Finanças

BC pode voltar a aumentar a Selic se for necessário

Apesar da tendência de manutenção da taxa básica de juros em 15% por um período prolongado, diretor do Banco Central alerta para cenário de incerteza
BC pode voltar a aumentar a Selic se for necessário
O BC aposta em um longo período de estabilidade da taxa de juros para atingir a meta de inflação | Foto: Adriano Machado / Reuters

São Paulo – O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton José David, afirmou nesta quinta-feira (9) que a instituição não terá “nenhum problema” em subir novamente a Selic se necessário, mas reiterou a mensagem de manutenção da taxa básica em 15% por um período prolongado.

Em participação em evento da Câmara Espanhola, em São Paulo, David afirmou que o ciclo de política monetária atual está diferente de outros ciclos, citando o nível de incerteza “bastante maior”.

“Neste cenário de incerteza, a condução da política monetária que se requer é algo mais restritivo do que se teria em outros casos”, pontuou David, acrescentando: “Se houver alguma alteração do curso, não teremos nenhum problema em ou subir, ou ajustar”, ressaltou.

David afirmou ainda que a decisão tomada pelo BC de interromper as elevações da Selic demanda um período mais prolongado de estabilidade da taxa básica, para que a inflação seja trazida à meta.
“Esse ‘bastante’ (prolongado) é basicamente o trade-off de não termos ido além dos 15%”, disse David.
O centro da meta contínua de inflação do Banco Central é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta quinta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), o índice oficial de inflação, subiu 0,48% em setembro, abaixo do 0,52% projetado por economistas consultados pela Reuters. Em 12 meses até setembro a inflação atingiu 5,17%, ante projeção de 5,22%.

Moderação

Ao avaliar o cenário atual, David lembrou que o Brasil passou por quatro anos de crescimento econômico “bastante robusto” e “além do esperado” e que a atividade ainda está acima do potencial, mas que o BC espera que haja alguma moderação.

“O cenário prospectivo é de arrefecimento deste crescimento, o suficiente para trazer a inflação para a meta”, disse David, acrescentando que a inflação está “razoavelmente contida”, ainda que acima do intervalo de tolerância da meta.

O diretor defendeu ainda que a decisão de julho de interromper o processo de elevações da Selic – em um momento em que muitos agentes ainda enxergavam a necessidade de mais altas até que as expectativas de inflação caíssem mais – foi “muito bem aceita” pelo mercado.

Em outro momento, o diretor lembrou que as expectativas de inflação do mercado no relatório Focus trazem informações não consideradas pelo BC em suas projeções, como alterações do cenário fiscal e a movimentação da política comercial norte-americana.

David afirmou que o BC não quer “correr o risco de reagir a ruídos” e que não vai “colocar volatilidade no mercado”.

Valorização do real frente ao dólar é significativa, afirma David

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton José David, avaliou nesta quinta que metade do ganho de valor do real este ano se deve à valorização da própria moeda brasileira, enquanto a outra metade se deve ao enfraquecimento do dólar.

Desde o início de 2025 o dólar acumula queda de cerca de 13% ante o real, acompanhando um movimento mais amplo visto também em outras praças, de recuo da moeda norte-americana ante divisas de países emergentes. No ano passado, o dólar havia subido 27% ante o real.

“A valorização do real deste ano vem metade da valorização do real per se e metade do enfraquecimento do dólar”, disse David durante evento da Câmara Espanhola, em São Paulo, acrescentando que o dólar está atualmente no mesmo nível de 15 meses atrás. “Houve um ruído de volatilidade e um retorno”, observou.

David afirmou ainda que as reservas internacionais do Brasil estão em nível “bastante razoável” e que isso não lhe “tira o sono”.

“As reservas cresceram quase 10% este ano, por rentabilidade. Não compramos dólares”, lembrou David. “Elas são reservas para o caso de necessidades.”

O diretor do BC citou ainda uma característica do mercado de câmbio brasileiro, que tem mais de 90% da liquidez concentrada nos derivativos, contra cerca de 10% do segmento spot (à vista) – ao contrário do que se vê em outros países, que concentram cerca de 50% em cada um dos segmentos.

Além disso, David ponderou que os canais de comunicação entre os mercados spot e de derivativos cambiais no Brasil são “razoavelmente estreitos”.

Por conta disso, segundo ele, quando ocorre alguma disfuncionalidade no mercado de câmbio, atuar no spot não é o mais eficiente.

De fato, historicamente, esta característica do mercado brasileiro tem levado o BC a atuar mais por meio de swaps cambiais – um tipo de derivativo que influencia os preços no mercado futuro de dólar – do que por meio da venda direta da moeda norte-americana.

Questionado se, em função das características do mercado brasileiro, ele observa principalmente as reservas brutas ou as reservas líquidas (com o desconto da posição do BC em swaps), David defendeu que “o mundo de swap é apartado das reservas”.

Os dados mais recentes do BC mostram que as reservas internacionais somam cerca de US$357 bilhões atualmente, contra US$330 bilhões do fim de 2024.

Reportagem distribuída pela Reuters

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