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ENGENHARIA HOJE | SME entrega medalha Amaro Lanari Junior à ArcelorMittal

Entre Virgínia Campos e Paulo Henrique Vasconcelos, Paula Harrara, da ArcelorMittal, recebeu a medalha da SME | Crédito: Fábio Ortolan

João Monlevade, na região Leste de Minas, é bem mais do que o berço da moderna indústria siderúrgica brasileira. É também a face visível de um relacionamento centenário – entre mineiros e luxemburgueses – que foi reforçado, no último domingo, pela entrega do prêmio Amaro Lanari Júnior à siderúrgica ArcelorMittal, que sucedeu a antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, por onde se deu a entrada dos luxemburgueses em território mineiro. O prêmio é uma iniciativa da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), que também prestou homenagem à historiadora Dominique Santana pela produção do documentário “A Colônia Luxemburguesa”.

No último final de semana, uma comissão de Luxemburgo visitou João Monlevade, onde conheceu pontos históricos da cidade, que foi construída pela empresa. A visita incluiu o túmulo de Louis Ensch, que dirigiu a Belgo-Mineira até 1953. Na sexta-feira à noite, a Câmara Municipal e a prefeitura de Monlevade entregaram a Medalha João Monlevade ao prefeito de Ensch-Sur-Alzette, George Mischo, à consultora de Cultura da Embaixada de Luxemburgo no Brasil, Nádia Mellina, que nasceu em Monlevade, e ao cônsul luxemburguês no Brasil, Charles Schmit. Na mesma solenidade, Dominique Santana recebeu o título de cidadã honorária de João Monlevade.

No sábado, ocorreu uma reunião de trabalho para a definição de projetos a serem implementados em conjunto pelas prefeituras das duas cidades, que oficialmente, passaram a ser consideradas cidades irmãs. No domingo à noite, de volta a Belo Horizonte, a comitiva participou da solenidade de entrega da Medalha Amaro Lanari Júnior à ArcelorMittal. A presidente da SME, Virgínia Campos, definiu a solenidade como sendo a celebração de um encontro que extrapola em muito as questões ligadas apenas ao mundo da siderurgia. “É um encontro de valores humanos, culturais, socioambientais e também econômicos”, afirmou a presidente da SME.

Paula Harrara, diretora de Estratégia, ESG, Inovação e Transformação do Negócio da ArcelorMittal, destacou a trajetória de sucesso da empresa e a responsabilidade que as atuais gerações têm de dar continuidade a essa caminhada. “Essa história envolve a vida de muitas pessoas que fizeram parte dessa construção e a gente tem a missão de honrar esse legado”, afirmou Paula Harrara.

A ilustrar a importância dos projetos dos luxemburgueses, ela lembrou que o aço da Belgo-Mineira esteve presente em momentos importantes da história brasileira, como na construção de Brasília, da Ponte Rio-Niteroi e também do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. “É uma história que foi construída com muito pioneirismo, com muita inovação e muita tradição, afirmou a diretora da ArcelorMittal.

Para o engenheiro Paulo Henrique Vasconcelos, cônsul horário de Luxemburgo em Minas e no Espírito Santo, a medalha é o reconhecimento de uma parceria que deu certo, tanto para Minas, pelos técnicos e capital aqui aportados, quanto para Luxemburgo, pois ajudou a reforçar a nascente indústria siderúrgica daquele país, transportando-a para além de seu próprio território.

“Foi uma parceria que deu muito certo para os dois lados”, reforça o chanceler da Medalha Amaro Lanari Júnior, Paulo Henrique Vasconcelos , que também tem laços com Luxemburgo, por meio de sua esposa, Mariana, que é bisneta de Albert Charlé, o engenheiro luxemburguês que participou da implantação da Belgo e assumiu a direção-geral da empresa com a morte de Louis Ensch, em 1953. Charlé era também o proprietário do sítio localizado na região sul de Belo Horizonte que foi loteado por seus herdeiros nos anos de 1960, transformando-se no bairro Luxemburgo, onde uma rua com o nome de Charlé homenageia sua memória

Luxemburgo é um pequeno país encravado no centro do continente europeu e rodeado pela Bélgica, França e Alemanha. Sua população, de 632 mil habitantes, é igual à de Contagem, o terceiro município mais populoso de Minas. Até meados do século 18, era um país predominante agrícola. Sua revolução industrial se deu por meio da siderurgia, indústria que, segundo o cônsul de Luxemburgo no Brasil, Charles Schmit, chegou a representar um quarto de toda a riqueza produzida no país. No entanto, de acordo com o cônsul, com o avançar dos anos, houve uma expansão do setor de serviços, que hoje, segundo ele, representa mais de 80% do produto interno bruto de Luxemburgo.

O cônsul de Luxemburgo, Charles Schmit, entre Flávio Fontes, da SME, e o empresário Teodomiro Diniz | Crédito: Fábio Ortolan

Cultura

Além de reforçar os laços econômicos entre Minas e Luxemburgo, a entrega da Medalha Amaro Lanari Júnior reforçou os aspectos culturais desta relação. Estes laços foram retratados pela historiadora e cineasta Dominigue Santana, cujo documentário por ela dirigido pode ser visto em www.colonia.lu. Para Dominique, conhecer essa história é fundamental, porque ela não pertence ao passado, mas sim ao presente e está em constante evolução. O documentário faz parte do projeto cultural “Festival Brasil-Luxemburgo”, que, segundo a coordenadora do projeto, a produtora cultural Clarice Fonseca, visa aumentar o nível de conhecimento que os mineiros têm de Luxemburgo e, ao mesmo tempo, resgatar a memória dos monlevadenses sobre suas origens.

Revisitar esse passado e trazê-lo para o presente, para que a atual e as futuras geração o conheçam, é o que também pretende a secretária de Cultura de João Monlevade, Nadja Lírio Furtado, que tem mantido contato com a ArcelorMittal para que a empresa patrocine projetos na área de cultura. O objetivo, segundo Nadja Furtado, é revitalizar a parceria a empresa e a comunidade ao longo de toda a primeira metade do século 20 até os anos de 1970, quando esse relacionamento se tornou mais distante.

Um dos projetos prioritários visa a construção de um centro de memória em João Monlevade. Para isso, a prefeitura está negociando o acesso aos documentos, fotografias e objetos históricos relacionados à história da siderúrgica e da cidade que foi construída pela empresa ao redor da usina. “A gente quer ter acesso essa memória”, pontuou a secretária de Cultura do município, que há três semanas visitou o Centro de Memória da ArcelorMittal, em Sabará, onde está esse acervo.

O trabalho de Dominique e a disposição de Nadja em construir em João Monlevade um centro de memória estão em sintonia com a diretriz da gestão da SME, que visa estreitar os laços entre a engenharia e a cultura. “A engenharia expressa-se como arte na beleza das edificações que abrigam os acervos técnicos e artísticos, como também pelas realizações dos profissionais da engenharia que moldam o espaço preparando o futuro e aproximando comunidades e ambientes utilizando como ferramenta o conhecimento e a tecnologia”, disse a presidente da SME, Virgínia Campos, na solenidade de entrega da Medalha Amaro Lanari Júnior.

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