BC se antecipa para evitar mais restrição em 2022

São Paulo – O Banco Central (BC) endureceu o tom e entregou o esperado aumento de 1 ponto percentual dos juros na quarta-feira à noite, mas sem chancelar visões de uma Selic muito acima do patamar neutro, numa tentativa de circunscrever as altas da taxa a 2021 e evitar mais restrição monetária ao longo de um 2022 com potenciais vetores de instabilidade.
O BC reagiu aos choques recentes no cenário inflacionário – entre os quais crise hídrica, aumento da tarifa da bandeira vermelha 2 de energia elétrica e problemas de safra por geadas em boa parte do Centro-Sul do País.
Esse combo forçou uma elevação das perspectivas de inflação para 2022 acima da meta e fez ligar o sinal de alerta entre os dirigentes do BC, especialmente porque a deterioração das expectativas para os preços deslocou acentuadamente para cima as previsões para a Selic para este ano e o próximo.
Algumas casas – como BNP Paribas e UBS BB – passaram recentemente a ver taxa acima de 8% até dezembro, quatro vezes o patamar do começo de março. E quem enxerga juro abaixo desse nível não deixa de ressalvar que o viés é de alta.
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Boa parte do mercado já vê taxa de juros entre 7% e 7,5% no fim deste ano e no próximo. O que o BC quer é evitar que essas projeções continuem subindo de forma mais espraiada e se distanciem excessivamente do nível neutro (que não estimula nem contrai a economia), atualmente em torno de 6,5%.
“A ancoragem das expectativas (de inflação) agora é muito importante, e vale lembrar que ano que vem é ano de eleição. Os BCs tendem a ser mais ‘pacíficos’, querer mexer menos na taxa de juros, em períodos assim”, disse Renato Iversson, gestor da Taler Gestão de Patrimônio.
Minar a deterioração das expectativas também é crucial neste momento dado o debate cada vez mais aquecido no exterior de redução de estímulos provavelmente em 2022.
Mercados emergentes – Enquanto nos Estados Unidos seguem as discussões entre membros do banco central de lá, o Federal Reserve, sobre quando cortar compras de ativos, em mercados emergentes as altas de juros parecem estar apenas no início e devem acelerar no ano que vem.
México, República Tcheca e Hungria elevaram recentemente os custos dos empréstimos pela primeira vez em anos, enquanto a Rússia surpreendeu ao elevar de uma tacada só o juro local na mesma medida de 1 ponto percentual dada pelo BC na véspera.
Deixar correr uma piora na expectativa poderia forçar alta de juros mais aguda posteriormente, o que reduziria a margem para a política monetária acomodar choques e pressionaria uma economia que em 2022 já deve se mostrar menos vibrante.
“Pode haver um revés para a atividade se o cenário pior se concretizar, (possibilidade) de ter de precisar subir os juros muito mais”, afirmou Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset. “Mas acho que o BC está monitorando bem os riscos, o que evitaria uma taxa muito mais alta que pudesse bater mais na economia”.
Reforçando a tese de que o Copom buscou um hedge para evitar mais pressão nas projeções, analistas lembram que a inflação anual deve bater o pico em agosto e que o cenário básico do colegiado para os preços contempla fatores de risco em ambas as direções.
“Talvez o BC no fim nem precise subir os juros acima do neutro, tanto que ele citou riscos de baixa à inflação, como queda das commodities e uma apreciação do real”, disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex Bank. “Dizer agora que pode ir acima do neutro talvez permita ao BC não chegar até lá”, completou.
Após o comunicado do Copom, a XP até passou a ver Selic de 7,25% ao fim deste ano (de 6,75% antes), mas ressalvou que esse número já está próximo dos que atualmente servem de parâmetro para o cálculo da inflação esperada.
Todavia, domar as expectativas do mercado para os preços e, por tabela, para os juros, pode se mostrar uma tarefa mais árdua mesmo com uma retórica mais hawkish.
Também na noite de quarta, o Credit Suisse elevou a 8,25% a estimativa para a Selic ao fim de dezembro – antes previa taxa de 7,25%. O banco lembrou que sua avaliação sobre a inflação tem sido “muito menos benigna” que a do BC e que as previsões para as altas dos preços seguem em patamares mais elevados. (Reuters)
IED não deve avançar mais que 5% na AL
Santiago – O crescimento do investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina e no Caribe não deve chegar a mais de 5% neste ano, já que as economias da região ainda sofrem com a pandemia de coronavírus, disse uma agência das Nações Unidas ontem.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) já havia dito no início de julho que o Produto Interno Bruto (PIB) da região não retornaria nem mesmo aos níveis de 2019, sugerindo um longo caminho pela frente para reverter o impacto da pandemia.
“Nesse cenário, é difícil esperar que os ingressos de IED na região aumentem mais de 5%”, disse a Cepal em relatório ontem.
O investimento estrangeiro direto atingiu US$ 105 bilhões em 2020, queda de US$ 56 bilhões em relação a 2019.
“A crise provocada pela pandemia, além de aprofundar a tendência de queda das fusões e aquisições, teve um forte efeito nos anúncios de novos investimentos”, afirma o relatório.
O número de mortes pela Covid-19 na região é desproporcionalmente grande frente a sua população, e a maioria dos países da América Latina sofre com maiores lacunas nos níveis de vacinação em relação a países desenvolvidos, disse a agência. (Reuters)
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