LABORATÓRIO DE ITAJUBÁ | Unifei propõe novo modelo de governança e inicia mobilização política
Algumas saídas começam a ser delineadas como alternativas para a retomada das obras de implantação de um complexo de laboratórios para o setor elétrico em Itajubá, no Sul de Minas. O complexo foi projetado para ser uma referência para o setor elétrico, mas, por falta de recursos, está com suas obras paralisadas desde julho.
Uma das alternativas seria o uso de recursos provenientes do Fundo de Petróleo e Gás da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Segundo o reitor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Dagoberto Alves de Almeida, a justificativa seria o fato de que as centenas de plataformas de petróleo que o País tem em alto mar precisam, a partir de 2020, passar por extenso e profundo processo de modernização, tanto de equipamentos quanto de instalações, sob pena de serem desativadas. E uma parte substancial dessa atualização refere-se, segundo o reitor, a sistemas elétricos.
Outra possibilidade seria uma possível parceria com a Unifei, que, assim como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), possui a prerrogativa de importação de equipamentos de tecnologia sem taxação alfandegária, além de ser a universidade credenciada a participar das demandas de pesquisa e desenvolvimento das agências reguladoras e de fomento. De acordo com o reitor, a Unifei não tem condições de apoiar financeiramente o projeto, mas pode apoiar tecnicamente, visto que é uma instituição de referência em energia elétrica no País.
Mobilização política – Essas possíveis alternativas foram discutidas em reunião realizada na semana passada, durante visita do governador Romeu Zema às instalações da Unifei, em Itajubá. Em reunião no gabinete da Reitoria, o reitor salientou que o maior complexo laboratorial do setor elétrico na América Latina e o sétimo mais moderno em sua categoria no mundo, não pode, após ter consumido mais de R$ 41 milhões em terraplanagem e implantação de obras de infraestrutura, simplesmente ser cancelado sem que haja uma união de todos em prol da busca de meios que garantam sua continuidade.
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Participaram da reunião, além do governador Romeu Zema, o secretário de Governo de Minas, Bilac Pinto; o ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mário Neto, que representou a Sociedade Mineira de Engenheiros (SME); o senador Carlos Viana (PSD-MG); e o presidente da Federação das Indústrias no Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, entre outras autoridades.
Na ocasião, o reitor da Unifei reconheceu que há, de fato, imensas dificuldades financeiras por parte do Estado para que o modelo atual de negócios seja atendido. Todavia, salientou a importância do Estado assumir o protagonismo na busca de apoio político para o projeto junto ao governo federal.
“A razão para tal é que esse complexo laboratorial é fundamental para o desenvolvimento da infraestrutura do setor elétrico sem a qual o Brasil não terá condições de desenvolver todas as demais áreas, pois a energia é insumo básico do progresso”, afirmou o reitor.
Dificuldades – O presidente Fiemg, Flávio Roscoe, apresentou as dificuldades que a instituição possui para garantir a continuidade do projeto e defendeu a efetiva participação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na sua continuidade. Roscoe também defendeu a união da classe política de Minas em torno do projeto e sua atuação junto ao governo federal. Todos os participantes se comprometeram em unir forças em prol do projeto.
O encontro de Itajubá foi, nesse sentido, o primeiro de uma série de outros que ocorrerão com o objetivo de se criar uma mobilização política que permita a retomada das obras. Amanhã, o reitor da Unifei estará em Brasília, para uma reunião com o senador Izalci Lucas (PSDB-MG), coordenador da Frente Parlamentar Mista de Ciência e Tecnologia. Otimista, Dagoberto Almeida defende que, se for necessário, se faça uma alteração no modelo de governança do projeto, que hoje é do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MG).
Presente na reunião de Itajubá, Mário Neto afirma também estar otimista. Ele diz ter percebido, ao final da reunião, um interesse muito forte dos presentes em buscar meios que permitam a retomada das obras. “Continuamos nesse luta”, disse Mário Neto.
Nova governança – O projeto será orçado em R$ 432 milhões, dos quais R$ 16 milhões foram desembolsados pela Fiemg e Senai-MG com recursos próprios. Os demais agentes financiadores seriam a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), com R$ 32 milhões; a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (Fapemig), com R$ 40 milhões; a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com R$ 152 milhões; e o Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com R$ 198 milhões. O BNDES informou que, a despeito da paralisação das obras, o projeto não tem restrições por parte da instituição, estando apto a receber recursos.
As obrigações do governo de Minas somam R$ 72 milhões; os recursos da Aneel dependem da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), por se tratar de verbas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). A fatia maior, correspondente a quase a metade do orçamento total do projeto, viria do BNDES. O problema é que o dinheiro do BNDES não é a fundo perdido. Trata-se de um empréstimo que seria pago pela Fiemg e o Senai-MG, que dizem não dispor de recursos para tal.
Por isso, faz sentido a ideia que vem sendo defendida pelo reitor da Unifei de se buscar um novo modelo de governança, no qual a responsabilidade pelo pagamento do empréstimo deixaria de ser da Fiemg e do Senai-MG, para ser assumido por outro agente, que ele imagina possam ser, por exemplo, empresas privadas para as quais o laboratório seria de utilidade.
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