Finanças

Analistas seguem cautelosos com a B3

Incertezas tendem a estimular os aportes em opções de menor risco, mas, B3 pode ser boa oportunidade para investimentos a longo prazo
Analistas seguem cautelosos com a B3
Principal índice acionário do Brasil encerrou o último mês com uma retração de 5,05% | Crédito: Paulo Whitaker/Reuters

Em agosto, a maior aversão ao risco vinda do exterior – principalmente, pelos dados mais fracos do que esperado em relação à economia chinesa -, e o cenário político, pressionando os negócios no Brasil, impactaram o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, a B3. O resultado foi uma queda de 5,05% no mês, mas ainda mantendo o ganho de 5,51% no ano. O mês também foi marcado pela maior sequência de quedas consecutivas do índice na história. 

Para setembro, as estimativas são cautelosas, se por um lado as incertezas tendem estimular os aportes em opções de menor risco, por outro, o mês pode ser considerado de boas oportunidades para compras e investimentos a longo prazo na B3. 

O especialista da Valor Investimentos, Charo Alves, explica que a B3 performou nos últimos meses, mas teve uma correção de vários dias em sequência de queda em agosto. O movimento tende a causar mais receio no investidor. 

“A alta consolidada que a bolsa atingiu de 120.000 pontos ainda pesa para o investidor, que fica com receio de continuar comprando com o mesmo volume que aconteceu um pouco antes. Então, nesse momento, o mercado costuma rotacionar para realizar lucros em posições que subiram muito rápido e os investidores migram para empresas mais seguras”.

Entre os ramos que tendem a atrair os investidores estão as empresas de utilities, como as de energia, saneamento, empresas de commodities.

“A relação das empresas que tendem a receber fluxo neste mês, na minha opinião, é o setor de materiais básicos e o setor das utilities, que envolvem energia e saneamento. Então, Vale, Ultrapar, São Martinho, Petrobras, Itaúsa, fazem parte desse nicho de empresas, assim como a Copel, Cemig, Banco do Brasil. Acho que é uma rotação para nomes mais pesados, até para defender caso o Ibovespa venha a fazer uma correção, uma realização até técnica de lucros”.

Em relação ao desempenho da B3 em setembro, Alves explica que o cenário econômico é até positivo para a economia, mas as incertezas tendem a estimular os investimentos a irem para opções de menor risco.

“O maior desafio é manter a inflação nos patamares atuais. A expectativa, ainda assim, é muito positiva, porque os indicadores de inflação ainda sugerem que a gente vai ter uma sequência de cortes na taxa Selic para as próximas reuniões do Copom. Além disso, é esperado avanço das negociações para uma reforma tributária para poder casar com o arcabouço fiscal. As duas medidas trarão mais previsibilidade para o Brasil em relação às contas públicas”.

Apesar da expectativa econômica mais positiva, Alves acredita que a B3 não deve atrair muito os investidores. “Nesse momento, em relação ao investimento, a gente está vendo que o mercado pode migrar agora para segmentos mais consolidados”.

Investimento de oportunidade na B3

Em relação a novas oportunidades de investimentos, o assessor na iHUB Investimentos, Andrew Ramos, explica que, no momento, é importante olhar com mais atenção para a B3 que segue com valuation descontado, sendo assim, alguns setores se beneficiarão em detrimento de outros. 

“Tomando como principais características uma visão de longo prazo, diversificação setorial, valuation atraente em relação a seus pares, e ações que apresentem boas perspectivas de crescimento, o time de análise da XP sugere alguns papéis como os seguintes: ASAI3, GGBR4, SOMA3, IGTI11, ITUB4, RENT3, PETR4, PRIO3 e RAIL3”, disse.

Ramos explica ainda que, em agosto, o Ibovespa passou por uma fraca temporada de resultados, o que pressionou negativamente a performance das ações brasileiras. Somado a isso, estavam as taxas globais mais altas, o que levou a uma forte correção nas bolsas em todo o planeta.

“Ou seja, tivemos uma forte migração de fluxo. Com investidores retirando dinheiro do Brasil para países mais seguros como os Estados Unidos, devido ao atual momento de instabilidade, o que chamamos no mercado de Fly to Safe (voando para um local seguro), o que é muito comum”. 

Para Ramos, mesmo enfrentando desafios, o olhar é mais otimista para setembro. Segundo ele, existem catalisadores positivos para isso.

“Acreditamos que iniciaremos uma maior flexibilização monetária e retorno dos fluxos domésticos, ou seja, aumento da oferta de dinheiro que circula em nossa economia. Por último, o preço descontado das ações, que no atual momento estamos diante de um índice Preço/Lucro (P/L) do Ibovespa por volta de 8,1x em comparação a sua média histórica de 11x”, disse. 

Então, para Ramos, o momento é propício, sim, para aquele investidor que tem um apetite a risco. “Diversificando suas escolhas e evitando setores mais sensíveis neste momento de juros globais e empresas com maior exposição à China, por exemplo, minério de ferro que poderiam afetar facilmente seus retornos no curto prazo. Ressalto, no entanto, a importância de orientação de uma especialista”.

O assessor de investimentos na WIT Invest, Jean Martins Mainardi, explica que com as quedas acumuladas em agosto, o Ibovespa voltou a um patamar que não era visto desde o começo de junho (115.742 pontos).

 “A última vez que o índice tinha sido negociado perto da casa dos 116 mil pontos foi no pregão do dia 7 de junho, quando encerrou o dia cotado a 115.488,89 – na ocasião, essa era a máxima do ano”.

Para ele, isso não significa que a recuperação deve acontecer no mesmo ritmo do último rali. “O ciclo de cortes na taxa de juros brasileira, que era tido como o grande diferencial do semestre, já está em boa parte precificado no mercado e pode não ser suficiente para se contrapor ao cenário externo. É ele quem tem que melhorar para que o Ibovespa volte a subir”.

Mainardi explica ainda que, agora, é como se o Ibovespa tivesse dado um passo atrás há mais de dois meses. Porém, o cenário, apesar de negativo, também pode ser entendido como uma oportunidade para montar posições na Bolsa antes que as altas voltem a acontecer, como espera grande parte do mercado.

“Em termos de múltiplos, o Ibovespa e muitos setores importantes da B3 continuam descontados, o que indica que há espaço para a retomada das valorizações daqui para frente”.

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