Finanças

Democratização do acesso bancário contribui positivamente para economia, dizem especialistas

Pix é o principal responsável pela maior inclusão dos brasileiros no sistema de pagamentos, avaliam especialistas
Democratização do acesso bancário contribui positivamente para economia, dizem especialistas
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

A tecnologia tem permitido que mais cidadãos brasileiros sejam incluídos no sistema financeiro. Cada vez mais, as pessoas estão tendo acessos a serviços e vantagens que só estavam disponíveis a quem estava vinculado às instituições tradicionais. A democratização desse setor beneficia a economia, porém ainda há desafios a serem superados.

O Pix, meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central (BC), é, conforme especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o principal responsável por esta democratização. E os dados comprovam: a modalidade, lançada em novembro de 2020, foi responsável por incluir 71,5 milhões de usuários no sistema financeiro, de acordo com o BC.

E os números só crescem. O Pix já é o meio de pagamento mais utilizado no Brasil. Em 2023, os brasileiros realizaram 42 bilhões de transações pela modalidade, o que representa um crescimento de 75%, em relação ao ano anterior, conforme dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O número de transações supera todas as outras modalidades que, juntas, somaram 39,4 bilhões, entre em operações de cartões de débito e crédito, boleto, Transferência Eletrônica Disponível (TED), Documento de crédito (DOC) e cheques.

Para o membro e especialista no assunto do Instituto Millenium, Dennis Min Wang, não há dúvidas que a democratização do sistema financeiro está acontecendo. “O Pix não está fazendo cair de forma significativa a taxa de uso de cartão de débito e crédito. O que temos visto é uma digitalização da economia, que antes era feita em dinheiro, trazendo mais opções para as pessoas”, comentou. Além disso, Wang pontua que a mudança “vai digitalizando a economia”, o que na opinião dele é positivo.

Além do Pix, os especialistas apontam os bancos digitais como outro fator imprescindível para a bancarização e a inclusão financeira. De acordo com pesquisa recente realizada pela DataFolha, 14% dos brasileiros, em 2023, possuíam contas somente nesses estabelecimentos, um crescimento de 9% se comparado ao ano anterior (2022).

O gerente-geral da Yuno, fintech que oferece infraestrutura para pagamentos por meio de uma única plataforma, Nathan Marion, lembra que o primeiro grande banco exclusivamente digital, o Nubank, acaba de alcançar a marca de 90 milhões de usuários, atestando o sucesso do formato. “Só não entra hoje no sistema financeiro aquele que o rejeita completamente, por um problema geracional, que não se acostumou com a ideia ainda, ou por questões de infraestrutura”, avalia.

A ausência de taxas e a facilidade de acesso ao crédito, além da praticidade, proporcionaram a virada de chave do sistema bancário, na opinião dos especialistas. “Os modelos foram inovadores e o mais importante foi o acesso ao crédito. A simplicidade dos produtos facilitou o entendimento e o acesso ao sistema financeiro. Ele não é mais um bicho-papão. Os contratos são mais simples, os termos usados são mais acessíveis e não há mais letras miúdas e nem pegadinhas. Se você pensar na diversidade do Brasil e da população que não conhece o sistema financeiro, a transparência e a simplicidade ajuda muito”, argumenta Marion.

Até janeiro de 2022, dados mais recentes do Banco Central mostram que 2.426 municípios não possuíam agência bancária, o número representa 43% dos 5.590 municípios do País. Daí a relevância dos bancos digitais no País da dimensão do Brasil.

Além disso, Nathan Marion ressalta o advento das fintechs, que hoje chegam a marca de 1,4 mil empresas, segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABfintechs). “Elas colaboram para um mercado mais competitivo, trazendo soluções inovadoras que podem ser acessadas de forma mais simples”, reforça.

É o caso da Yuno que diante de tantas modalidades de pagamento, oferece para empresas, soluções de geri-las em uma plataforma só. “Há também fintechs só de crédito, que estão ajudando a dar acessibilidade para uma parcela da população que não tinha fácil acesso ao crédito”, comenta.

Para o economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Gilson Machado, a bancarização traz ganhos para a economia. “Com a entrada das fintechs, houve aumento da concorrência, o que resultou na redução das taxas dos serviços ou na isenção delas. Outro ponto é que as pessoas se sentem inseridas no sistema bancário, o que elimina a ideia de que elas não podem consumir”, avalia.

