Banco Central surpreende e aumenta taxa de juros em 0,75

Brasília – O Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual para 2,75%, no primeiro aperto monetário em quase seis anos, que veio acima do esperado pelo mercado.
Em comunicado divulgado ao fim da sua reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que “uma estratégia de ajuste mais célere do grau de estímulo tem como benefício reduzir a probabilidade de não cumprimento da meta para a inflação deste ano, assim como manter a ancoragem das expectativas para horizontes mais longos”.
“Além disso, o amplo conjunto de informações disponíveis para o Copom sugere que essa estratégia é compatível com o cumprimento da meta em 2022, mesmo em um cenário de aumento temporário do isolamento social”.
A alta da Selic anunciada ontem superou a expectativa do mercado, que apontava para um aperto de 0,50 pontos-base, segundo 29 de 30 especialistas consultados em pesquisa Reuters.
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A alta dos juros ocorre em meio à escalada da inflação – que em 12 meses já está próxima do teto da meta para o ano de 5,25% –, à fraca atividade e à desvalorização contínua do câmbio, em um cenário de forte recrudescimento da pandemia da Covid-19 no País.
O Copom havia elevado os juros pela última vez no final de julho de 2015, quando a Selic passou de 13,75% para 14,25%. Naquele ano, a inflação fechou o ano acima dos 10%, superando o teto da meta do governo (6,5%), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 3,55%, cenário que economistas caracterizavam como de “estagflação”.
Indústria – A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) comunicou que recebe com grande preocupação a decisão do Copom de aumento da taxa Selic para 2,75% ao ano, neste momento de agravamento da pandemia de Covid-19 e de escalada das incertezas econômicas em todo o País.
“Reconhecemos que a decisão do Copom é orientada pelo controle da inflação. Contudo, a economia brasileira ainda convive com elevado grau de ociosidade, sobretudo no setor de serviços, e com tendência de piora do mercado de trabalho”, justificou.
Para a entidade, o processo de recuperação da economia ainda é parcial e desigual entre os setores, com viés de desaceleração. Enquanto a indústria apresenta sinais de recuperação, o setor de serviços é impactado negativamente pelas medidas de distanciamento social para a contenção da pandemia, com seu crescimento condicionado ao avanço da vacinação e ao arrefecimento no número de casos.
Segundo a Fiemg, a taxa de desemprego ainda se encontra em nível historicamente elevado no Brasil, totalizando 14,2 milhões de pessoas desocupadas. A recuperação incompleta também está evidenciada na queda da confiança dos empresários, reflexo da incerteza com relação à economia nos próximos meses.
“Quanto aos riscos inflacionários, é consensual que a trajetória levemente ascendente do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em relação à meta de inflação para 2021, tem caráter transitório. O avanço da inflação está fundamentado na escalada de preços dos alimentos e na desvalorização do real perante o dólar. Nesse cenário, é evidente que a retirada do estímulo monetário, via aumento da taxa de juros, é mais um componente a prejudicar o frágil processo de recuperação da economia brasileira”, concluiu em nota. (com informações da Reuters)
Entidades não avaliam bem o cenário
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, a elevação da Selic em 0,75 ponto percentual para 2,75%, chega como má notícia para um mercado de trabalho e uma economia que vivem um conturbado momento.
“O cenário é extremamente delicado com o agravamento da pandemia, uma campanha de vacinação lenta e um desaquecimento econômico. Outra realidade que estamos vivenciando é a aceleração da inflação, resultado da queda da atividade econômica e desemprego elevado”, justificou por meio de nota.
Segundo o dirigente, o aumento dos juros com o propósito de conter a inflação acaba refletindo no consumo.
“Acredito que a elevação da taxa Selic foi precipitada. Ao contrário do que a ansiedade pede, o momento é de cautela. Aumentar os juros neste momento só irá prejudicar a retomada da economia. O foco do governo federal deveria ser a criação de um ambiente econômico confiável, com uma campanha de vacinação eficaz, política distributiva de renda, reformas estruturais e, especialmente, responsabilidade fiscal para atrair investimentos diretos que ajudarão a gerar emprego e renda”.
ACMinas – O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), José Anchieta da Silva, diz que o cenário não é positivo: a elevação da Selic e IPCA no futuro próximo, aliada ao agravamento da pandemia, piorou as expectativas de três meses.
“Ressaltamos aos associados a importância de se cobrar do governo brasileiro (nas esferas municipal, estadual e federal) medidas que amenizem a situação de vulnerabilidade dos cidadãos de baixa renda e dos micro e pequeno empresários. Entre elas, a urgente implementação do auxílio emergencial e maior acesso a crédito para os empresários mais afetados pelas medidas de restrição à circulação. É fundamental acelerarmos o programa de vacinação no País. Esta é a única solução para a pandemia. Precisamos, como sociedade, deixar claro quais são as nossas prioridades, para que possamos voltar à situação de normalidade o mais breve possível”, afirmou.
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