Finanças

Alta da Selic prejudicará a recuperação da economia

Alta da Selic prejudicará a recuperação da economia
Crédito: Adriano Machado/Reuters

Brasília – O Banco Central subiu a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual pela terceira vez consecutiva, a 10,75% ao ano, em continuidade ao agressivo ciclo de aperto monetário implementado para conter a inflação, mas indicou uma redução no ritmo de ajuste na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março.

Em comunicado ontem, a autarquia revisou significativamente para cima sua projeção de inflação para este ano e passou a afirmar que o horizonte relevante para a política monetária é, “em maior grau”, o ano de 2023.

O BC manteve, no entanto, o posicionamento de que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista.

“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, disse.

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A intensidade da elevação veio em linha com a expectativa do mercado, de acordo com mediana da pesquisa Reuters. Dos 29 economistas consultados, 27 previram alta de 1,5 ponto, um apostou em 1,25 ponto, e outro estimou 1,00 ponto de elevação.

Com a decisão, o BC abre 2022 com o patamar da Selic 8,75 pontos percentuais acima da mínima histórica de 2% ao ano, nível atingido em meio à pandemia e que vigorou até março de 2021, numa tentativa de recolocar a inflação nos trilhos em meio à forte aceleração de preços na economia. É a primeira vez em quase quatro anos em meio que a taxa básica de juros fica em dois dígitos.

O BC afirmou que os indicadores de atividade econômica relativos ao quarto trimestre de 2021 vieram ligeiramente melhores do que o esperado, em particular o mercado de trabalho, mas ponderou que a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente.

“As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, disse, em referência aos núcleos de inflação, que desconsideram os preços mais voláteis.

Projeções – A autoridade monetária piorou suas projeções para o IPCA ontem, enxergando alta de 5,4% em 2022, acima do percentual de 4,7% calculado no último Copom e também acima do teto da meta de 3,50%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para 2023, a projeção está em 3,2%, mesmo patamar projetado no Copom de dezembro, abaixo da meta central de 3,25%.

Com a alteração, os cálculos da autoridade monetária ficaram mais alinhados aos traçadas pelos agentes econômicos no boletim Focus mais recente: IPCA estourando o teto da meta em 2022 (+5,38%) e ficando acima do alvo central em 2023 (+3,50%).

“O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023”, informou.

Decisão preocupa o setor produtivo em Minas

A continuidade na estratégia de elevação da taxa básica de juros traz preocupações para o setor produtivo em Minas Gerais. Isto se dá uma vez que a medida deverá afetar o ritmo de recuperação da economia.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) recebeu a decisão com preocupação. “É notório que o ritmo acelerado de aumento da taxa Selic prejudicará a recuperação da economia brasileira. Vale a pena ponderar a efetividade de uma política monetária tão restritiva para conter uma escalada de preços influenciada por fatores pouco ou nada sensíveis ao aumento dos juros.  Entre eles, vale citar a desestruturação das cadeias globais de suprimentos, a elevação de preços de commodities e a escassez hídrica”, afirmou a entidade em nota.

De acordo com a Fiemg, da mesma forma, há que se levar em consideração que os principais indicadores recentes de atividade evidenciam uma perda de ímpeto da atividade econômica. A taxa de desemprego segue em patamar historicamente elevado (11,6%), assim como o nível de endividamento das famílias.

“Isso posto, é interessante avaliar a abrangência do atual mandato do Banco Central. A estabilidade da moeda tem um papel crucial, especialmente em um país com tamanha desigualdade social. Em contrapartida, a estabilidade do emprego e da renda não deve ser desconsiderada na condução da política monetária, tal como ocorre em outros países, entre eles, os Estados Unidos”, concluiu.

Comércio – O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, destacou a necessidade da elevação como medida para estabilizar os preços em longo prazo, contudo, avaliou que o Banco Central deveria utilizar simultaneamente as políticas monetária e fiscal. “O foco no controle das contas públicas e contenção de despesas permitirá estabilidade econômica e maior garantia para a retomada do crescimento”, disse em nota.

Com um cenário pandêmico ainda persistente e, por consequência, incertezas no mercado, o aumento dos juros vai impactar negativamente o desempenho real da economia, apontou o presidente da CDL/BH.

“Como entidade representativa do setor de comércio e serviços, que sofre diretamente os impactos da Selic, esperamos que o governo tenha o cuidado de manter uma taxa que não retraia o crescimento econômico em longo prazo. Que seja capaz de controlar a inflação, garanta a recuperação da atividade econômica de forma sustentada, promova reformas estruturais, tenha zelo nos gastos públicos, faça revisão de despesas e trabalhe pelo desenvolvimento social”, disse.

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