Campos Neto defende que esforço fiscal seja global

Brasília – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu ontem uma atuação coordenada entre os países no aspecto fiscal e alertou para o risco de ruptura dos mercados antes do fim do processo de desinflação global.
O chefe da instituição também elencou diversas pressões que afetam a trajetória da inflação pelo mundo e levantou questões sobre como o cenário internacional desafiador pode impactar as economias emergentes. “A mensagem é que os governos precisam começar a endereçar o aspecto fiscal. Acho que somos muito coordenados no aspecto da política monetária, mas não somos muito coordenados na política fiscal”, afirmou.
Ele complementou: “Se não formos capazes de endereçar isso de uma forma que as pessoas olhem para frente em termos de preços de mercado e vejam que teremos equilíbrio, pelo menos no médio prazo, nós podemos ter uma ruptura nos mercados antes de atingirmos o fim do processo de desinflação”, complementou.
Campos Neto participou de um painel sobre o estado da economia global e suas implicações para as economias de mercados emergentes no evento 2023 Global Meeting, organizado pelo Emerging Markets Forum, em Marrakech, no Marrocos.
Desafios
O presidente do BC fez ainda um histórico dos desafios enfrentados pelos países desde a eclosão da pandemia de Covid-19 até os choques mais recentes, como o impacto sobre o preço do petróleo em meio ao conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.
Em sua fala, Campos Neto também destacou o alto custo de transição energética, maior incerteza no mercado de energia com as questões geopolíticas, além dos efeitos das mudanças climáticas sobre os preços dos alimentos, citando o impacto das chuvas na produção de arroz na região Sul.
“Daqui para frente, de onde vai vir a desinflação? O petróleo vai ficar mais caro, a transição verde custa dinheiro, a produtividade não está aumentando, acho que está diminuindo”, disse.
O presidente do BC ainda acrescentou mais perguntas a serem respondidas: “O processo de desinflação pode parar em níveis mais altos globalmente? Se for verdade, o que vai acontecer? Viveremos com altas taxas de juros por mais tempo? O que isso vai significar para a economia emergente?” (Nathalia Garcia)
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