Finanças

‘Problema crônico fiscal’: expectativa do mercado para o dólar é de intensa volatilidade

Dólar avança 15,8% em 2024 e País vive uma relação considerada inconsistente entre dívida e PIB
‘Problema crônico fiscal’: expectativa do mercado para o dólar é de intensa volatilidade
Notas de dólar | Foto: Reprodução Adobe Stock

O cenário cambial permanece incerto no mercado brasileiro, resultando em avanços expressivos do dólar, de 15,8% neste ano. Apesar da possibilidade de queda de juros nos Estados Unidos (EUA), as eleições americanas e o persistente problema fiscal brasileiro levam a uma perspectiva de alta volatilidade, acendendo um alerta para os investidores.

A expectativa é que a moeda brasileira será impactada não somente por questões macroeconômicas locais, mas também pelo ambiente geopolítico global. Segundo o economista da Way Investimentos e coordenador de economia e finanças da ESPM, Alexandre Espirito Santo, o atual cenário de guerra e o resultado da eleição americana tendem a influenciar a direção da moeda no mercado internacional.

Em relação ao mercado interno, o economista frisa que o País vive uma relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB), que se aproxima de 80%. O número, segundo ele, é inconsistente para países de renda média, como o Brasil.

“Vivemos um problema crônico fiscal que transborda para a dívida. Se não tentarmos estabilizar o déficit primário, uma das variáveis que mais podemos sentir é a taxa de câmbio”, destaca.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, corrobora com o argumento e analisa que o câmbio deveria estar em um patamar mais baixo, se não fossem questões internas, como o problema fiscal. “O que impede uma melhora é a falta de previsibilidade com o cenário fiscal brasileiro. unida a um ambiente de incertezas em razão de eleições”, avalia.

O cenário, entretanto, pode ser favorável para investidores caso se confirme a queda de juros nos EUA e o nível da Selic se mantenha no atual patamar. “Se a Selic for mantida e, ao mesmo tempo, ocorra queda de juros nos EUA, será algo positivo pensando também na atratividade do cenário estrangeiro no mercado nacional”, explica Cristiane Quartaroli.

Ambos os economistas avaliam que a melhor solução para empresas é a proteção hedge cambial. A estratégia é amplamente usada na preservação contra a volatilidade das taxas de câmbio, garantindo que o valor recebido na moeda local não diminua devido a depreciação da moeda estrangeira. “Os empreendedores conseguem se preparar melhor fazendo a proteção e usando instrumentos como o dólar futuro na B3 ou mesmo o swap cambial do Banco Central”, explica Alexandre Espirito Santo.

Para os próximos meses, Cristiane Quartaroli analisa que a atual projeção do mercado é de uma estimativa do câmbio a R$ 5,32: 23 a 28 centavos menor do que o apresentado nos últimos dias. “Se for confirmada uma queda dos juros (nos EUA) e uma fase tranquila de eleição, será um cenário favorável para investidores. Nossa economia também pode contribuir, já que está melhor em questões como inflação e atividade econômica”, conclui.

Intervenções do Banco Central não impedem alta do dólar

Apesar de apresentar recuo de 0,38% em agosto, o dólar permanece em tendência de alta volatilidade. No último mês, nem mesmo intervenções do Banco Central (BC) foram suficientes para conter o crescimento da moeda.

Na época, a instituição monetária brasileira realizou um leilão de aproximadamente US$ 1,5 bilhão no mercado de câmbio à vista com o objetivo de recuar o dólar nos pregões semanais. Com a realização do leilão de dólar à vista, são comercializados dólares de reservas financeiras do banco a fim de promover a circulação da moeda, reduzindo o preço.

Apesar dos recentes esforços para conter a moeda estrangeira, diferentes fatores seguem pressionando os avanços econômicos brasileiros. Em julho, o BC divulgou que o setor público consolidado apresentou déficit de R$ 21,3 bilhões – o resultado estaria cerca de R$ 20 bilhões acima do valor projetado por economistas.

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