Economistas alertam para riscos com Trump e juros altos

São Paulo – A economia mundial caminha para uma desaceleração com prejuízos generalizados e o Brasil não é uma exceção, provavelmente tendo perdas por conta da preocupação excessiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com relação ao aço. Além disso, o juro alto, a inflação resistente e o clima de disputa que já se desenha para as eleições de 2026 complicam o quadro no País. Essa foi a avaliação dos economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) que participaram de seminário de análise conjuntural, realizado pelo Ibre/FGV e pelo Estadão.
Para o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna, a chance de que Trump alcance o objetivo de “fazer a América grande novamente”, por meio da reconstrução da indústria americana, “é quase zero, mínima realmente”. “É até curioso, porque no mundo inteiro o segmento industrial destruiu empregos”, disse, observando que a tributação “excepcional” sobre aço e alumínio vem do pensamento de uma frase do próprio Trump de que o “país que não tem aço não é país”. Assim, o presidente quer produzir aço dentro dos EUA, “o que é uma visão estreita em uma situação que poderia ser resolvida de outra maneira”.
“Inflação resistente”
Ao mesmo tempo, no Brasil o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra uma inflação “super-resistente”, observou Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre/FGV, o que indica um “momento desafiante para a política econômica”. Contudo, acrescentou, os objetivos políticos estão vindo na contramão do que a gestão de uma política econômica recomendaria, avalia Castelar.
“Há um processo de desaceleração que até certo ponto surpreendeu Os primeiros dados que estamos vendo, PIB (Produto Interno Bruto), indústria, serviços, estão vindo relativamente fracos. E, não obstante, a inflação segue bastante alta. É verdade que fevereiro foi influenciado por dados de Itaipu, mas nos últimos 12 meses você vê uma inflação resistente», disse, observando que isso agrava o delicado quadro fiscal do País. “A própria ministra do Planejamento (Simone Tebet) disse esta semana que o arcabouço não é sustentável daqui a dois anos; então, o próprio governo vem apontando insustentabilidade fiscal.”
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Coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos observou que o Brasil ainda está crescendo muito acima do potencial e tem déficit primário (saldo negativo entre a arrecadação e as despesas do governo, fora juros), além de dívida elevada e ascendente.
Em sua avaliação, a expectativa é de uma desaceleração no consumo das famílias, embora no início do ano haja o reajuste do salário mínimo e o governo venha adotando medidas para acelerar o consumo. “Então, temos visão um pouco cautelosa sobre o ritmo (de consumo) das famílias, porque mostra o quanto a demanda do Brasil está pressionada, e isso se reflete em mais ou menos inflação.”
Apesar disso, Senna afirma que o Banco Central (BC) terá de pausar o ciclo de aperto monetário depois de maio “e dizer que não pode botar o juro em 17%, 18%”. “O BC vai ter de fazer o que bancos centrais do mundo fizeram no pós-pandemia: elevar juros (até certo ponto) e dizer: ‘Fiz o que dá para fazer, os juros estão em território restritivo e, com isso, vou conseguir a convergência da inflação’”, disse.
Reportagem distribuída pela Estadão Conteúdo
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