Pacto Global chama iniciativa privada para criar um mundo melhor
O Dia Mundial do Meio Ambiente celebrado nesta quinta-feira, 5 de junho, foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1972, na abertura da Conferência de Estocolmo, na Suécia, cujo tema central foi o Ambiente Humano. Passados 53 anos e às vésperas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém (PA), a importância e o papel da iniciativa privada na construção de um mundo mais justo e sustentável se tornaram pautas urgentes. E, para falar sobre isso, ninguém melhor que o diretor-executivo do Pacto Global Brasil, Guilherme Xavier.
O Pacto Global da ONU é uma iniciativa voluntária que visa mobilizar a comunidade empresarial global para adotar práticas sustentáveis e alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criado em 2000.
Neste 5 de junho de 2025, anunciamos também a adesão do Diário do Comércio ao Pacto Global, reforçando o compromisso da empresa com a construção de um mundo mais justo, sustentável e seguro para todos. Compromisso este que deu origem, em 2017, ao Movimento Minas 2032 – Pela transformação global (MM 2032), liderado pelo Diário do Comércio, em parceria com o Instituto Órion. O MM 2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS.
P: O Pacto Global tem aí uma missão tão nobre quanto complexa. “Transformar estratégias empresariais para o desenvolvimento sustentável de um Brasil que não deixa ninguém para trás”. Mas ao longo da história, a sociedade como um todo, mas principalmente o trabalhador, aprendeu a desconfiar das empresas e dos empresários. O que mudou dentro da iniciativa privada? Ainda falta muito para acabar de virar essa chave?
R: Vivemos em um cenário de mudança contínua e o século XX foi de muito progresso material e, ao mesmo tempo, muito ganho social também. As empresas fazem parte dessa jornada. Alcançamos progresso material, mais produtividade, mais eficiência, mais comércio, mais tudo e, ao mesmo tempo, uma sociedade que foi ficando mais bem informada, com mais acesso à educação e com um consumidor e um trabalhador – que não deixa de ser um consumidor – mais exigente. Então, tudo parte do mesmo ciclo de evolução. Acho que esse movimento que iniciamos no século XXI de fortalecimento do que chamamos “práticas sustentáveis” reflete um pouco essa necessidade de harmonização entre o progresso material e o avanço social, ambiental e assim por diante. As empresas são fundamentais porque esse progresso parte da produção, da oferta de bens e serviços. Então, acho que faz parte da evolução do ser empresário, do ser uma empresa, estar atento a essas mudanças.
P: E qual o peso da pandemia nisso tudo?
R: Acho que a pandemia foi um momento de reconhecimento de que somos humanos, frágeis e mesmo com todo esse progresso material e tudo que temos de tecnologia, somos extremamente vulneráveis a um simples micro-organismo. A nossa humanidade ficou muito patente. No Pacto Global Brasil, uma das primeiras coisas que fizemos foi participar dessa mobilização do setor privado, empresarial, coordenar um pouco essas ações. São muitos bons exemplos que surgiram e que a gente precisa manter. Infelizmente, a memória é curta. Parece que isso já foi há muito tempo e algumas das coisas que a gente conseguiu ganhar, estamos perdendo.
P: O Brasil vai sediar a COP 30 este ano e isso traz muita visibilidade para o País. Qual a sua expectativa sobre o evento e como o Brasil poderia capitalizar a Conferência?
R: Esse é o momento do Brasil, sim! Chegamos a um ponto em que, em função dos problemas que existem no mundo, o Brasil tem muitas soluções a oferecer. Temos capacidade de produzir produtos com baixa pegada de carbono porque temos uma matriz limpa, uma oportunidade ímpar de desenvolvimento de soluções para captura de carbono, seja a partir das florestas, da agricultura regenerativa, por exemplo. Temos uma indústria de biocombustíveis consolidada que é extremamente positiva. Temos que observar também as questões geopolíticas. O Brasil tem uma situação bastante importante e também uma orientação política, de Estado, que diz que precisamos capitalizar isso e avançar de uma forma sustentável. Então, eu acho que o momento é muito bom. A Amazônia e Belém, realmente, são emblemáticas. Somos um país democrático. É uma oportunidade do Brasil se mostrar para o resto do mundo. No Norte Global não se fala em biocombustível, somente em eletrificação. O Brasil tem essas alternativas e fazem muito sentido, mas o mundo precisa aceitar, porque algumas regulamentações que existem na Europa são contra os biocombustíveis, porque acham que ele compete com segurança alimentar, que não é o caso do Brasil. Temos capacidade de produzir combustível e, ao mesmo tempo, garantir a segurança alimentar do mundo. Então, as oportunidades são muito grandes e a gente precisa estar realmente sentado à cabeceira da mesa.
P: É uma chance de melhorar a comunicação, mostrar como as coisas são aqui dentro?
R: Quando o mundo se posiciona em relação ao Brasil, em alguns pontos, realmente, falta conhecimento. Então, é preciso que todos conheçam, que entendam o que é a floresta, qual é o custo de mantê-la de pé, como fazer justiça climática, como fazer o mundo avançar sem deixar ninguém para trás, como tratamos os povos originários e as pessoas que estão dentro da floresta, os problemas da cidade, o transporte público.Todos esses desafios requerem posicionamento e parcerias. A COP 30 é uma oportunidade de buscar essas parcerias e mostrar o que a gente tem a agregar para a solução de vários problemas, principalmente em relação à questão climática.
