Dólar desvalorizou 4,8% em janeiro

São Paulo – O dólar terminou janeiro no ritmo que embalou boa parte do mês, mostrando forte queda, para uma mínima em mais de quatro meses, e quebrando importante suporte técnico, num dia amplamente favorável a moedas e outros ativos de risco após uma sequência de turbulentas semanas nas praças financeiras globais.
Por aqui, os números fiscais de dezembro decepcionaram, mas de toda forma o país terminou 2021 com o primeiro superávit primário em oito anos, com as medidas de dívida vindo melhores do que as expectativas do mercado. E fevereiro começa com atenção a decisões de política monetária (inclusive no Brasil) e a dados do mercado de trabalho norte-americano.
O dólar à vista fechou ontem em baixa de 1,59%, a R$ 5,3059. É o menor valor desde 22 de setembro do ano passado (R$ 5,3033). Na mínima intradiária, a cotação chegou a descer para R$ 5,2848 (-1,98%).
O declínio percentual diário foi o mais forte desde o último dia 19 (-1,68%), o que afundou o dólar abaixo de sua média móvel linear de 200 dias pela primeira vez desde setembro do ano passado.
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O real figurou entre os melhores desempenhos nos mercados globais de câmbio neste pregão.
No acumulado de janeiro, o dólar recuou 4,80%. É a maior desvalorização mensal desde novembro de 2020 (-6,82%) e a mais expressiva para meses de janeiro desde 2019 (-5,57%).
A moeda brasileira também foi destaque na performance mensal. Com ganho de 5,04%, o real só ficou atrás do peso chileno (+6,4%) na seleta lista de divisas que conseguiram começar o ano vencendo o dólar. De 33 importantes pares, o dólar só perdeu valor em janeiro contra dez.
Ontem, o comportamento da taxa de câmbio se manteve alinhado com os rumos do dólar no exterior. O índice do dólar frente a uma cesta de divisas de países ricos acelerou as perdas para 0,6% no fim da tarde, nas mínimas da sessão. Divisas emergentes dominavam a lista de ganhadores do dia, com lira turca (+1,9%) e florim húngaro (+1,8%), além do real, na dianteira.
Em Nova York, as bolsas de valores tentavam se manter em alta, o que favorecia a tomada de risco em outras partes do mundo, movimento que beneficia moedas emergentes, caso do real.
Janeiro foi marcado por turbulência em várias classes de ativos, mas a de moedas emergentes resistiu, com analistas comentando que investidores deixaram posições em mercados ricos e apostaram em ativos de praças vistas como descontadas – com o Brasil despontando entre as preferências.
O economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks, disse no Twitter que os mercados emergentes conseguiram passar bem pela tremedeira de janeiro porque, de toda forma, as taxas de juros de longo prazo nos EUA seguem em patamares baixos.
“Os juros de curto prazo nos EUA não importam para os mercados emergentes”, disse. As taxas de curto prazo – mais correlatas a expectativas de mudanças de juros nos EUA – dispararam em janeiro, indicando elevações de juros pelo Fed ao longo de 2022.
Sobre o real, ele disse que o grande fluxo negativo de investidores locais em 2021 aparentemente acabou. Com isso, o IIF mantém estimativa de taxa “justa” de R$ 4,50 por dólar. “Coisas boas no balanço de pagamentos estão acontecendo para sustentar isso, incluindo um déficit em conta corrente menor do que o pré-Covid e os primeiros sinais de que os fluxos de portfólio estão voltando”, afirmou.
Mais no curto prazo, a apreciação recente do real já coloca a moeda brasileira em patamares que podem chamar compras de dólar. “Apesar dos comentários de que o real pode se fortalecer até R$ 5,05 por dólar, não acreditamos. Achamos que a grande correção já foi”, comentou Alfredo Menezes, gestor na Armor Capital.
Bolsa – O Ibovespa subiu 0,53%, a 112.505,53 pontos. Com isso, o índice acumulou em janeiro valorização de 7,33%, a maior para um mês desde dezembro de 2020.
Emissão de ativos bateu recorde
São Paulo – O total de ativos mobiliários emitidos em 2021 no mercado de capitais do Brasil foi de R$ 722,2 bilhões, o maior montante para um único ano, disse a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em relatório publicado ontem.
O resultado representa um crescimento de cerca de 66,7% ante 2020 e foi puxado especialmente pelo desempenho no quarto trimestre, quando foram emitidos R$ 252,1 bilhões em ativos.
Entre os segmentos de ativos, o crescimento anual foi ajudado pela emissão de debêntures, que respondeu por cerca de 35% do total emitido, com R$ 251 bilhões, mais do que o dobro dos R$ 121,2 bilhões no ano anterior.
O total de ações emitidas também aumentou, de R$ 118,6 bilhões em 2020 para R$ 130,7 bilhões.
As emissões de Fundos de Investimentos em Participações (FIPs) avançaram de R$ 51 bilhões para 106,3 bilhões em entre 2020 e 2021.
O relatório também mostra que os volumes financeiros médio diários nos mercados secundários à vista de ações, debêntures e Fundos de Investimento Imobiliários continuaram em rota de crescimento ante o ano anterior.
No total anual de contratos de derivativos negociados, os juros futuros (DIs) subiram de 516,7 milhões para 653,9 milhões de contratos, enquanto no Ibovespa futuro houve avanço de 41,9 milhões para 49,1 milhões de contratos. Já o número de contratos de dólar futuro caiu de 80,2 milhões em 2020 para 70,9 milhões em 2021.
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