Banco Central dos EUA reduz juros em 0,5 ponto percentual e cita maior confiança na inflação

Washington – O Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, cortou a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (18), dando início ao que se espera que seja um ciclo firme de flexibilização da política monetária, com uma redução maior do que a habitual nos custos de empréstimos, em movimento que vem após crescente inquietação com a saúde do mercado de trabalho. Foi a primeira redução na taxa de juros desde 2020.
“O Comitê (Federal de Mercado Aberto) adquiriu maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2% e julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão mais ou menos equilibrados”, disseram formuladores de política monetária em sua declaração, que teve a divergência da diretora Michelle Bowman, que defendeu um corte de apenas 0,25 ponto percentual.
Os formuladores de política monetária veem a taxa de referência do Fed caindo mais 0,50 ponto percentual até o final deste ano, outro 1 ponto percentual em 2025 e mais 0,50 ponto percentual em 2026, chegando a uma faixa de 2,75% a 3,00%.
O ponto final reflete um ligeiro aumento, de 2,8% para 2,9%, na taxa básica de longo prazo, considerada uma posição “neutra” que não incentiva nem desestimula a atividade econômica.
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Embora a inflação “permaneça um pouco elevada”, o comunicado do Fed diz que as autoridades optaram por reduzir a taxa básica para a faixa de 4,75% a 5,00% “à luz do progresso da inflação e do equilíbrio dos riscos”.
O Fed “está preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a realização das metas do Comitê”, com atenção para “ambos os lados de seu mandato duplo” de preços estáveis e pleno emprego.
O chair do Fed, Jerome Powell, dará uma coletiva de imprensa para discutir a decisão de política monetária e as perspectivas econômicas. A reunião do banco central nesta semana foi a última antes de os eleitores norte-americanos irem às urnas no que se espera que seja uma eleição presidencial acirrada nos Estados Unidos em 5 de novembro.
O tamanho do corte inicial provavelmente levantará questões sobre a estratégia do Fed e se os formuladores de política monetária estão apenas tentando levar em conta o rápido declínio da inflação desde o ano passado, ou se estão tratando de preocupações entre algumas autoridades de que o mercado de trabalho dos EUA pode estar se enfraquecendo mais rapidamente do que o desejado ou necessário para garantir que a inflação retorne totalmente à meta de 2% do Fed.
Atualmente, ela está cerca de 0,50% acima dessa meta, e as novas projeções econômicas mostram que a taxa anual de aumento do índice PCE está caindo para 2,3% até o final deste ano e para 2,1% até o final de 2025.
A taxa de desemprego deve terminar este ano em 4,4%, mais alta do que os atuais 4,2%, e permanecer assim até 2025. O crescimento econômico é visto em 2,1% até 2024 e 2% no próximo ano, mesmos patamares da última rodada de projeções emitidas em junho.
O Fed manteve sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50% desde julho de 2023, quando a inflação caiu de um pico em 40 anos para um nível que agora está se aproximando da meta do banco central.
Bowman é primeira diretora do Fed a divergir de decisão de juros desde 2005
A diretora do Federal Reserve Michelle Bowman se tornou a primeira diretora do banco central dos Estados Unidos a votar contra uma decisão de política monetária desde 2005, negando ao chair Jerome Powell um consenso claro em um momento crucial.
Todos os outros 11 membros votantes optaram pela redução da taxa de juros do Fed em 50 pontos-base. Bowman, segundo o Fed, votou em um corte de 25 pontos.
Dos 19 membros do Fed que participam de cada reunião de política monetária, apenas 12 votam na decisão. O grupo votante inclui oito membros permanentes, sendo os sete membros do Conselho do Fed e o presidente do Fed de Nova York, com os 11 presidentes de filiais regionais restantes trocando turnos de um ano em grupos de quatro.
Antes de 1995, as dissidências dos diretores do Fed não eram raras, mas, desde então, foram os presidentes que representaram a maioria esmagadora das mais de 90 dissidências nesse período. Em geral, os presidentes buscam consenso nas decisões, às vezes chegando a compromissos para evitar uma discordância aberta que poderia ser vista como algo que prejudica a credibilidade.
Dólar despenca mais de 1% ante o real
O dólar despencou ante o real após o Federal Reserve (Fed) anunciar na tarde desta quarta-feira um corte de 50 pontos-base em sua taxa de juros, e não de 25 pontos-base como parte do mercado esperava.
Após o anúncio, o dólar à vista, que estava próximo da estabilidade, passou a ceder mais de 1% ante o real, em sintonia com o recuo firme da moeda norte-americana também no exterior.
Às 15h33 o dólar à vista caía 1,32%, a 5,4141 reais na venda, enquanto na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento cedia 1,00%, a 5,4335 reais na venda.
“A decisão do Fed ajuda muito o Brasil, gera um alívio muito grande”, comentou logo após o anúncio João Ferreira, sócio da One Investimentos, ao avaliar a queda do dólar ante o real e o recuo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) — outro efeito perceptível no mercado brasileiro.
Às 15h32, a taxa do DI para janeiro de 2031 estava em 11,91%, em baixa de 0,12 pontos-base ante o ajuste de 12,03% da véspera.
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