Finanças

Crise dos bancos impulsiona preço do ouro

Falência do SVB e o colapso do Credit Suisse resultaram em uma maior volatilidade no mercado internacional
Crise dos bancos impulsiona preço do ouro
Além do temor de uma crise financeira internacional, o conflito entre Rússia e Ucrânia impulsiona a cotação | crédito: Couperfield-adobe.stock.com

À medida em que o mercado investidor busca por segurança em meio à volatilidade provocada pela possibilidade de uma crise financeira, após os episódios envolvendo o Silicon Valley Bank e o Credit Suisse, o preço do ouro segue valorizado. Nos últimos 30 dias, o preço avançou quase 9%, saindo de R$ 305,95 o grama para atuais R$ 331,67. A continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia também traz inseguranças, estimulando os aportes no metal precioso.

O especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, explica que, no ano, nos contratos futuros, para abril, o ativo já subiu 6,5%. Segundo ele, essas altas mais expressivas no ouro acontecem quando o mercado busca por segurança em meio a volatilidade, em especial, a um movimento de aversão a risco.

“Em momentos de aversão a risco, o investidor busca por ativos que trazem um grau de segurança maior. No caso do ouro, ele é visto como um ativo de reserva de valor pelo seu histórico ao longo do tempo e também como opção de fuga para quem quer um grau de proteção maior. Quando vimos o movimento de quebra de bancos na Europa e nos Estados Unidos, e essa possibilidade de crise financeira, estes ativos reais tiveram alta expressiva nas últimas semanas”, explicou. 

Ainda segundo Luives, é importante ressaltar que há uma relação entre o ouro e a taxa de juros norte-americana, que, normalmente, varia de forma negativa para o ouro, ou seja, o movimento da taxa de juros para cima pode afetar o preço do ouro para baixo.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“Porém, em eventos de maior estresse, como os episódios envolvendo o Silicon Valley Bank e o Credit Suisse, o sentimento de aversão ao risco acaba tomando conta e se tem fuga maior para ativos reais. Então, a alta do ouro é devido a esta questão. Observamos também que a curva da taxa de juros nos Estados Unidos teve um fechamento. O mercado já projetava juros menores mais a frente, o que também trouxe uma guinada para o preço da commodity”.

Em relação à tendência do preço do ouro, Luives explica que uma nova alta expressiva dependerá de como a situação irá se desenrolar. “O cenário é bem diferente de 2008 e a atuação das autoridades monetárias foi muito rápida para evitar contaminação de outros brancos. No momento, a variação do preço do ouro vai depender da evolução da crise, se tiver um aumento de aversão ao risco, vai resultar em alta”.

Para o economista, empresário e Doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, Igor Lucena, não há dúvida de que as turbulências no cenário internacional, principalmente, na crise de ativos, como o Silicon Valley Bank, Credit Suisse e outros bancos médios, impactam negativamente no mercado acionário.

“Quando isso acontece, vários investidores fogem para títulos de renda fixa de governos ou ativos reais, como o ouro. Desde quando essa crise eclodiu, a gente está assistindo a uma grande crescente da valorização do ouro. Então, quando você tem vários investidores do segmento do mercado financeiro migrando para o ouro, esses títulos, os papéis relacionados e a própria cotação do ouro sobem muito”.

A valorização do ouro não está acontecendo apenas pela crise de ativos. Segundo Lucena, a continuidade do conflito entre Ucrânia e Rússia e, principalmente, a visão de que o conflito vai continuar com o apoio do ocidente para ampliar os armamento, aliado a impossibilidade de uma visão de um acordo e também à China fazendo acordos com a Rússia – relacionados a energia – mostra que os dois lados do conflito estão recarregado as bateria para a continuidade. 

“A gente assiste também a uma valorização das ações do setor de empresas de defesa e militares, uma baixa nos estoques de munições no planeta inteiro. Então, o aumento do tempo do conflito faz com que o ouro suba. Os bancos centrais estão, por causa das incertezas, aumentando os seus estoques de ouro. Na prática, temos um cenário externo extremamente turbulento tanto no setor bancário, quanto do ponto de vista geopolítico”. 

Para Lucena, diante dos desafios, a tendência é que o metal suba ainda mais.

“Há uma possibilidade de que o ouro tenha uma valorização, segundo especialistas, de até 20% do atual patamar até o final do ano. Se a crise de confiança dos bancos continuar e os conflitos na Ucrânia avançarem, a gente vai ver mais necessidade de entrada dos bancos centrais. Então, isso é um ponto fundamental para ser analisado dentro do ponto de vista de ouro”, explicou Lucena.

Concorrência com os EUA

O especialista e sócio da Valor Investimentos, Gabriel Meira, explica que a migração de investimentos para o ouro sempre ocorre quando há crises. Segundo ele, o investidor entende o ouro como um porto seguro, como algo tangível de valor já predefinido, o que estimula a migração. Com a turbulência no cenário internacional, Meira avalia que há sim uma migração para o ouro, porém, como a taxa de juros nos Estados Unidos está em 5%, existe concorrência com os investimentos no tesouro. 

“Temos a maior economia do mundo, considerada de zero risco, pagando 5% ao ano contra o ouro, que é volátil. Apesar de se ter uma migração para o ouro, você tem uma rentabilidade muito grande na treasury, então, isso puxa um pouco o fluxo do que iria para o ouro para a renda fixa nos EUA”.  

Ainda segundo Meira, uma migração mais forte para ouro ocorre frente a receios de crises globais, o que não é o caso atual.

“Apesar da quebra, Silicon Valley Bank e o Credit Suisse, as respostas dos bancos centrais foram muito rápidas. Além disso, o aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, foi no tom que o mercado queria escutar. Isso acaba segurando, um pouco, o fluxo de pânico, que causa uma alta repentina do ouro”. 

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas