Brasil e China devem operar sem o uso do dólar em julho

São Paulo – Primeira instituição credenciada para operar no Brasil a plataforma de pagamentos China Interbank Payment System (Cips), o sino-brasileiro Bank of Communications BBM (Bocom BBM) projeta para julho o início da compensação de operações entre Brasil e China sem o uso do dólar.
A novidade permitirá que em negócios realizados entre empresas dos dois países as liquidações ocorram com o uso do real e da moeda chinesa iuan, sem a necessidade de câmbio em dólar.
Na última quarta-feira, o Bocom BBM assinou um acordo para aderir ao Cips, durante missão de autoridades do Brasil na China. O Brasil será o primeiro país da América Latina a ter acesso ao sistema chinês, que opera de forma equivalente ao ocidental Swift, o qual conecta milhares de instituições financeiras em todo o mundo.
“O processo da internacionalização do renminbi (iuan) é contínuo. São vários os elementos que fazem parte deste processo e que implicam um aprofundamento financeiro. O Cips é mais um desses passos”, disse à Reuters Alexandre Lowenkron, presidente-executivo do Bocom BBM.
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“Assinamos o acordo para ser membro. O sistema vai estar plenamente operacional na segunda metade do ano. Nossa meta é que seja algo ao redor de julho”, acrescentou.
Há a expectativa de que os custos das operações sejam reduzidos. Atualmente, um importador brasileiro precisa, por exemplo, comprar dólares para efetuar pagamentos a exportadores chineses, que por sua vez precisam converter os dólares na moeda local. Com a liquidação sem o uso da moeda-norte americana, o custo tende a diminuir.
“Com o sistema, é possível fazer uma liquidação diretamente, de reais para renminbi. A empresa terá um custo a menos”, explicou Lowenkron.
Apenas em 2022, as operações comerciais (exportações e importações) do Brasil com a China movimentaram US$ 150 bilhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
A cifra mostra parte do potencial do novo sistema, que não se limitará ao uso comercial.
O Bocom BBM espera que o sistema de conversão entre real e iuan abra espaço também para operações de financiamento em moeda chinesa e de swap cambial para proteção de investimentos nos dois países, sempre sem o uso do dólar.
Investimentos
Dados do Banco Central mostram que 5% do estoque de Investimento Direto no País, considerando a participação no capital, são de responsabilidade da China, ou cerca de US$ 30 bilhões, pelos números de 2021.
“A oferta de produtos financeiros, para além da liquidação de câmbio, é um elemento importante. Principalmente operações de hedge com prazos longos, seja para brasileiros que investem na China ou para chineses que estão olhando para o Brasil”, pontuou Lowenkron.
O Banco Bocom BBM surgiu a partir de duas instituições financeiras com histórias na China e no Brasil: o Bank of Communications, um dos cinco maiores bancos comerciais do país asiático, e o brasileiro BBM.
Iuan ganha espaço em reserva do País
Brasília – O iuan chinês ultrapassou o euro e se tornou a segunda moeda mais importante nas reservas internacionais brasileiras, de acordo com um relatório do Banco Central de sexta-feira (31), em um reflexo do aprofundamento dos laços econômicos do Brasil com seu maior parceiro comercial.
Até 2018, o iuan estava ausente das reservas estrangeiras do País e agora representa 5,37% do total (dados de final de 2022), superando a participação de 4,74% do euro.
O dólar continua a dominar e equivalia a 80,42% do total das reservas internacionais do país no final do ano passado.
No início deste ano, a China e o Brasil se moveram para reduzir o domínio do dólar, com um acordo sobre o estabelecimento de medidas de compensação de iuanes para facilitar o comércio e o investimento bilaterais.
A China é o principal comprador de minério de ferro, soja em grão, carne, açúcar e celulose exportada pelo Brasil.
Em seu relatório anual sobre reservas, o BC informou que não houve variações significativas na composição da carteira em relação ao ano anterior, quando buscou diversificar suas alocações estratégicas, que incluem o aumento da exposição em iuan e também em ouro.
As reservas internacionais totais do Brasil caíram para US$ 324,70 bilhões em 2022, de US$ 362,2 bilhões no ano anterior, devido a uma perda de 7,45% nos retornos do portfólio causada pelo aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e pela valorização do dólar em relação a outras moedas no período. (Reuters)
Real fecha a semana em valorização
São Paulo – Em um dia marcado pela disputa de investidores pela formação da Ptax de fim de trimestre, o dólar à vista fechou em baixa pela sexta sessão consecutiva ante o real, ainda refletindo a percepção de que o Brasil é um bom destino para investimentos em função do diferencial de juros.
Até o início da tarde, a disputa pela Ptax entre comprados (investidores posicionados na alta do dólar) e vendidos (posicionados na baixa) deu o tom dos negócios, ampliando a volatilidade.
Com a Ptax definida, a moeda norte-americana se manteve no território negativo até o fim do dia, mantendo sua tendência mais recente ante o real.
O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,0698 na venda, em queda de 0,55%. Nas últimas seis sessões, a moeda norte-americana acumulou baixa de 4,16%.
A Ptax de sexta-feira – que servirá como referência para a liquidação dos contratos futuros no início de abril – foi cotada a R$ 5,0804 na venda.
Na B3, às 17:28 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,34%, a R$ 5,0805.
Pela manhã, o dólar chegou a marcar a cotação máxima de R$ 5,1105 (+0,25%) às 9h26, com os comprados pressionando pela alta da moeda norte-americana, de olho na Ptax. Às 12h24, porém, a divisa marcou a mínima de R$ 5,0555 (-0,83%), com os vendidos dando o tom dos negócios.
“Quem queria Ptax baixa vinha com vantagem em função dos recuos nos últimos dias. E fez a Ptax baixa”, pontuou Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos da Financeiros da Commcor DTVM.
Passado o período de definição da Ptax, o dólar ficou mais livre para flutuar, mantendo-se com a tendência dos últimos dias. Por trás do sinal negativo ainda estava a percepção de que o Brasil, com uma Selic (a taxa básica de juros) a 13,75% ao ano, segue atrativo para investimentos, considerando que a expectativa é de juros não tão elevados nos Estados Unidos.
“O carry trade está legal, a bolsa em dólar ainda está descontada, isso tudo favorece a baixa do dólar”, comentou Machado. Em operações de carry trade, agentes tomam empréstimos em países com taxas de juros baixas e aplicam os recursos em praças mais rentáveis, como o Brasil.
O recuo do dólar ocorreu nesta sexta-feira a despeito de a bolsa ter caído e os juros futuros terem subido, em meio a avaliações de que o arcabouço fiscal, lançado na quinta-feira (30) pelo governo Lula, ainda não soluciona os problemas fiscais do país.
O dólar também cedeu ante o real na contramão do exterior, onde a moeda norte-americana sustentava ganhos ante uma cesta de moedas.
Às 17:28 (de Brasília), o índice do dólar – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – subia 0,36%, a 102,600.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de maio. (Reuters)
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