Finanças

BB projeta melhora na inadimplência do agronegócio

Banco estatal espera um ponto de inflexão no início do próximo ano; lucro caiu mais de 60% no terceiro trimestre
BB projeta melhora na inadimplência do agronegócio
Medida provisória deve contribuir para redução da inadimplência no agronegócio | Foto: Adriano Machado / Reuters

Brasília – O Banco do Brasil espera um ponto de inflexão na inadimplência do agronegócio a partir do começo do próximo ano, na esteira de uma série de ajustes e medidas que vêm sendo adotadas para tratar um dos principais detratores dos resultados do banco nos últimos trimestres.

“Pretendemos mostrar já uma inflexão a partir do primeiro trimestre de 2026”, afirmou o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB, Felipe Prince, em teleconferência com analistas sobre os resultados do terceiro trimestre, em que o banco sofreu queda de 60% no lucro na base anual.

O executivo citou que outubro ainda foi um mês em que a inadimplência pressionou bastante, em parte pela espera de produtores pelos desdobramentos envolvendo a Medida Provisória 1.314, que estabelece regras especiais para renegociação de dívidas, mas ressaltou que essa “solução estruturada está aí”.

“Temos uma ambição muito forte de regularizar o máximo de saldo inadimplente possível. Pretendemos entregar um arrefecimento dessa inadimplência, até porque o fluxo de vencimentos no quarto trimestre é menor”, acrescentou Prince.

A presidente-executiva do BB, Tarciana Medeiros, destacou os resultados da linha BB Regulariza Agro, que alcançou R$ 5,9 bilhões renegociados sob a MP 1.314/25, que estabelece regras especiais para produtores rurais liquidarem e amortizarem operações de custeio, investimento e CPR.

Desse total, R$ 5,4 bilhões são referentes a operações com recursos livres e R$ 448 milhões a operações com fontes supervisionadas. Medeiros também citou que há R$ 11,4 bilhões em empréstimos sob análise com recursos livres e R$ 721 milhões de fontes supervisionadas.

Além do balanço do terceiro trimestre, o BB também divulgou, na véspera, corte na previsão de lucro líquido ajustado para 2025 e calcula agora que a última linha do resultado fique em um intervalo de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões, contra estimativa anterior de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões.

ROE e PF

Em entrevista a jornalistas, Medeiros reforçou que 2025 é um ano de ajustes e que, em 2026, o banco pretende retomar o crescimento da rentabilidade.

No terceiro trimestre, o retorno sobre patrimônio líquido do BB ficou em 8,4%, estável ante o trimestre anterior, mas bem abaixo dos 21,1% apurados um ano antes. No acumulado dos primeiros nove meses de 2025, o índice está em 11,2%, contra 21,5% no mesmo período de 2024.

De acordo com o vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores, Geovanne Tobias, o banco espera encerrar o ano com retorno sobre patrimônio de “dígito duplo baixo” e, em 2026, buscar um resultado midteens (dígito duplo médio). Em 2024, o ROE do BB foi de 21,4%.

Um dos componentes para essa recuperação, segundo os executivos do banco, deve vir do crescimento da carteira de crédito pessoa física, onde há oportunidades em linhas como o consignado público e, principalmente, no crédito do trabalhador, modalidade na qual já desembolsou R$ 11 bilhões.

“O foco do nosso crescimento (em crédito) será principalmente em pessoas físicas”, afirmou o vice-presidente financeiro, destacando um cenário mais benigno para o ano que vem, com a redução da taxa de juros, mais reajustes salariais e ganho financeiro de parte dos clientes com a reforma tributária.

A presidente do BB ressaltou, contudo, que o fato de o banco querer crescer mais na carteira de pessoas físicas não significa que não vai emprestar para o agro ou para pessoa jurídica. No caso do agro, a expectativa é de que permaneça ao redor de R$ 400 bilhões.

Tobias também afirmou que o banco continuará com a política de payout de 30% ao longo do ano que vem, mas não descartou uma distribuição de dividendos extraordinários a depender dos resultados, destacando também que se trata de decisão do conselho de administração do BB.

“Na medida em que as renegociações surtam efeito, vamos ter uma redução do risco médio da nossa carteira, permitindo gerar mais resultados e, a depender desse equilíbrio entre geração de resultados maiores com o índice de capital, vamos avaliar se, potencialmente, no final do ano de 2026, podemos ou não remunerar nossos acionistas com um dividendo extraordinário.

Reportagem distribuída pela Reuters

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