Dólar fica abaixo de R$ 5,5 com medida do BC
São Paulo – O dólar fechou na mínima em mais de três semanas na última sexta-feira, engatando a quarta queda seguida e ficando abaixo de R$5,50, ao fim de uma semana marcada pelo tom mais firme do Banco Central (BC) na política monetária e por expectativa de ampla liquidez no mundo com os juros baixos nos Estados Unidos.
O real revezou com a lira turca o posto de moeda com melhor desempenho global nesta sessão, depois de os bancos centrais de Brasil e Turquia surpreenderem com elevações de taxas de juros acima do esperado nos últimos dois dias.
A divisa brasileira subiu 1,4% na semana, enquanto na Turquia – cujo BC promoveu um choque de juros com aumento de 200 pontos-base na taxa – a lira saltou 4,8% na semana. Também ajudou o tom mais brando do banco central dos EUA sobre inflação, que reforçou expectativas de manutenção de juros perto de zero por vários anos –cenário que favorece mercados emergentes.
No Brasil, o Copom elevou os juros em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, ante taxa de 2,50% esperada. O BC indicou ainda mais altas na taxa Selic nos próximos meses. Analistas avaliaram que a sinalização do BC é positiva para o câmbio, mas ponderaram que o real segue influenciado por outros fatores.
Evidência da instabilidade que ainda impera no mercado cambial, uma vez que o dólar variou nesta sexta entre R$ 5,565 (-0,04%) a R$ 5,4492 (-2,12%).
Um dos responsáveis pela estratégia macro da gestora AZ Quest, Bernardo Zerbini, lembrou que o comportamento do câmbio é muito influenciado pelo desempenho da moeda no exterior.
“É difícil afirmar que o dólar (no exterior) vai se enfraquecer. Os EUA vão crescer muito mais que outros países. Sobre a Covid, enquanto fora tudo parece estar meio parado, nos EUA a vacinação está acontecendo. Os EUA estão com cheiro de que serão o primeiro país a entrar numa vida normal”, disse.
O índice do dólar subia 0,1% nesta sessão e tocou uma máxima em nove dias.
Avaliações – O economista da gestora Rio Bravo, João Leal, chamou atenção para os reveses ao câmbio vindos do lado fiscal, avaliando que esse elemento limita a queda do dólar abaixo de R$ 5,30 reais ou R$ 5,35.
“Não deve haver grande melhora na situação fiscal do país até o fim do ano”, disse. “Em setembro, outubro a discussão eleitoral vai estar bastante intensa. Isso vai contribuir para manter o câmbio (dólar) mais alto”, avaliou.
O dólar spot recuou na sexta-feira 1,50%, a R$ 5,4839 na venda, menor patamar desde 24 de fevereiro (R$ 5,4219). A moeda não caía por quatro sessões consecutivas desde as também quatro baixas entre 4 e 9 de novembro do ano passado.
O alívio no dia 19 de março empurrou o dólar para desvalorização de 1,36% no acumulado da semana. A moeda cai 2,12% no mês, mas ainda sobe 5,63% em 2021.
O Itaú Unibanco destaca que, na próxima semana, o noticiário sobre a evolução da pandemia no Brasil continuará no radar dos investidores. “Nesse contexto, discussões sobre decretação de estado de calamidade pública serão acompanhadas de perto”.
A decretação de estado de calamidade pública em 2020 liberou o governo de cumprir metas fiscais e permitiu aumento explosivo de gastos para combate à pandemia. Com isso, o déficit primário do governo central foi a um recorde de R$ 743,087 bilhões, 10% do Produto Interno Bruto (PIB), deixando ainda mais exposto o problema fiscal do Brasil, que vem afetando os mercados locais há anos. (Reuters)
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