). O segmento é formado por pequenas unidades geradoras, instaladas sobre telhados e pequenos terrenos, seja no próprio local de consumo ou próximos a ele. Conforme a agência, o Estado tem hoje na modalidade uma potência em operação de 2,8 GW, atrás apenas da líder São Paulo (2,9 GW).  

Expansão de projetos fotovoltaicos deve continuar

O potencial mineiro fotovoltaico deve expandir ainda mais no decorrer dos próximos anos. Somente em 2023, a expectativa da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) é que o Estado receba investimentos de até R$ 10 bilhões no setor. O montante representa um alto percentual do que se prevê de aportes para todo o País (R$ 50 bilhões).

O diretor técnico-regulatório da Absolar, Carlos Dornellas, ressalta que, em GD, o Brasil já alcança a marca de 21 GW em operação e que Minas e São Paulo rivalizam pela hegemonia no segmento. Segundo ele, no caso mineiro, o resultado é fruto de uma política de incentivos. 

É válido ressaltar que, de acordo com a associação, todos os 853 municípios mineiros possuem pelo menos uma conexão operacional em GD. E desde 2012, a geração própria de energia solar já proporcionou ao Estado, a atração de mais de R$ 13,9 bilhões em investimentos, geração de mais de 80 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. Mas ainda existe capacidade de crescimento. 

“Nós vemos o crescimento da modalidade como possível até porque os telhados solares são consumidos pelas próprias famílias. Então, não há que se falar em congestionamento da rede. Ainda que, eventualmente, se coloque alguma imposição por parte da concessionária local, esses telhados solares tendem a continuar se expandindo, porque, de fato, eles são utilizados na sua maioria pelas próprias famílias que habitam sob eles”, destaca Dornellas.

Disponibilidade de terras

Já em relação à GC, o diretor afirma que são 9 GW em operação no Brasil e Minas chegou à liderança devido aos incentivos, bem como a disponibilidade de regiões prósperas à produção. Segundo ele, o Norte do Estado concentrou no passado muitas terras que, após o esgotamento do uso para a agricultura, foram alocadas para a geração de energia solar de grande porte. Com essas circunstâncias, a situação de crescimento depende de outros fatores.

“Hoje temos a transmissão naquela região que se apresenta como recurso escasso e é fundamental que tenhamos a limpeza de fila, que nada mais seria do que uma devolução de contratos para aqueles projetos que estão à frente, porém não são tão viáveis, obviamente partindo do empreendedor essa conclusão, para que outros mais viáveis possam ocupar essa margem e assim ter uma expansão da energia solar centralizada em Minas”, afirma.

Há ainda potencial hidrelétrico no Estado

Embora a energia solar seja o foco do momento, Minas também tem bons números no setor hidrelétrico. Conforme a Aneel, o Estado atualmente é o quarto no ranking brasileiro de capacidade instalada de usinas hidrelétricas (UHE), com 12,6 GW em operação. Aloísio Vasconcelos, engenheiro, ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e ex-presidente da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras), defende o potencial da área. 

Segundo ele, o momento é favorável e Minas tem grande potencialidade em energia solar. No entanto, para atender às demandas das siderúrgicas e mineradoras, por exemplo, a modalidade se mostra limitada. Por isso, é necessário ter a chamada energia de base, no qual se enquadram as hidrelétricas. Conforme ele, ainda existem locais para construção de UHEs.

De acordo com o engenheiro, há algum tempo a Cemig tinha estudos avançados no que diz respeito à possível instalação de uma UHE no Triângulo Mineiro. A UHE de Divinópolis teria cerca de 100 megawatts (MW) e seria interessante porque ficaria no remanso da UHE Emborcação, o que diminuiria o seu custo. Segundo ele, outro estudo preliminar seria para a instalação de uma UHE no rio Jequitinhonha, da ordem de 100 a 120 MW.  

Minas PCH

Por fim, Vasconcelos defende a volta do programa Minas PCH, que vislumbrava a implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) pelo Estado. Segundo o engenheiro, a iniciativa era promissora, porém não foi para frente devido a dificuldades de aprovação de projetos no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Em função disso, na época, houve a instalação de apenas duas PCHs: PCH Cachoeirão e PCH Pipoca. 

