Finanças

Banco Central tem ferramentas para perseguir meta de inflação

Durante evento na Fiesp, o presidente do Banco Central afirma que o “remédio” do aumento dos juros básicos vai funcionar
Banco Central tem ferramentas para perseguir meta de inflação
Galípolo aponta pressão nos preços com incerteza sobre tarifas dos EUA | Crédito: Adriano Machado / Reuters

São Paulo – O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse na sexta-feira (14) que a autoridade monetária tem as ferramentas para perseguir a meta de inflação, ressaltando que o “remédio” dos juros básicos vai funcionar.

Durante evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (Iedi), em São Paulo, Galípolo disse que o BC se moveu para colocar a taxa básica Selic em patamar restritivo, para conter a inflação.

“O mandato do BC é colocar os juros em patamar restritivo suficiente para colocar a inflação na meta”, afirmou Galípolo. “O remédio vai funcionar, o BC tem ferramentas para perseguir a meta”, acrescentou.

No relatório Focus, a projeção mediana do mercado para a inflação para 2025 está em 5,58% e para 2026 em 4,30% – em ambos os casos distantes do centro da meta contínua de inflação do BC, de 3%.

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Para segurar a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou em janeiro a Selic em 100 pontos-base, para 13,25% ao ano, e indicou a intenção de promover novo aumento da mesma magnitude em março, sem se comprometer para a decisão seguinte, de maio. No mercado, existe hoje a percepção de que o BC pode reduzir o ritmo de aumentos da Selic em função da atividade econômica.

Números recentes têm sugerido que pode estar em curso uma desaceleração da atividade no Brasil. Na última terça-feira (11), dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram surpresas positivas no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação, de janeiro, com desaceleração em núcleos e serviços subjacentes. Na quarta-feira (12) números mostraram retração do setor de serviços em dezembro e na quinta revelaram uma queda inesperada do varejo no mesmo mês.

Ao analisar esta questão, Galípolo pontuou que o BC espera que a política monetária faça efeito primeiro sobre a atividade econômica e depois na inflação. Ao mesmo tempo, ele defendeu cautela na reação do BC.

“É importante que BC tenha tempo necessário para consumir dados e ter clareza para ver se não estamos assistindo apenas uma volatilidade ou se estamos observando uma tendência”, afirmou.

Questionado durante o evento a respeito do risco de dominância fiscal no Brasil – situação na qual o desequilíbrio das contas públicas torna ineficaz elevar juros para segurar a inflação – , Galípolo pontuou que a posição majoritária por parte dos agentes econômicos é de que a política monetária “vai dar conta” da tarefa.

Em outro momento, Galípolo reforçou que o BC está “bastante incomodado” com o fato de a inflação estar fora da meta.

“O BC não vai poupar nenhum esforço para cumprir esta meta”, afirmou, acrescentando que a instituição não vai se desviar de seu mandato de controle da inflação.

Efeito cambial

A transmissão dos movimentos do câmbio para a inflação – conhecido como pass through – depende do nível de aquecimento da economia e da persistência de um eventual movimento de depreciação da moeda, disse o presidente do Banco Central. “Os modelos têm dispersão considerável sobre o que se espera de transmissão do câmbio para a inflação. A transmissão do câmbio (para a inflação) depende muito de o quão aquecida está a atividade e se o movimento de depreciação é contínuo”, ponderou.

Galípolo pontuou que a mudança na precificação do mercado sobre a política monetária dos Estados Unidos afetou significativamente a taxa de câmbio no Brasil.

Desde o início do ano, o dólar à vista já recuou mais de 7% em relação ao real, em sintonia com a queda da moeda norte-americana e das taxas dos Treasuries no exterior.

Na visão de Galípolo, o mercado tentou antecipar no ano passado a adoção de tarifas de importação pelo novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, o que impulsionou os preços. Segundo ele, a confirmação de “algo mais brando” em matéria de tarifas este ano atua para retirar prêmios das cotações. “Ainda estamos tentando entender medidas efetivas que vão ser feitas nos EUA e as repercussões”, afirmou Galípolo.

Ele apontou que a não implementação imediata das tarifas originalmente prometidas por Trump gerou alívio nos agentes de mercado. “Não se trata de dizer que é melhor com tarifa, ao contrário, é dizer que existe um prêmio considerável de incerteza sobre qual vai ser a política e quais serão os impactos. Essa incerteza, em função de ocorrer ou não ocorrer, tem influenciado o preço dos ativos”, disse.

Galípolo afirmou ainda que a nova política tarifária dos EUA pode afetar o Brasil em menor intensidade na comparação com outros atores, como o México, por conta da menor conexão comercial que o País tem com a economia norte-americana.

Reportagem distribuída pela Reuters

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