Com Petrobras, Ibovespa resiste a realizar lucro na maior série de alta desde 1994
Até o meio da tarde, o Ibovespa, em linha com o prosseguimento da correção dos índices de ações em Nova York, parecia a caminho de aguardada realização de lucros após 12 ganhos consecutivos – nove dos quais também em nível recorde de fechamento. Era a mais longa série vitoriosa do índice desde as 12 altas entre 15 de maio e o início de junho de 1997, há mais de 28 anos. Mas o que parecia improvável, aconteceu, e o Ibovespa foi hoje ao 13º avanço diário consecutivo, renovando recorde de encerramento nas últimas 10 sessões.
Assim, aproxima-se um pouco mais da performance registrada entre maio e junho de 1994, durante o nascimento do real, quando emendou 15 altas sem interrupção, no intervalo de 17 de maio a 7 de junho.
Ao fim, marcava hoje ganho de 0,47%, pela primeira vez em fechamento no nível de 154 mil, aos 154.063,53 pontos, entre mínima de 152.367,52 e máxima de 154.065,76 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 153.338,63. O giro foi a R$ 24,2 bilhões nesta sexta-feira. Na primeira semana de novembro, o índice da B3 acumula ganho de 3,02% – o quarto avanço semanal consecutivo – e de 28,08% no ano, a caminho de seu melhor desempenho desde 2019, quando subiu 31,58%.
O forte impulso de Petrobras após o balanço e a teleconferência relativa aos resultados do terceiro trimestre, com distribuição de dividendos em linha com o esperado, na casa de R$ 12 bilhões, se impôs à dinâmica majoritariamente negativa nas demais blue chips – mas ao final, também positiva para os grandes bancos, que viraram na reta de chegada da sessão. Destaque negativo para o setor metálico, com Vale ON, principal ação do Ibovespa, em baixa de 1,10% e perdas de até 1,76% (CSN ON) entre as principais siderúrgicas.
Contudo, o setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, ganhou força do meio para o fim da tarde, contribuindo, também, para que o Ibovespa oscilasse para cima na etapa vespertina e renovasse máximas aos 154 mil pontos em direção ao fim do dia. Entre os maiores bancos, os ganhos ficaram entre 0,10% (Itaú PN) e 0,56% (Santander Unit) no fechamento, com os papéis de Bradesco e Santander encerrando nas respectivas máximas da sessão.
Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, MBRF (+5,86%), SLC Agrícola (+4,16%), além de Fleury (+3,97%), Cyrela (+3,86%) e de Petrobras (ON +4,83%, PN +3,77%, com a preferencial na máxima da sessão no fechamento). No lado oposto, Cogna (-6,93%), PetroReconcavo (-6,39%) e Raízen (-5,62%).
Segundo José Áureo Viana, economista, assessor e sócio da Blue3 Investimentos, seria “natural” uma realização de lucros na sessão desta sexta após uma longa sequência de ganhos do Ibovespa. Mas o forte desempenho de Petrobras, acompanhando o balanço e a distribuição de mais de R$ 12 bilhões em dividendos, deu sustentação ao índice da B3 no fechamento de uma semana que já era muito vitoriosa, acrescenta.
Para Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP, “tanto otimismo” refletido na Bolsa foi mantido na semana a despeito do tom ainda duro no comunicado sobre a decisão de política monetária do Banco Central, sem sinais claros ainda sobre o momento em que a Selic, mantida a 15% ao ano, poderá começar a ser cortada – movimento aguardado pela maioria do mercado para o primeiro trimestre do próximo ano. Segundo a estrategista, apesar de certa incerteza ainda com relação a uma variável importante – o nível de juros à frente -, o forte apetite por ações na B3 tem se apoiado na boa temporada de resultados corporativos.
“Os resultados corporativos têm falado mais alto, impulsionando a Bolsa, o que é favorecido também pelo movimento de rotação de ações em nível global, ante o questionamento sobre a sustentabilidade do crescimento das empresas do setor de inteligência artificial, com certo ceticismo em alta”, diz Rachel, acrescentando que o momento de depreciação do dólar frente ao real tem sido observado também em moedas de outros países emergentes, além do Brasil. “Há no momento uma busca de ativos alternativos que estejam além da temática da IA”, enfatiza.
Nesse contexto, o índice de tecnologia de Nova York, o Nasdaq, fechou nesta sexta-feira em baixa, embora bem moderada a 0,21% no fim do dia, acumulando perda de 3,04% na semana. Ainda em Nova York, nesta sexta-feira, Dow Jones virou em direção ao fechamento e subiu 0,16%, com o S&P 500 também em alta, de 0,13% Aqui, o dólar à vista cedeu 0,25%, a R$ 5,3357, e acumulou perda de 0,83% na semana.
“Mercado americano segue em correção sem a referência de dados oficiais sobre a economia durante esse longo shutdown nos Estados Unidos, e com o agravo dessas dúvidas em relação ao setor de tecnologia, ainda que estejam sendo um pouco exageradas, usadas como um válvula para realizar lucros”, observa Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Apesar do voo cego em relação aos dados mais recentes, a expectativa é de que o Fed, assim como o observado no fim de outubro, volte a cortar juros em dezembro – o que tende a ampliar o diferencial em relação à taxa de juros do Brasil, favorecendo o carry trade, com apreciação do real e apetite por ações na B3.
Conteúdo distribuído por Estadão Conteúdo
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