Crise com os EUA ainda deve influenciar o Ibovespa em agosto; entenda

Depois de fechar em queda de 4,17% em julho, registrando o pior resultado do ano, a tendência da bolsa brasileira para o mês de agosto ainda é incerta, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio. Enquanto um aposta na recuperação, outros ainda esperam o estresse da incerteza, o que não é bom para o mercado de ações.
O estrategista de ações da Nomos, Max Bohm, tem uma visão mais positiva e acredita que o mercado de ações entrará neste mês em modo de recuperação. Segundo ele, as questões tarifárias se atenuaram, o que deverá levar a uma saída mais diplomática entre Brasil e Estados Unidos (EUA), com menos impacto político e comercial. “Dessa forma, a bolsa deverá responder positivamente”, avaliou.
Apesar do desempenho negativo em julho, Bohm acredita que os resultados que serão apresentados pelas grandes empresas nas próximas semanas, referentes ao segundo trimestre, somados às projeções mais baixas para o IPCA — que podem motivar declarações do Banco Central no sentido de reduzir os juros mais brevemente do que o mercado imagina — e à expectativa de redução das taxas de juros nos Estados Unidos já em setembro, podem fazer com que a bolsa se recupere em agosto.
Nesse cenário, o estrategista da Nomos acredita que empresas de construção civil, varejo e bancos se destacarão. “Estou acreditando bastante nos bancos, principalmente Itaú e Bradesco. As varejistas Renner, C&A e Centauro, além das construtoras Cyrela, Plano&Plano e Moura Dubeux, podem se destacar neste mês, tendo em vista a expectativa positiva em relação aos resultados do segundo trimestre, que serão apresentados nos próximos dias”, avalia.
Já o economista da Valor Investimentos, Ian Lopes, acredita que os mercados ainda vão ficar estressados, com volatilidade relativamente alta, até que as questões tarifárias com os EUA sejam resolvidas. “Enquanto não se desenrolar toda essa situação da guerra tarifária, o mercado vai ficar mais estressado, já que não gosta de incertezas”, defende. Quanto às ações em destaque, assim como Bohm, Lopes também recomenda ações de empresas de consumo.

O estrategista de ações da Genial Investimentos, Filipe Villegas, também acredita num panorama incerto. “Apesar de o mercado local oferecer um valuation atraente e o carry trade permanecer vantajoso devido aos juros elevados, a volatilidade política e as questões tarifárias podem afastar o capital especulativo”, diz.
Segundo Villegas, a resistência do Ibovespa em meio à volatilidade e às saídas de capital indica que muitas das notícias negativas já foram precificadas. “No entanto, a ausência de um catalisador forte no curto prazo exige cautela para investidores que buscam desempenho alinhado ao mercado global”, defende.
O estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora, Alexandre Mathias, alega que o acirramento das tensões comerciais e políticas entre Brasil e Estados Unidos, ocorrido em julho, retirou o Brasil da tese de que o País seria pouco impactado pela guerra tarifária de Trump. “Esse movimento causou a saída de parte do capital de investidores estrangeiros”, afirmou.
Apesar de a situação não ter voltado totalmente à normalidade, ele enxerga que esteja havendo um distensionamento importante, promovendo uma correção de exposições. “Estamos aumentando nossa posição em teses domésticas que são mais sensíveis aos juros de longo prazo e aumentando também nossa exposição ao dólar e à economia global”, diz.
Ibovespa pode ter quedas adicionais em agosto
Já o sócio da Next Capital, David Martins, acredita que o Ibovespa ainda possa enfrentar quedas adicionais, caso as tarifas impostas pelos EUA entrem em vigor sem avanço nas negociações. Segundo Martins, o impacto deve ser mais severo em setores diretamente ligados à pauta de exportações para o mercado norte-americano, como o de carnes, café e suco de laranja.
“Esses segmentos tendem a sofrer tanto pela perda de competitividade quanto pela possível revisão de contratos internacionais. Já, em contrapartida, setores como mineração, varejo doméstico e serviços públicos devem mostrar maior resiliência por estarem menos expostos a esse cenário externo”, avalia.
Entretanto, caso as negociações avancem e o Brasil consiga diminuir o percentual de tarifas impostas por Donald Trump, “a gente pode, sim, vir a ter um mês positivo no Ibovespa”, diz.
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