P: O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e isso faz aumentar a nossa responsabilidade, certo?
R: Temos um problema bastante desafiador, que é o que a gente chama de uso da terra, que inclui a questão das florestas. Se conseguirmos fazer, simplesmente, o que a lei diz, que é evitar o desmatamento irregular, já atenderemos as nossas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) muito antes de qualquer um desses outros nove países. Então, temos uma posição de destaque. Agora precisamos ter negociação, fazer com que os organismos, as regulações internacionais reconheçam esse potencial do Brasil.
P: O Pacto Global funciona sob 10 princípios divididos em quatro grandes frentes: Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Não dá pra falar de um sem falar de outro, mas se você precisasse eleger o desafio mais importante, mais urgente no Brasil, qual seria?
R: Apesar de nós estarmos no ano da COP e o foco ser todo em meio ambiente, os problemas continuam. Muitos deles, inclusive, atrelados ao próprio desafio climático. Por exemplo, no campo do trabalho precisamos requalificar a mão de obra no que chamamos de green skills. Obviamente, você precisa de processos bons, de governança. Por isso, é muito importante reforçar a posição do Pacto Global. A gente está aí para mobilizar o setor privado nesta agenda que é entrelaçada. Esses pilares são interrelacionados e precisam ser tratados de forma conjunta e com a mesma intensidade. Um não é mais importante que o outro. Os quatro são importantes e têm a ver com esse progresso que a gente quer para a humanidade.
P: E é nesse sentido que surge o Ambição 2030? Aconteceu um evento na quarta-feira (4), não é?
R: O Ambição 2030 é feito em cima dessas quatro pautas. Como esse é um ano de COP, a gente amarra todas essas questões junto com a pauta climática. Então, se vamos falar de anticorrupção, vamos falar sobre greenwashing. Se for sobre direitos humanos, vamos falar sobre justiça climática. Então, a ideia é trabalhar as quatro questões dentro da nossa ambição 2030, que tem a ver com os 17 ODS que foram institucionalizados pelas Nações Unidas, em 2015. Este ano, o evento foi em São Paulo e tivemos a participação de uma plateia muito distinta. É sempre um momento de celebração e de mostrar as coisas importantes que os membros do Pacto Global estão fazendo pelo Brasil e pelo mundo.
P: Vamos falar agora sobre a adesão do Diário do Comércio ao Pacto Global. Qual o significado dessa adesão? E qual a importância das empresas de comunicação aderirem ao Pacto Global?
P: Em primeiro lugar, queria agradecer a confiança e essa oportunidade da gente estar trabalhando mais juntos do que a gente já esteve no passado. Realmente, ter veículos de comunicação como o Diário do Comércio, que trazem boa informação, informação auditada, verificada e de bom conteúdo, é muito importante nesse mundo de desinformação. Trabalhar com o Diário do Comércio é uma honra e é um prazer muito grande. O fato de um veículo de comunicação ser signatário, mostra que está aderente aos nossos princípios, anualmente presta contas desses princípios, no que a gente chama de Communication of Progress. É um sinal de que vai ter o editorial engajado, não só para dentro de casa, mas para a comunidade e para o setor em que ele atua. Precisamos comunicar os princípios não só para as empresas, mas para a sociedade como um todo, porque serão os consumidores das empresas que vão convencê-las. Fazemos um trabalho de formiguinha dentro de cada empresas, damos voz a elas e os veículos de comunicação como vocês, ao aderirem aos mesmos propósitos, amplificam a nossa capacidade de chegar à sociedade como um todo.
P: Para as empresas que estão interessadas, mas não estão em São Paulo, existem os hubs ODS locais. Como eles funcionam?
R: O nosso engajamento é com o setor privado, seja a empresa de grande ou pequeno porte e até mesmo o que a gente chama de organizações não empresariais, mas que estão alinhadas a essa pauta. Então, por exemplo, as federações associadas ao Pacto Global. Gostamos disso porque cria um efeito multiplicador muito grande. Pelo Brasil ser um país muito grande, precisamos reconhecer as questões regionais. Então, a gente trabalha com esse conceito de hub, que é, basicamente, uma oportunidade desse diálogo entre as empresas para discutir questões regionais. Direitos humanos é um conceito universal, mas talvez as necessidades das empresas que estão em determinada região, em termos de direitos humanos, sejam diferentes das de outras regiões. Temos um em Minas Gerais, em Belo Horizonte. A forma de participar é muito simples: através do www.pactoglobal.org.br, a empresa vai ter informações sobre como aderir ao Pacto. É preciso responder algumas questões, porque existe um processo de diligência devida. É um processo simples, mas necessário. A gente aceita qualquer empresa, desde que ela esteja alinhada a alguns desses princípios. Passado esse processo, vem a adesão, que é a assinatura de uma carta que é entregue ao secretário-geral da ONU, em que a empresa assume este compromisso em relação aos princípios básicos.
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