Finanças

Alta do dólar exige cautela por parte de investidores

Especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio sugerem cautela, mas apontam também oportunidades
Alta do dólar exige cautela por parte de investidores
Foto: Adobe Stock

Na última semana, o dólar alcançou cotações recordes, chegando a bater R$ 6 pela primeira vez desde o início do Plano Real. A maior alta foi registrada na última quinta-feira (28) depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar o pacote fiscal e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

A desvalorização do real frente à moeda norte-americana ocorre em meio a um cenário de incertezas tanto no Brasil quanto no exterior. Especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio sugerem cautela por parte dos investidores, mas apontam também oportunidades.

Nos Estados Unidos (EUA), o Federal Reserve, o equivalente ao Banco Central no Brasil, sinalizou que os juros devem continuar caindo, porém de forma gradual, evidenciando medidas mais cautelosas. No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, para 11,25%, índice considerado apropriado conforme ata do comitê “diante das condições econômicas correntes e das incertezas prospectivas”.

Conforme pesquisa Focus, divulgada em meados de novembro, o mercado já eleva a projeção da taxa Selic para 12% em 2025 e espera inflação mais alta.

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Em meio a essas turbulências, a alta do dólar tem efeitos variados nos investimentos, desde o encarecimento das importações até o desempenho de empresas com receitas em moeda estrangeira. Por causa disso, a percepção de risco do mercado brasileiro aos olhos dos investidores internacionais, para o sócio da Equus Capital, Felipe Vasconcellos, deverá permanecer alta ao longo de 2025. Embora, para ele, não seja possível cravar um valor para o dólar no ano que vem, “está evidente que existem mais pressões negativas do que positivas”, analisa.

Para o especialista Virgílio Lage, as melhores opções para o investidor se proteger das oscilações da moeda americana são os investimentos em renda fixa atrelados à inflação. Outra opção sugerida por ele, é a dolarização do patrimônio juntamente com investimento em renda fixa estrangeira. “Esses dois produtos são as melhores opções para se proteger da alta do dólar atualmente”. 

Em consonância com Lage, o sócio da Valor Investimentos Gabriel Meira afirma que o Brasil é o paraíso dos rentistas. “A renda fixa predomina por aqui e, pelo visto, sempre vai predominar. Por isso, gostamos de ter um percentual muito grande na carteira dos clientes nessa opção”.

Meira explica que o dólar em alta possivelmente trará um pouco mais de inflação que beneficia os investimentos nessa modalidade. “A renda fixa e a pós-fixada são boas opções já que possuem menos volatilidade”, avalia. 

Abandonar os investimentos em bolsa não é a melhor opção

Apesar disso, o especialista não sugere o abandono dos investimentos em bolsa, mas ressalta que o investidor precisa estar ciente que é uma opção mais volátil. “As bolsas têm um grande problema que o brasileiro não está acostumado. É difícil você aguentar ver um papel caindo de 20% a 30% e segurá-lo. Mas ter um pouco de exposição à bolsa é positivo, principalmente nas empresas de grande porte com grande capacidade de receita, as blue chips”, afirma.

As blue chips, na visão de Meira, são as que terão mais entrada de capital quando o cenário estiver melhor. “Os gringos vão entrar majoritariamente ali e é o que deve subir primeiro”, aposta.

O  chefe-estrategista do Grupo Laatus, Jefferson Laatus comenta que, diante de um cenário doméstico de desequilíbrio fiscal e medidas que desincentivam o capital de longo prazo, “os investimentos no exterior tornam-se mais relevantes como estratégia de diversificação e proteção”.

Desvalorização do real frente ao dólar beneficia alguns setores

Por outro lado, o CEO da da Swiss Capital Invest, Alex Andrade, ressalta os impactos positivos. “A alta do dólar para além dos R$ 6 tem um impacto significativo em diversos setores, e a construção civil sente tanto os desafios quanto às oportunidades. De um lado, os custos de insumos atrelados ao câmbio aumentam, pressionando o orçamento de obras. Por outro, o mercado de imóveis atrai mais investidores estrangeiros, que veem no Brasil uma oportunidade de adquirir propriedades a preços competitivos em moeda estrangeira”, argumenta.

Para as empresas brasileiras, o câmbio elevado é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade na percepção do CEO da Equity Fund Group, João Kepler. Exportadoras se beneficiam, enquanto importadoras enfrentam maior pressão nos custos.

Dessa forma, ele sugere que os investidores precisam avaliar o impacto dessa volatilidade nas margens de lucro das empresas e buscar setores resilientes, como commodities e tecnologia. “O foco agora é construir portfólios equilibrados, atentos ao cenário global e à política econômica doméstica”, ressalta.

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