Finanças

Cotação do ouro dispara e atinge US$ 2,5 mil a onça

Riscos geopolíticos, perspectiva de corte de juros no EUA e inflação levam ativo a bater recorde neste mês
Cotação do ouro dispara e atinge US$ 2,5 mil a onça
Crédito: Reprodução Adobe Stock

A cotação do ouro, um ativo considerado seguro, segue em alta e bateu recorde neste mês, superando US$ 2,5 mil por onça. Os motivos, segundo especialistas, são os riscos geopolíticos globais, a possibilidade de corte nas taxas de juros dos Estados Unidos e as expectativas de inflação. A escalada nos preços deve beneficiar a economia mineira.

Os valores recordes da cotação, na opinião do professor do Ibmec Belo Horizonte Gustavo Guimarães Andrade, são extremamente positivos para os produtores do metal. “Minas Gerais tem empresas que operam com bastante pujança nessa área e essas empresas vão se beneficiar do aumento do preço”, analisa o professor.  

Ele explica que a receita será maior e o custo não sofrerá aumento nas mesmas proporções. “Isso torna a margem de lucro dessas empresas melhores e com isso elas podem ter uma causalidade de resultados ainda mais pujante. Isso é dinheiro para a própria economia mineira. Seja para o lado do governo pelos impostos que essas empresas pagam, seja pelo poder de compra causado por esses bons resultados, tanto para a empresa quanto para os empregados e por aí vai”, ressalta.

De janeiro a julho deste ano, Minas Gerais foi responsável por 3,7% das exportações de ouro do País, de acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, somando US$ 914 milhões. O valor é 3,94% menor que o mesmo período do ano passado.

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Cotação alta é reflexo da instabilidade da economia global, dizem especialistas

O sócio da Astra Capital, Guilherme Suzuki, explica que o cenário mundial é reflexo de uma série de acontecimentos dos últimos anos, sobretudo no que se refere à saúde da economia global. As expectativas inflacionárias e as incertezas fizeram e ainda fazem com que a busca pelo ouro aumente, já que é um investimento considerado mais seguro.

Guilherme Suzuki
Guilherme Suzuki atribui a escalada no valor do ouro à busca de um investimento considerado mais seguro | Crédito: Divulgação Astra Capital

De acordo com ele, é um retorno ao que ele chama de ‘velha economia’. “Com a saúde da economia global não muito animadora, investidores procuram outras alternativas para alocação de capital. A recente valorização expressiva do metal nos diz que alguma coisa na economia global entrará em colapso e por isso vemos o ativo renovando as máximas”, opina.

Ele não estima um valor a que o metal possa chegar, mas acredita que possa subir ainda mais. Tanto o ouro quanto outros metais, como a prata e o cobre, tendem a ser valorizados. Outro motivo que pode estar impulsionando a alta dos metais, na opinião de Suzuki, são os possíveis incentivos monetários e fiscais para alavancar a economia, o que pode trazer mais pressões inflacionárias. 

Se levarmos em conta que uma barra pesa em média 400 onças (11,3 kg), a barra está chegando a US$ 1 milhão. Os preços variaram em mais de 30% em 12 meses. O especialista da Nippur Finance, Noberto Sangalli, pontua que, historicamente, o ouro antecipa o que acontece em outras commodities, e tende a seguir se valorizando. “Por se tratar de um ativo escasso, que tem muita utilidade no dia a dia e por estar sendo cada vez mais demandado pelos bancos centrais para reforçarem suas reservas, ele deve continuar a subir”, afirma.

Além disso, Suzuki, da Astra Capital, destaca o problema fiscal dos Estados Unidos. “Não podemos ignorar o aumento crescente da dívida pública e a impressão desenfreada de dinheiro, que podem aumentar ainda mais o sentimento negativo dos investidores com a saúde da economia global”, alerta.

Por último, ele acredita que o mundo vai perceber que não é possível imprimir metais e commodities como dinheiro. “Por esse motivo, acredito que entraremos em uma era de maior produtividade e isso traz um ambiente extremamente positivo para ativos com características de reserva de valor, e de alguma forma, deflacionários”, avalia.

Professor de economia do Ibmec Belo Horizonte, Gustavo Andrade atrela ainda a alta do ouro a um reflexo dos efeitos pós-pandemia. “Foi percebida a importância da diversificação das reservas internacionais de grande parte dos bancos centrais, além da sanção que a Rússia sofreu em relação à invasão da Ucrânia, em que o banco central russo deixou de ter convertibilidade em qualquer ativo de renda fixa principalmente das do Tesouro americano como poder de reserva, levando outros bancos centrais a aumentar a demanda de outros ativos. A Rússia sofreu a sanção e o país que eu acho que está mais perto de acontecer é a própria China. Ela tem vendido suas reservas e as diversificando”, analisa.

Além desse ponto, o professor cita as possíveis quedas de juros dos EUA e o efeito de oferta e demanda que acabam ativando uma troca de alocação. “Com juros a 5% eu quero menos ouro, mas com juros indo a 3,5%, eu quero mais ouro”, explica.

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