Dólar recua frente ao real em meio a acenos do novo governo

O dólar teve forte queda frente ao real ontem, na contramão do exterior, conforme investidores continuaram ajustando posições na esteira de disparada da moeda no início da semana, reverberando ainda acenos do novo governo à manutenção de reformas e outras medidas de gestões anteriores.
No mercado à vista, o dólar tombou 1,81%, a R$ 5,3527, na maior desvalorização percentual diária desde 20 de dezembro (-1,97%).
“Os mercados seguem dando ao governo o benefício da dúvida. A operação abafa deu algum resultado. Hoje descolamos para o bem em bolsa e câmbio em relação ao mundo”, disse em publicação no Twitter Sergio Machado, sócio da NCH Capital.
Seus comentários fizeram referência a uma série de declarações de ministros de Lula nos últimos dias, que investidores interpretaram como acenos com a intenção de acalmar os mercados, depois que o real e o Ibovespa foram derrubados acentuadamente nos primeiros dois dias do novo governo.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, por exemplo, disse na terça-feira não haver nenhuma proposta sendo pensada nesse momento para revisão de reformas, incluindo a da Previdência. Com a declaração, Costa desautorizou o novo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que havia feito críticas à reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro no início da semana, sinalizando que parte das mudanças poderiam ser revistas, o que havia azedado o humor dos investidores.
Já o senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado pelo novo governo para comandar a Petrobras, disse que não haverá intervenção nos preços dos combustíveis, o que tem impulsionado as ações da estatal.
Investidores também atribuíram o tombo do dólar nesta quinta-feira a questões técnicas, depois de a moeda ter saltado mais de 3% no acumulado das duas primeiras sessões da semana, para acima de R$ 5,45. Na véspera, a divisa norte-americana já havia interrompido o rali recente ao fechar com variação negativa de 0,04%.
“A queda de hoje está muito pautada num dia sem muitas notícias da parte fiscal e da parte política, igual a gente viu no início da semana. E, como o dólar já estava num preço alto, ali na casa dos R$ 5,45, é natural que a gente tenha essa correção”, disse Lucca Ramos Almeida, sócio da One Investimentos.
“O que a gente tem que observar é se esse movimento vai ser contínuo, à medida que a gente for tendo mais notícias da parte política, perante as questões fiscais que a gente tem atualmente”, completou ele.
Almeida destacou a PEC da Transição, que permite amplos gastos com o financiamento do Bolsa Família neste ano, como a maior preocupação do mercado neste momento, já que investidores temem que um governo muito dispendioso eleve os custos da dívida e exija a manutenção dos juros em patamar elevado por mais tempo, o que prejudicaria a atividade econômica.
Ele também apontou o cenário externo como um possível obstáculo a uma recuperação adicional do real, conforme o banco central norte-americano segue aumentando sua taxa de juros.
Dados de ontem trazendo novas evidências de um mercado de trabalho forte nos Estados Unidos aumentaram os temores de que o Federal Reserve possa continuar elevando os custos dos empréstimos por mais tempo do que o esperado, medo que elevava o índice do dólar frente a uma cesta de pares fortes em 0,80% na tarde de ontem.
Ouça a rádio de Minas