Entidades de Minas Gerais criticam aumento da Selic

Entidades empresariais mineiras repudiaram, nesta quarta-feira (19), a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual. A elevação já havia sido sinalizada na reunião do colegiado em janeiro. A taxa foi para 14,25% ao ano, o maior patamar desde outubro de 2016.
“Embora já esperado, o aumento da Selic, preocupa todo o setor produtivo pois não estamos percebendo ainda os efeitos nos aspectos relacionados ao controle inflacionário. Estamos percebendo é uma desaceleração de investimentos por parte dos empresários e uma grande pressão sobre os custos operacionais, com custos elevados (energia, matéria-prima, logística) que podem ter um impacto adicional caso dependam de financiamentos para capital de giro”, alerta o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Cledorvino Belini.
Na sua avaliação, já é notório a desaceleração da atividade econômica com o aumento da taxa de juros, devido aos possíveis impactos negativos no custo do crédito e nos investimentos produtivos, além da redução do consumo por parte dos consumidores. “Estamos atentos ao que o relatório irá sinalizar para as os próximos passos da política monetária, o que ajudará empresas a planejarem suas estratégias para os próximos meses. Além de considerarmos o cenário econômico internacional”, ressalta.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) reconhece a importância do controle da inflação para a estabilidade econômica, mas alerta para os impactos negativos dos juros elevados. “A elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos produtivos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira e mineira”, ressalta o presidente da entidade, Flávio Roscoe.
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Para Roscoe, a adoção dessa medida tende a desacelerar ainda mais a atividade econômica, refletindo na geração de empregos e renda das famílias. Ele também aponta que a taxa básica de juros em patamar tão elevado aumenta significativamente o custo financeiro das empresas, que enfrentam despesas maiores com empréstimos e capital de giro, além de encarecer os produtos finais, pressionando a inflação – justamente o que a política monetária busca conter.
Política fiscal é necessária para equilíbrio econômico
O presidente da Fiemg reforça a necessidade de uma política fiscal devidamente alinhada à política monetária, de modo a garantir maior equilíbrio e eficiência na condução da economia.
“É essencial implementar medidas que não apenas mantenham a inflação sob controle, mas também contenham os gastos públicos, preservem o ambiente de negócios, estimulem investimentos produtivos e promovam o crescimento econômico de maneira sustentável”, afirma, ao acrescentar a necessidade de um alinhamento de discurso entre a autoridade monetária e o governo, para que o custo de alcançar o equilíbrio econômico seja o menor possível para a economia e a sociedade.
Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a estratégia do governo não está surtindo o efeito desejado, pois a inflação continua em alta. “A manutenção de taxas altas de juros por longos períodos pode prejudicar a recuperação econômica, limitar a expansão dos negócios e afetar a criação de empregos”, argumenta o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva.
Com juros elevados, a redução do consumo, o endividamento e a restrição ao investimento são pontos que preocupam o setor de comércio e serviços, como explica o dirigente. “Com a taxa Selic mais alta, o crédito fica mais caro, desestimulando o consumo, especialmente de bens duráveis e de maior valor agregado. O aumento dos juros também pode gerar inadimplência de empresas e consumidores, dificultando a recuperação econômica”. Outro ponto levantado por Souza e Silva, é a restrição ao investimento. “As empresas reduzem os investimentos em expansão, o que pode impactar o crescimento do setor e a geração de empregos”, disse.
De acordo com o presidente da CDL/BH, um outro ponto para o controle da inflação é o equilíbrio fiscal, com o governo gastando menos do que arrecada. “Reconhecemos a importância do controle da inflação, mas defendemos um equilíbrio entre essa meta e a necessidade de estimular o crescimento econômico”, ressalta Souza e Silva.
A escalada da taxa de juros é extremamente prejudicial para a nossa cadeia produtiva, alertou a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG).
“Sabemos que essa decisão é reflexo das incertezas em relação ao pacote fiscal do governo e à conjuntura internacional. Contudo, o Brasil tem que reagir e fazer seu dever de casa nos múltiplos fatores econômicos que orbitam esse grande desafio. Enquanto isso, o comércio de bens e serviços clama por soluções que equilibrem a necessidade da estabilidade econômica com o crescimento sustentável. Até lá, esse setor, que é o motor do desenvolvimento do País e gerador de emprego e renda, fica totalmente penalizado, advertiu a entidade por meio de nota.
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