“Esse é o cenário em termos de hidrelétricas em Minas. Agora se fizer estudo, se você for até a Aneel, os estudos vão mostrar que ainda tem muitas PCHs por aí afora que poderiam ser feitas. É um programa que eu fico triste de não ver prosperar. E não é difícil ter investidor, porque o retorno de capital é bom e a demanda, claro, sempre existe. Mas a dificuldade é principalmente com relação ao meio ambiente, que esfriou o projeto”, ressalta.

Centrais reversíveis para o futuro

Solar, hidrelétrica e até mesmo energia a partir da biomassa já são realidades no Estado. Mas e o futuro? Para o professor da pós-graduação de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Barreira Martinez, a grande oportunidade mineira está na instalação de centrais reversíveis. 

Segundo ele, as centrais reversíveis são compostas por reservatórios inferior e superior, em que a água é bombeada utilizando a energia gerada por fontes solar ou hidráulica durante o dia e armazenada para uso à noite ou em picos de demanda. Um exemplo seria um supermercado, que poderia guardá-la e utilizá-la quando preciso. Ainda conforme Martinez, o projeto é ainda interessante e promissor para diminuir o passivo ambiental da mineração.

“No meu entendimento, também existe um potencial para isso porque temos cavas de mineração, que são passivos das mineradoras e que podem se transformar em ativos. Essas cavas são aqueles buracos deixados quando se retiram o minério. Então nesse vazio, poderia se instalar essas usinas reversíveis e diminuir esse problema”, destaca.

MinasCoop Energia impulsiona geração de energia limpa e beneficia milhares de pessoas

Em uma iniciativa pioneira, as cooperativas de Minas estão se unindo em prol da geração de energia limpa e beneficiando milhares de pessoas. E este era justamente o objetivo do MinasCoop Energia, criado ainda em 2020 pelo Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Sistema Ocemg). 

Conforme explica o superintendente do Sistema Ocemg, Alexandre Gatti Lages, o projeto nasceu com base em três pilares: ambiental, fomentando à geração de energia limpa; econômico, buscando zerar as contas de energia; e social, o grande diferencial do programa, uma vez que as cooperativas doam parte da energia para hospitais e entidades filantrópicas. 

Ainda em 2021, a entidade construiu três usinas fotovoltaicas, sendo duas em Cristália e uma em Botumirim, ambas no Norte do Estado. Os empreendimentos possibilitaram uma autossuficiência do Sistema Ocemg, mas, para além disso, propiciaram a doação de energia para a Santa Casa de Belo Horizonte. O superintendente também destaca que os complexos transformaram a vida das famílias proprietárias dos terrenos, gerando renda e emprego. 

“Não tínhamos terrenos para poder instalar as usinas. Encontramos duas comunidades muito carentes no Norte do Estado – Cristália e Botumirim – onde produtores tinham grandes áreas improdutivas. Então, arrendamos esses espaços para construir as usinas. O contrato é de 30 anos e esse dinheiro do arrendamento mensal virou sustento de várias famílias. É um ponto importante que não fazia parte do escopo inicial, mas que virou um grande diferencial”, diz.

Painel solar fotovoltaico em Cristália, no Norte de Minas Gerais
Usina de Cristália, uma das três construídas pelo Sistema Ocemg no Norte do Estado | Crédito: Acervo Sistema Ocemg

Cooperativas

Com relação às cooperativas, elas escolhem o local onde vão instalar as usinas, assim como as entidades que serão beneficiadas com a doação. Conforme o analista sênior de Licitações e Compras do Sistema Ocemg, Lucas Lage, seis já aderiram ao projeto e construíram seus complexos. Ao somar com as usinas da entidade, foram mais de R$ 18 milhões investidos. 

“Além disso, quase 30 cooperativas já manifestaram interesse em conhecer o MinasCoop Energia e estão em interlocução com o Sistema Ocemg”, salienta o analista. 

Já o presidente do Sistema e grande incentivador do programa, Ronaldo Scucato, destaca o alinhamento do programa com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

“O MinasCoop fomenta o desenvolvimento, a energia limpa, boas práticas sociais, ambientais e econômicas, além de beneficiar milhares de pessoas por meio das instituições filantrópicas que recebem parte do excedente gerado pelas usinas de energia fotovoltaicas das cooperativas mineiras. Um programa inovador e alinhado aos ODS da ONU”, destaca o presidente.


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