Ele explica que o processo de democratização também é benéfico para o governo, pois os órgãos competentes conseguem rastrear a circulação de dinheiro, reduzindo a economia informal. Sendo assim, na visão de Machado, as atividades comerciais têm ganhos, pois as pessoas passam a ter acesso ao crédito para consumir e podem usar os meios de pagamento instantâneos, além de reduzir custos e melhorar a segurança no comércio, já que não é necessário manter dinheiro em caixa. “Somado a isso, temos as taxas para utilização dos serviços bancários reduzidas ou extintas, o que proporciona às pessoas mais poder de compra”, explica.

Além do processo de bancarização, que tem possibilitado o acesso de mais pessoas aos serviços financeiros, o economista da Fecomércio-MG ressalta a importância da modernização. “O Pix funciona 24 horas por dia e sete dias por semana, sem custo para o consumidor. Esse meio de pagamento tem contribuído com o comércio varejista, uma vez que, quando o consumidor opta por realizar o pagamento utilizando esse meio, o dinheiro cai instantaneamente na conta do empresário, e com o dinheiro em caixa, o lojista consegue movimentar, fazendo o seu negócio girar”, pontua.

Acesso à internet ainda é um obstáculo

O acesso à internet ainda é um desafio para a democratização. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o percentual de domicílios do País com serviço de rede móvel celular funcionando para internet ou telefonia passou de 86,2% em 2016 para 92% em 2022.

Na área urbana, essa proporção passou de 89,7% para 95,2%, no mesmo período, e na área rural, de 63,7% para 69,4%. Os índices mostram que ainda há uma parcela sem acesso à internet, e portanto, sem acesso às tecnologias que favoreçam a inclusão bancária.

“Essa é uma parte da infraestrutura que mostra o potencial do mercado. A tecnologia 4G democratizou muito, mas ainda não é a totalidade. Há regiões do Brasil em que a conexão ainda não funciona tão bem. Dessa forma, ainda é um desafio. É necessário a infraestrutura evoluir para que todos tenham um acesso digital igual para utilizar serviços, pois, realmente, há uma parte da população que nem tem o acesso. Já foi pior, mas ainda é um problema”, pondera o gerente geral da Yuno, Nathan Marion.

Para ele, o e-commerce é um setor beneficiado pela democratização financeira. “Antes só comprava pela internet quem tinha cartão de crédito, hoje essa não é a realidade. Há diversas formas de pagamento e isso ficou mais acessível. Mas as coisas caminham juntas. Infraestrutura de internet, democratização de formas de pagamento financeiras e crescimento de serviços digitais”, avalia.

Ele pondera que, além da realidade do acesso à internet, ainda há os desafios com a logística do e-commerce e a loja física ainda é a maior responsável pelas vendas no Brasil. “Ainda há uma grande possibilidade de crescimento do e-commerce. A pandemia deu uma acelerada, mas ainda é muito aquém. Grandes varejistas que possuem físico e on-line, o on-line representa 15% a 20%”, destaca..

Pix parcelado e automático não acabará com cartões

A tecnologia tem trazido velocidade e reduzido os custos das empresas com o sistema financeiro. “Quando você compra pela internet, a tecnologia permite mais tempo, pesquisa de preço, velocidade e isso ainda está no domínio do cartão de crédito. O Pix não tem taxas. O mercado, porém, tem outras formas de pagamento e o fornecimento de crédito em outros formato é uma tendência”, analisa o gerente geral da Yuno, Nathan Marion.

“Há diversas formas de pagamento e isso ficou mais acessível. Mas as coisas caminham juntas. Infraestrutura de internet, democratização de formas de pagamento financeiras e crescimento de serviços digitais”, avalia.

Marion lembra que o crediário tinha muita força no varejo, mas já há fintechs oferecendo este tipo de serviço. “No Brasil, isso ainda é concentrado no cartão, porém algumas empresas já oferecem um QR Code, um código de Pix para pagar mensalmente, e o Pix caminha para a evolução disso. Acredito que deveremos ter o Pix parcelado, o débito automático entre outras funções”, sugere.

Entretanto, na visão do especialista, a evolução “não é o apocalipse do cartão de crédito. Eles irão coexistir. O cartão não só te dá a possibilidade de comprar parcelado, você transfere milhas, tem clube de benefícios”, avalia Marion.

O especialista do Instituto Millenium, Dennis Wang, também acredita na força do open finance, que é o banco aberto. “Hoje você tem uma conta com seus dados, mas eles são do banco. Com o open finance, ou sistema aberto bancário, você pode ir lá e compartilhar seu histórico com outras instituições”, explica.

Essa tendência facilitará ainda mais o acesso a produtos financeiros. “Quanto mais dados a instituição ou a empresa financeira tem sobre você, mais conforto e segurança elas têm para te oferecer produtos customizados e variados”, observa..

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