Empresas desistem da abertura de capital

Se no início do ano os juros mais elevados – e com estimativa de novas altas – e as instabilidades provocadas pelo ano ser eleitoral, já provocavam uma tendência de desistências ou suspensões de processos de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a guerra entre Rússia e Ucrânia esfriou ainda mais o ritmo das empresas dispostas a abrir capital. Em 2022, o número de empresas que desistiram de abrir o capital já chega a 23.
Entre as empresas que suspenderam ou cancelaram o processo estão: a BMRV Participações (empresa de Belo Horizonte), a JFL, Self It Academias, Cerradinho Bioenergia, CSN Cimentos, Datora, VIX Logística, Verzani & Sandrini, Monte Rodovias, Ammo Varejo, Bluefit Academias, Madero, Dori Alimentos, Environmental ESG, Vero S.A, ISH Tech, Coty Brasil Comércio, Claranet Technology, Fulwood, Cencosud Brasil Comercial, Cantu Store, Interplayers Soluções, e Captalys Asset.
De acordo com o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, o momento atual não está favorecendo muito os IPOs. Entre os fatores está a alta dos juros, o que aumenta o custo de capital e reduz o valor das companhias.
“Em parte de 2021, o mercado estava em um momento de aceleração, mas, no final do ano, muitas companhias desistiram dos IPOs. Acredito que este time, possivelmente, já passou e estamos chegando perto de um momento não interessante para os IPOs. Mas é preciso avaliar caso a caso. Para as empresas que já estão com o processo adiantado, pode ser interessante, assim como para setores que podem ser beneficiados ou menos afetados com o atual cenário”.
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Ainda segundo Oliveira, cenários de instabilidade econômica, guerras, aumentos de juros e inflação não são favoráveis para a maioria dos IPOs e no Brasil, 2022, ainda será marcado pelo processo eleitoral, o que sempre traz instabilidade.
No atual momento, além das empresas com os processos avançados, podem ser beneficiadas empresas de setores básicos. “O processo de abertura de capital pode ser interessante se a empresa conseguir abraçar a janela de oportunidades e em setor onde existe a possibilidade de benefícios com os juros altos, como as seguradoras. Também podem ser menos impactadas as de serviços necessários como de energia, internet e saneamento. Mas, mesmo assim, é importante avaliar cada caso”.
De acordo com a analista da Equipe da Terra Investimentos, Heloise Sanchez, no atual momento o cenário como um todo é bastante incerto, o que impacta na intenção de realizar os IPOs.
“Ao mesmo tempo que em um dia temos as bolsas do mundo subindo e o petróleo caindo, no outro as bolsas passam a operar em baixa e o petróleo volta a subir, tudo isso devido às incertezas entre a guerra entre Rússia e Ucrânia. Do outro lado, temos o Brasil atraindo a presença do investidor estrangeiro que já ingressaram com R$ 81 bilhões, atraídos, principalmente, pela elevada taxa de juros e com perspectiva de novos aumentos”.
Setores
Ela destaca que, no momento, os setores de mineradoras e petróleo se destacam nesse período incerto, porém não há no radar nenhuma empresa desses setores aguardando para fazer um IPO.
“Pelo contrário, atualmente as empresas que estão nessa “fila” são dos setores de varejo, tecnologia e incorporadoras, que acabam sendo impactadas negativamente com esse cenário de alta de juros da taxa Selic. Ainda assim, mesmo para as empresas mineiras, o cenário ainda é bastante incerto devido às tensões entre Rússia e Ucrânia, além de todo o cenário interno de inflação elevada, alta de juros e risco fiscal”, explicou.
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