Diversificar investimentos é estratégia para reduzir riscos

Não há receita para a composição da carteira de investimentos. A análise das opções disponíveis no mercado vai depender do perfil e do objetivo do investidor, segundo especialistas em investimentos ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO. Para mitigar os riscos, eles aconselham diversificar a carteira de investimentos e ressaltam que o que aconteceu com a Lojas Americanas é pontual.
“O mercado financeiro brasileiro é um dos mais bem regulados do mundo”, frisa o sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga.
O economista e CEO da Philos Invest, Rafael Marques, aconselha esperar o mercado “acalmar” para investir em renda variável. Ele observa que os últimos dois anos foram marcados pela volatilidade, tanto interna como externa. E que, dessa forma, o investidor deve ser mais cauteloso. “Ele precisa dar um passo atrás na questão do risco, e em função disso, o mais indicado é investimento em renda fixa, na modalidade pós-fixado, que pode ser em CDI e em inflação, num patamar acima de 80%. Assim, o investidor consegue ter o seu capital defendido da inflação e aproveitando a alta taxa de juros”, diz. Hoje, o especialista não recomenda aplicações na modalidade pré-fixada.
Para Luis Novaes, da Equipe de Análise Terra Investimentos, a renda fixa deve seguir sendo a preferência dos investidores em 2023 devido ao patamar em que se encontram os juros. Ele afirma que a fatia de investimento que deve ir para a renda fixa depende do perfil do investidor. “Os investidores que tiveram uma tolerância maior ao risco podem alocar um capital maior em renda variável, com o objetivo de atingir uma rentabilidade maior”, diz.
“Com relação à renda variável, os papéis defensivos devem continuar como os preferidos do mercado, a alta de juros prejudica a atividade econômica, levando os ativos cíclicos a registrarem resultados ruins”, avalia. Para ele, os segmentos como energia elétrica, seguros e consumo essencial devem ser os preferenciais no mercado de ações. Ele acrescenta que a China pode se tornar um catalisador importante para as empresas de commodities, como petróleo, minério de ferro e proteínas, que possuem exposição na Ásia.
Ele afirma que o caso da Lojas Americanas foi um fato que gerou surpresa em todo o mercado, já que os balanços eram auditados e já havia recomendações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de como esses passivos devem ser contabilizados. “Portanto, esse é um daqueles riscos que é muito difícil de mitigar, seja um investidor profissional ou uma pessoa que esteja tentando proteger seu patrimônio”, observa.
Baixo percentual de varejo
O assessor na iHUB Investimentos, Henrique Lugarini, defende que a carteira para o pequeno investidor deve possuir um percentual baixo de varejo, levando em conta a questão da segurança e com uma diversificação considerável dentro do setor. “Atualmente, nós vivemos um momento de altas taxas de juros, em razão da escalada da inflação no último ano. Isso acabou trazendo um efeito negativo sobre a atividade econômica brasileira. E ainda não é certo se já atingimos o pico da taxa de juros, tendo em vista que os maiores gastos do governo podem impulsionar os índices de preços acarretando uma resposta do Banco Central. Essa perspectiva deve basear os investimentos neste ano”, observa.
Para ele, considerando o cenário atual, o ideal é ter um percentual menor em renda variável. “Isso pelo fato de a taxa Selic estar consideravelmente alta, e, desta forma, possibilitar ganhos maiores e riscos menores em títulos de renda fixa, respeitando sempre o FGC – Fundo Garantidor de Créditos”, diz.
Análise de perfil é importante
O sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, afirma que é necessário fazer um estudo para ter um direcionamento e assim definir estratégias de investimento, levando em conta o perfil e os objetivos do investidor. “De repente, um portfólio, com algumas ações para o recebimento de dividendo, com destaque para o setor elétrico. Outro, para ter ganho de capital. E num percentual um pouco menor em small caps. Em suma, diversificar estrategicamente aquele percentual do patrimônio em bolsa”, analisa. Madruga recomenda investimento em empresas lucrativas e com muito tempo de atuação no mercado de capitais.
Para o sócio da Compromisso Investimentos, Alberto Ribeiro, a taxa Selic com os patamares acima de dois dígitos, o mais indicado é concentrar de 80% a 100% dos investimentos na renda fixa, como Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária. “Além de produtos seguros eles garantem uma rentabilidade muito acima da poupança”, ressalta.
Para investidores que estão montando a reserva de emergência, esses produtos são os mais aconselháveis na análise do especialista. Já os investidores com apetite ao risco podem começar com 10% da carteira de investimentos em ações de grandes companhias, como Vale, Petrobras, bancos, entre outras companhias.Os investidores que são avessos aos riscos da Bolsa de Valores devem investir no Tesouro Direto e nos Certificados de Depósito Bancário (CDB) de bancos com Fundo Garantidor de Créditos (FGC). “O cliente conservador, com juros 13,75% deve manter 100% do seu dinheiro aplicado em renda fixa. E se ele tiver um prazo de horizonte um pouco maior ele pode aplicar no IPCA +”, diz.
CVM abre novo processo de investigação
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu novo processo para investigar o escândalo contábil da Americanas e destacou em seu site um atalho para denúncias sobre a empresa. Agora, são cinco investigações sobre o caso.
O processo mais recente foi aberto pela superintendência de acompanhamento de empresas e tem como objeto a divulgação de notícias, fatos relevantes e comunicados. A CVM não dá detalhes sobre a apuração.
Outros quatro processos foram abertos na semana passada, após a notícia de notícia de que o balanço da companhia deixou de contabilizar dívidas de R$ 20 bilhões, dando início a uma crise que derrubou o valor das ações da companhia.
Um deles está sob sigilo, mas foi aberto por área que investiga manipulação de mercado. Entre os processos públicos, um também apura o cumprimento das regras de divulgação pela empresa e outro analisa as divulgações financeiras da companhia.
O quarto processo da semana passada foi aberto após denúncia da Associação Brasileira de Investidores (Abradin) contra a gestão das Lojas Americanas e a empresa responsável pela auditoria de suas finanças, a PwC.
O presidente da Abradin, Aurélio Valporto, questionou em entrevista à Folha a atuação da auditoria, que também auditou balanços da Petrobras no período investigado pela Operação Lava Jato e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), também investigado por fraude contábil.
Ontem, a CVM decidiu destacar em seu site um atalho para o sistema de denúncias sobre irregularidades no mercado financeiro, com um banner indicando o link para “receber denúncias relacionadas aos fatos recentes envolvendo a companhia aberta Americanas S.A.”.
A autarquia diz ainda que interessados podem realizar denúncia anônima em área do site específica para esse fim.
As ações da Americanas despencaram quase 40% após a divulgação do escândalo contábil, que deu início ainda a uma batalha judicial entre a empresa e seus maiores credores e à renúncia do presidente da empresa, Sergio Rial, apenas nove dias após sua posse.
Nesta segunda, A S&P Global rebaixou a nota de crédito da Americanas de “B” (na escala global) e de “brA-” (na escala nacional Brasil) para “D”, o que significa situação de default (calote).
A empresa é alvo de ação judicial movida pelo Instituto Brasileiro de Cidadania (Ibraci) e escritórios de advocacia já começam a planejar uma ação coletiva nos Estados Unidos, nos moldes do processo que rendeu à Petrobras multa de US$ 2,95 bilhões (R$ 10 bilhões ao câmbio da época) por perdas após a operação Lava Jato. (Nicola Pamplona/Folhapress)
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