Finanças

BC mantém Selic em 15% e enfatiza necessidade de manutenção da taxa por período prolongado

O BC decidiu nesta quarta-feira interromper o ciclo de alta nos juros básicos ao manter a Selic em 15,00%
Atualizado em 30 de julho de 2025 • 20:06
BC mantém Selic em 15% e enfatiza necessidade de manutenção da taxa por período prolongado
Créditos: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – O Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (30) interromper o ciclo de alta nos juros básicos ao manter a Selic em 15% ao ano e ressaltou que antecipa uma manutenção da taxa por período bastante prolongado, também pregando cautela diante de incertezas geradas pela tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC informou que a decisão, tomada por unanimidade de sua diretoria, tem o objetivo de examinar os impactos acumulados do ajuste já feito e então avaliar se o nível dos juros, “considerando a sua manutenção por período bastante prolongado”, é suficiente para que a inflação convirja para a meta.

“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, disse a autarquia no comunicado.

Para justificar a necessidade de juros nesse patamar por período bastante prolongado, o BC citou expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho.

O Copom também reforçou mensagem já apresentada em junho de que acompanha como a política fiscal impacta a política monetária e os ativos financeiros.

Na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa o comunicado foi neutro e manteve linguagem mais dura herdada da reunião de junho, com reforço à expectativa de manutenção da Selic por período longo. Para ele, o ciclo de queda dos juros deve começar em dezembro.

Já para Roberto Padovani, economista-chefe do BV, a autarquia é “bastante cautelosa” no comunicado, o que é compatível com a visão do banco de que a taxa básica possa permanecer em 15% até o final do primeiro trimestre de 2026.

Tarifas dos EUA

No documento, o BC avaliou que o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que impacta o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos, afetando as condições financeiras globais.

“O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”, afirmou o Copom no comunicado, divulgado poucas horas após o presidente dos EUA, Donald Trump, elevar a 50% a tarifa de importação sobre boa parte dos produtos comprados do Brasil.

Com a decisão desta quarta, o BC interrompe o ciclo de alta nos juros após sete elevações consecutivas que levaram a Selic ao patamar mais alto em 20 anos.

A decisão veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual todos os 30 economistas entrevistados de 21 a 25 de julho projetavam que o BC manteria a Selic em 15% neste mês.

No comunicado, a autarquia disse que indicadores de atividade econômica doméstica têm apresentado certa moderação no crescimento, como esperado, mas ainda com mercado de trabalho dinâmico.

Nesta quarta, o BC manteve sua projeção de inflação para este ano em relação a junho, em 4,9%, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o fechamento de 2026 a projeção foi mantida em 3,6%. Já no primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante da política monetária, a previsão ficou em 3,4%.

Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$5,55, abaixo dos R$5,60 usados na reunião de junho.

As expectativas de mercado para os preços seguem desancoradas, apesar de ligeira melhora recente. A previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus caiu de 5,25% antes do encontro do Copom em junho para 5,09% nesta semana. Para 2026, as expectativas baixaram de 4,50% para 4,44% –o dado ficou inalterado em 4,00% para 2027.

O centro da meta contínua para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

No comunicado, a autoridade monetária não alterou seu balanço de riscos para a trajetória da inflação, apontando que tanto os riscos de alta quanto os de baixa seguem mais elevados do que o usual.

Desde que indicou em junho que interromperia neste mês o ciclo de aperto monetário, a diretoria do BC vem enfatizando a comunicação oficial do órgão de que está comprometida com a busca da meta de inflação e que o objetivo será alcançado por meio da manutenção da Selic em 15% por período bastante prolongado.

Conteúdo distribuído por Reuters

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