Déficit primário deve atingir R$ 20 bilhões

Brasília – O mercado financeiro piorou a projeção para o resultado primário das contas do governo federal em 2022 após seis meses consecutivos de revisões mais otimistas, mostrou relatório Prisma Fiscal divulgado ontem pelo Ministério da Economia, indicando também um aumento na previsão para a dívida bruta no ano.
De acordo com o documento, que capta projeções de agentes de mercado para as contas públicas, a expectativa para o resultado primário do governo central neste ano ficou em déficit de R$ 20,0 bilhões, ante rombo de R$ 11,9 bilhões projetado em junho.
A mudança de rumo nas expectativas coincide com a proposição pelo governo e análise no Congresso da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para liberar desembolsos por fora do teto de gastos neste ano em aproximadamente R$ 40 bilhões para turbinar benefícios sociais.
As revisões das projeções para resultados mais positivos em 2022 haviam começado em janeiro, quando os agentes de mercado melhoraram a previsão de rombo fiscal neste ano de R$ 95,5 bilhões para R$ 88,7 bilhões. Os resultados seguintes trouxeram perspectivas melhores para as contas públicas, até a interrupção da trajetória observada no atual levantamento.
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As projeções do mercado para o resultado primário refletem uma elevação na estimativa da despesa total do governo, de R$ 1,770 trilhão para R$ 1,793 trilhão. Houve uma melhora menos intensa nas expectativas para a receita líquida federal, passando de R$ 1,762 trilhão no relatório anterior para R$ 1,775 trilhão na pesquisa deste mês.
Com a piora nos dados, os analistas consultados pela pasta aumentaram a expectativa para a dívida bruta do governo geral em 2022 para 79,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 78,9% na pesquisa de junho.
O governo vem registrando recordes de arrecadação em meio à retomada da atividade econômica e alta da inflação. Além de afirmar que a estratégia do momento é converter esse ganho de receitas em cortes de tributos, a equipe econômica deu aval para a aprovação da PEC que cria e amplia benefícios sociais em ano eleitoral.
Nos últimos meses, o governo já anunciou cortes de PIS/Cofins de combustíveis, redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para uma série de produtos e cortes de tarifas de importação.
Para 2023, as projeções de mercado indicam déficit primário de R$ 30 bilhões no governo central, ante R$ 24,8 bilhões na estimativa trazida pelo relatório anterior.
A dívida bruta no ano que vem, segundo os prognósticos, deve ficar em 82,50% do PIB, ante 81,75% previstos no mês passado.
Revisão
A projeção oficial do governo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 será revisada de 1,5% para 2%, informaram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto, em um movimento de melhora que também tem sido observado nas avaliações de mercado, mas em menor intensidade.
A apresentação pelo Ministério da Economia da nova grade de parâmetros do governo, usada para acompanhamento das contas públicas, está marcada para quinta-feira (14). Os dados servem de base para avaliar o movimento das receitas e despesas federais.
Segundo o boletim Focus mais recente, que coleta as projeções de mercado para indicadores econômicos, o PIB brasileiro deve crescer 1,59% neste ano. A estimativa dos analistas na semana anterior estava em 1,51%, enquanto a do início do ano havia ficado em 0,3%.
O setor de serviços teve um crescimento acima do esperado em maio, enquanto a produção industrial registrou o quarto mês seguido de ganhos, ainda que abaixo do esperado. O mercado de trabalho também tem surpreendido positivamente.
Com a atividade mais aquecida, o governo tende a estimar uma arrecadação tributária mais forte. Os recordes registrados até o momento nas receitas federais vêm sendo usados como argumento pela equipe econômica para dar aval a medidas com cortes tributários e ao pacote para turbinar benefícios sociais em ano eleitoral.
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