Finanças

A saúde e o mercado de capitais

A saúde e o mercado de capitais

Rafael Cordeiro*

Eles seguiam caminhos paralelos, com pouquíssimos encontros ao longo do tempo, sendo que mais recentemente começaram a se cruzar. O setor de saúde precisava do mercado de capitais e o mercado de capitais ficou mais completo e diversificado com a chegada das empresas de saúde na bolsa de valores.

Nesse jogo de palavras, quero dizerque precisamos de um mercado de capitais com saúde e robustez para ser um verdadeiro parceiro, e não apenas do nosso setor, mas da economia como um todo. As emissões de dívidas secaram e as ofertas de equity desapareceram. Num momento de juros altos e intensa rolagem de dívidas, os spreads dispararam e os prazos das dívidas encurtaram. Pressão em cima das empresas, foco no caixa e, consequente, adiamento dos investimentos. Corrida aos bancos para linhas de crédito direto, crédito esse que antes era equilibrado entre capital de giro e capex, passou a ser quase que exclusivamente destinado ao giro das empresas.

O brilho e destaque das empresas de saúde em seus IPOsserá sustentado, principalmente, pelo crescimento e potencial de consolidação do mercado, dada a pulverização e dispersão dos serviços nas diversas regiões do Brasil, e umabaixa penetração dos planos privados no total da população brasileira.

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Dentro das projeções realizadas, eram premissas do modelo a estabilidade econômica, o crescimento do PIB, os juros e inflação controlados. Como bem sabemos, isto não ocorreu, fruto tanto do desequilíbrio trazido pela pandemia quanto pelas instabilidades políticas do nosso país.

Além dessa visão macro, havia desafios estratégicos e operacionais para as empresas de saúde lograrem sucesso nessa jornada de companhia de capital aberto, assim como ocorreu com empresas de outros setores que conseguiram cruzar essa ponte anos atrás. Tomando como exemplo estes setores, algumas delas, infelizmente, ficam pelo caminho. Os motivos são diversos, mas uma característica é comum as que conseguem longevidade: consistência de bons resultados com disciplina de capital. Trabalho duro com foco no longo prazo.

Numa visão geral, o setor privado de saúde está passando por uma grande revolução. Seja pelo momento desafiador de buscar um equilíbrio econômico entre os diversos stakeholders de sua complexa cadeia, quanto pela sustentabilidade da estratégia de grandes grupos conseguirem manter seus resultados após o crescimento inorgânico nas diversas novas praças adentradas.

Historicamente, havia uma alternância de ganhos e perdas entre prestadores de serviços de saúde e fontes pagadoras (planos de saúde). Quando a sinistralidade aumentava, o pêndulo tendia favoravelmente aos prestadores e, quando diminuía o efeito, era exatamente contrário.

Hoje parece ser diferente. Todos tiveram reduções em seus resultados. Os motivos são diversos e os desafios são grandes pela frente. Os reajustes dos planos, durante essa corrida de crescimento, ficaram tímidos. Agora, vieram de forma a corrigir parte da perda. No entanto, os reajustes bem acima da inflação não são sustentáveis a longo prazo. Novos tratamentos, tão aguardados por todos, estão surgindo. Excelente por um lado, mas pressiona do outro. Precisamos de uma união e diálogo dos diversos stakeholders (incluindo Legislativo, Executivo e Judiciário) para acharmos uma solução. Tenho esperanças de que dias melhores virão.  

O setor privado de saúde é complementar ao sistema público e ambos funcionam como vasos comunicantes, sendo que uma diminuição de seu peso e importância gera automaticamente uma pressão no sistema público.

E o mercado de capitais já mostrou que apoia o setor e que conhece seus desafios, mas é necessário dar mais visibilidade, velocidade e clareza nas soluções para que mais que cruzar, os caminhos do setor de saúde e do mercado de capitais caminhem juntos.

Logo, como disse no início, a saúde precisa do mercado de capitais e o mercado de capitais precisa de saúde!

*CFO e Diretor de Relações com Investidores da Rede Mater Dei de Saúde e Diretor Vogal do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças de Minas Gerais (Ibef-MG)

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