Finanças

BC deve ser mais agressivo com os juros

Gastos sociais do governo e inflação devem forçar a autoridade monetária a intensificar o aperto na taxa Selic
BC deve ser mais agressivo com os juros
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

São Paulo – As medidas do governo para aumentar os gastos sociais às vésperas das eleições tendem a colocar uma pressão adicional sobre a inflação, em um cenário no qual o processo de alta dos preços em escala global também tem influenciado a dinâmica inflacionária local.

Nesse cenário, economistas avaliam que os reflexos das políticas adotadas pelo governo Bolsonaro na inflação de médio prazo devem forçar o Banco Central (BC) a ter de ser ainda mais agressivo na condução da política monetária.

Desde março de 2021, a autoridade monetária já elevou a taxa Selic da mínima histórica de 2% ao ano para os atuais 13,25%. E, no boletim Focus, a estimativa mediana dos economistas indica mais uma alta de 0,50 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje e amanhã, com a taxa básica de juros em 13,75% em dezembro de 2022, recuando para 10,75% até o final de 2023.

No entanto, a política fiscal expansionista, bem como as dúvidas que pairam acerca da condução da economia a partir de 2023, faz com que um número cada vez maior de agentes econômicos passe a apostar que o BC tenha de ser ainda mais duro no processo de ajuste nos juros.

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Seja com mais aumentos do que o previsto pelo consenso de mercado na Selic, seja com a manutenção da taxa em patamares elevados por mais tempo do que o esperado.

Economista-chefe da Itaú Asset, Thomas Wu projeta que a taxa Selic irá alcançar os 13,75% ao final do atual ciclo de alta dos juros. Mas, diferentemente dos pares, avalia que dificilmente a autoridade monetária terá espaço para promover alguma redução da Selic em 2023.

Wu afirma que o aumento dos gastos pelo governo para ajudar as classes menos favorecidas faz sentido, tendo em vista os choques de preços no Brasil e no exterior, e a pressão causada em itens básicos de consumo, como alimentação e energia. “Vários países estão fazendo alguma política fiscal que protege os mais vulneráveis”, diz.

A medida, contudo, faz com que a inflação esperada à frente seja mais alta, o que deve impedir que o BC dê início ao processo de afrouxamento da política monetária a partir do ano que vem, afirma o economista-chefe da Itaú Asset.

Ele projeta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplon (IPCA) em 7,7% para 2022, e em 5,5% para 2023, ambas as projeções estão bem acima da meta de inflação a ser perseguida pelo BC, de 3,5% e 3,25%, respectivamente. “Dificilmente o BC vai ter espaço para corte de juros em 2023.”

No último dia 25, o Citi revisou, de 9,50% para 10,50%, a estimativa para a taxa Selic no final de 2023. Já para 2022, a projeção foi mantida em 13,75%.

Embora iniciativas recentes de redução de impostos estejam reduzindo os preços no curto prazo, as perspectivas de médio prazo para a inflação se deterioraram ainda mais, já que as medidas de alívio são apenas temporárias, aponta o Citi em relatório.”A inflação persistente, os estímulos fiscais adicionais e uma atividade mais forte indicam uma taxa Selic de dois dígitos por mais tempo”, diz o banco americano.

Ainda segundo os economistas do Citi, a contínua deterioração das condições econômicas globais tende a manter o real na recente trajetória de desvalorização frente ao dólar. O Citi projeta a taxa de câmbio em R$ 5,42 no final do ano.

A apreciação do dólar, por sua vez, tende a inflar uma inflação que já se encontra em patamares bastante elevados no Brasil, uma vez que, com a moeda americana mais cara, os produtos que o país importa dos Estados Unidos automaticamente também sobem de preço.

Em 14 de julho, um dia depois de a Câmara ter aprovado a PEC dos Benefícios, o Santander aumentou, de 13,50% para 14,25%, a projeção para a taxa Selic no final de 2022, e de 10,50% para 12%, em dezembro de 2023.

Ajuste

Segundo o banco, o aumento nas expectativas de inflação para o próximo ano desde a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), junto a uma deterioração no balanço de riscos, com os novos impulsos fiscais, foram os principais motivadores que levaram à revisão. Números considerados fortes de emprego também foram citados entre os motivos para o ajuste.

“Estes fatores geram risco importante para o cenário de desaceleração da atividade econômica antecipado pelo BC para o segundo semestre de 2022 -o que entendemos como condição estritamente necessária para a rápida desinflação projetada pelos modelos da autoridade”, disse o Santander em relatório assinado pela economista-chefe do banco e ex-secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi.

Ainda de acordo com a avaliação do banco espanhol, o BC deve evitar um pico ainda mais acentuado dos juros no ciclo atual, mas mantendo as taxas mais altas por mais tempo. “Ainda assim, identificamos a necessidade de um aperto adicional na taxa Selic para que o BC possa trazer a inflação para mais perto do centro da meta em 2023.”

Também na esteira da aprovação da PEC, o Credit Suisse revisou no dia 13 de julho, de 13,75% para 14,25%, a projeção para a taxa Selic no final deste ano. Para 2023, a estimativa também subiu, de 10,75% para 11,25%.

A inflação elevada e disseminada em diversos setores da economia e as estimativas crescentes para o IPCA no ano que vem foram citados pelo Credit Suisse entre os motivos que embasaram as revisões. A deterioração do quadro fiscal e um desempenho melhor do que o esperado para a economia neste ano também contribuíram para a visão do Credit Suisse quanto à necessidade de um aperto mais agressivo pelo BC. (Lucas Bombana)

Previsão do IPCA para 2022 cai para 7,15%

Brasília – A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do País, caiu de 7,30% para 7,15% neste ano. É a quinta redução consecutiva da projeção. A estimativa está no Boletim Focus de ontem, pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), com a expectativa de instituições para os principais indicadores econômicos. Para 2023, a estimativa de inflação ficou em 5,33%. Para 2024 e 2025, as previsões são de 3,3% e 3%, respectivamente.

A previsão para 2022 está acima da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,5% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%.

Em junho, a inflação subiu 0,67%, após a variação de 0,47% registrada em maio. Com o resultado, o IPCA acumula alta de 5,49%, no ano, e 11,89%, em 12 meses.

Os dados de julho devem ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no próximo dia 9, mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial, registrou inflação de 0,13% no mês passado, menor que a de junho (0,69%).

Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, definida em 13,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para a próxima reunião do órgão, que acontece hoje e amanhã, o Copom já sinalizou que pode elevar a Selic em mais 0,5 ponto percentual.

Para o mercado financeiro, a expectativa é de que a Selic suba, neste mês, para 13,75% ao ano, em linha com a sinalização do BC, e encerre o ano nesse patamar. Para o fim de 2023, a estimativa é de que a taxa básica caia para 11% ao ano. E para 2024 e 2025, a previsão é de Selic em 8% ao ano e 7,5% ao ano, respectivamente.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Além da taxa Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

Quando o Copom reduz a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

PIB

As instituições financeiras consultadas pelo BC elevaram a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano de 1,93% para 1,97%. Para 2023, a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – é de crescimento de 0,4%. Em 2024 e 2025, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 1,7% e 2%, respectivamente.

A expectativa para a cotação do dólar manteve-se em R$ 5,20 para o final deste ano. Para o fim de 2023, a previsão é de que a moeda americana também fique nesse mesmo patamar. (ABr)

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