Finanças

Campos Neto afirma que inflação de março foi surpresa

Campos Neto afirma que inflação de março foi surpresa
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Brasília – Dado recente de alta da inflação no Brasil foi surpresa e o Banco Central está aberto a analisar o cenário se houver algo diferente do padrão, afirmou ontem o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após a divulgação da maior alta de preços para março em 28 anos.

Em evento promovido pela Arko e Traders Club, Campos Neto disse que o núcleo de inflação (que desconsidera itens mais voláteis) está muito alto e que é preciso avaliar a surpresa recente de alta nos preços para observar se essa tendência de elevação muda.

“A gente, como disse no comunicado (do Comitê de Política Monetária), está sempre aberto a analisar o cenário se entender que tem alguma coisa diferente do padrão que vinha sendo identificado”, disse.

“A gente teve uma pequena surpresa nesse último número, uma surpresa que curiosamente se deu em vários países. Vamos analisar e ver os fatores que estão gerando essas surpresas inflacionárias e vamos comunicar no momento que for mais apropriado”.

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A inflação brasileira deu o maior salto em 28 anos para um mês de março, segundo dados do IBGE apresentados na última semana, sob o impacto da alta dos combustíveis e com disseminação generalizada por vários grupos de produtos e serviços, atingindo 11,3% em 12 meses.

De acordo com Campos Neto, o movimento de alta foi puxado por preços de combustíveis, mas também por uma surpresa em vestuário e outros componentes.

Na apresentação, o presidente do BC afirmou, por outro lado, que o recente movimento do câmbio, com valorização do real, ainda não está totalmente refletido nos preços.

Em declarações recentes, Campos Neto vem afirmando que o BC pode rever seus posicionamentos e aumentar o aperto monetário se observar novos choques sobre a inflação.

O cenário traçado pelo Comitê de Política Monetária em sua reunião de março previu um novo aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, que atingiria 12,75% ao ano na reunião de maio, possivelmente marcando o fim do ciclo de aperto monetário implementado para debelar a inflação, conforme falas anteriores de Campos Neto. Em março, o colegiado já havia deixado a porta aberta para mudanças nessa perspectiva se necessário.

Fluxo – O presidente do BC avaliou que uma aceleração no aperto monetário nos Estados Unidos pode gerar uma onda inicial com dólar um pouco mais forte, podendo também haver reversão do fluxo de recursos que tem sido destinado a países emergentes.

Para ele, no entanto, o Brasil está em boa posição no redesenho geopolítico gerado pela guerra na Ucrânia, o que pode ser uma oportunidade para o País.

 “Como as inflações continuam surpreendendo, a gente pode ter um movimento de mais altas (de juros nos EUA) no curto prazo, e se esse movimento não vier com percepção de que vem junto de crescimento forte, talvez a gente tenha uma reversão parcial desse fluxo para países emergentes”, disse.

Para ele, é importante tentar entender se esse movimento de aperto mais intenso nos Estados Unidos de fato vai acontecer e em qual intensidade.

O presidente do BC disse que, depois da grande saída de recursos dos países emergentes observada em março de 2020, com o início da pandemia da Covid-19, o retorno desses fluxos se deu concentradamente para a Ásia, mais particularmente para a China.

“A gente está vendo um pouco o reequilíbrio disso – não muito, mas um pouco – e às vezes um pouco já e o suficiente para fazer esse movimento da moeda”, disse Campos Neto.

Ele ressaltou que, além das questões geopolíticas globais que têm contribuído para aumentar o apelo de países como o Brasil, o País também foi beneficiado por questões como a melhora dos dados fiscais de curto prazo e a proatividade do Banco Central na política monetária.

Segundo Campos Neto, o cenário principal do BC não contempla uma reversão forte dos fluxos positivos para os emergentes, mas ele reconheceu que o cenário é cercado de incertezas, tanto externas quanto domésticas.

Campos Neto disse que o núcleo de inflação (que desconsidera elementos mais voláteis) está muito alto no Brasil. Para ele o dado recente do IPCA foi uma surpresa e é preciso avaliar se a tendência mudará.

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