Finanças

Fraudes bancárias digitais superam R$ 10 bilhões no Brasil

Migração das organizações criminosas para o ambiente virtual é uma realidade irreversível, alerta a Polícia Federal
Fraudes bancárias digitais superam R$ 10 bilhões no Brasil
Crédito: Reprodução Adobe Stock

São Paulo – As fraudes bancárias digitais e golpes por cartões alcançaram a marca inédita de R$ 10,1 bilhões no Brasil em 2024, segundo dados divulgados nesta terça-feira (11) pela Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban). O avanço do crime organizado sobre o sistema financeiro digital está no radar da Polícia Federal (PF). O diretor-geral da corporação, Andrei Passos Rodrigues, trata o fenômeno como “cangaço digital” e avalia que a migração das organizações criminosas para o ambiente virtual é uma realidade irreversível.

Para conter o crime organizado, a PF mudou a estratégia de atuação. Antes, as investigações se concentravam nas ocorrências individuais. Hoje, a corporação busca a origem das fraudes para estancar os golpes pela raiz. “Não adianta ter um volume imenso de operações e investigações se ao fim o resultado é insignificante”, afirmou o diretor-geral da Polícia Federal nesta terça em evento organizado pela Febraban para debater caminhos de prevenção e repressão a fraudes, segurança cibernética e bancária.

Sob a gestão de Andrei Rodrigues, a PF definiu três eixos prioritários de atuação contra fraudes digitais. O primeiro é a integração do setor público com o setor privado e entre as instituições públicas. Desde 2017, a Polícia Federal tem um acordo com a Febraban para trocar informações que facilitem as investigações. “Esse não é só um desafio das instituições de segurança”, afirmou o diretor-geral da PF.

Andrei Passos Rodrigues
Andrei Passos Rodrigues alerta para o fenômeno do “cangaço digital” | Crédito: José Cruz / Agência Brasil

O segundo é a descapitalização das organizações criminosas para interromper suas operações. E o terceiro é a cooperação internacional. “Hoje não há fronteiras ao crime”, declarou Andrei na palestra.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Federação Brasileira de Bancos lançaram no mês passado uma “aliança nacional” para combater as fraudes bancárias digitais.

Reestruturação do Coaf

O secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, também esteve no evento. Ele defendeu que a reestruturação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) é o próximo passo para “desestruturar a criminalidade organizada”. “Nós precisamos que o Coaf seja forte para que, junto com o sistema financeiro, possamos separar o joio do trigo”, ressaltou.

Em busca de soluções conjuntas, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, propôs punições administrativas para pessoas que “alugam” o CPF para terceiros movimentarem dinheiro ilegal, os chamados “laranjas”: “Precisamos banir essas pessoas e impedi-las de realizarem transações financeiras, excetuando-se aquelas transações para crédito de seu salário, permitindo somente saques e a não realização de transferências com origem nestas contas, seja por TED ou Pix.”

Sidney também afirmou que é preciso “cortar na própria carne” e responsabilizar executivos de instituições financeiras negligentes com a fragilidade de contas e que permitem que “criminosos consigam abrir contas com o único intuito de ter uma conta de passagem para transitar recursos ilícitos”.

Número de golpes evitados corresponde a R$ 51,6 bilhões

O número de golpes evitados contra bancos e cartões de crédito cresceram 10,4% em 2024 ante 2023, representando 53,4% das fraudes registradas no período. Caso fossem concretizadas, o prejuízo estimado chegaria a R$ 51,6 bilhões, segundo dados do Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian.

Outro levantamento da Serasa, feito com consumidores, aponta que 50,7% dos brasileiros foram vítimas de fraudes no último ano, um salto de 9 pontos percentuais em relação a 2023. Desse total, 54,2% das vítimas afirmaram ter perdido dinheiro.

Entre os tipos de fraudes mais recorrentes, o uso indevido de cartões de crédito liderou o ranking (47,9%), seguido por golpes financeiros como boletos falsos e fraudes via Pix (32,8%), phishing (21,6%) e invasão de contas bancárias ou redes sociais (19,1%).

Tais ocorrências impactaram a confiança dos consumidores nos métodos de pagamento on-line, segundo a Serasa. O uso do Pix para realizar transações caiu de 69% em 2023 para 60% em 2024 e a perspectiva de segurança sobre a modalidade foi de 32% para 22% no mesmo período. Já o cartão de crédito ganhou espaço, com 84% dos pagamentos realizados (ante 79% em 2023) e considerado confiável para 60% dos respondentes (46% no ano anterior).

Em relação à capacidade de proteção das instituições, 49% dos entrevistados consideram as empresas de cartão de crédito como eficazes na proteção contra fraudes – um aumento em relação aos 41% de 2023.
Agências governamentais (37%) e marketplaces de comércio eletrônico (33%) também figuram entre os segmentos que os brasileiros consideram mais seguros, enquanto provedores de pagamento tiveram queda na credibilidade, de 27% para 23%.

Sete em cada 10 consumidores (76%) ouvidos pela pesquisa declararam, ainda, que é provável ou muito provável pagarem mais caro por uma marca em que ofereça segurança on-line – em 2023 esse indicador era de 62%.

O diretor de autenticação e prevenção à fraude da Serasa Experian, Caio Rocha, avalia que “esse crescimento reflete a crescente preocupação com a integridade dos dados e o impacto do risco reputacional, especialmente para os bancos, que precisam reforçar a confiança dos clientes ao oferecer soluções seguras e robustas contra fraudes”.

Proteção

O levantamento aponta ainda que a biometria física é o método mais reconhecido pelos consumidores para proteção contra fraudes, passando de 59% em 2023 para 67% em 2024. Outros métodos, como códigos PIN enviados para celulares (de 45% para 48%) e perguntas de segurança (de 36% para 40%), também são utilizados, mas enfrentam limitações contra golpes sofisticados.

“Quanto mais robusto for o processo de autenticação, menores são as chances de sucesso dos criminosos. Com o avanço de golpes sofisticados, como deepfakes e fraudes impulsionadas por inteligência artificial, é importante considerar a adoção de tecnologias que sejam aprimoradas constantemente, além de uma estratégia de prevenção à fraude em camadas, combinando diferentes tecnologias para reforçar a segurança e fortalecer a confiança nos serviços digitais”, afirma Rocha.

Os dados foram coletados em dois períodos distintos: de 7 a 22 de novembro de 2023 (804 entrevistas) e de 4 a 18 de novembro de 2024 (877 entrevistas), todas realizadas com pessoas físicas (PF). A margem de erro para os resultados é de 3,4% em 2024 e 3,5% em 2023, com intervalo de confiança de 95%.

A amostra representa um perfil demográfico predominantemente formado por pessoas da classe B, com idade média de 41 anos e residentes em capitais. Entre os respondentes, 54% são do gênero feminino e 47% do masculino. A idade média passou de 39 anos em 2023 para 41 anos em 2024. Em termos regionais, a maior concentração está no Sudeste, com 45% dos respondentes em 2024, enquanto o Centro-Oeste registrou crescimento na participação, passando de 7% para 10%.

Reportagem distribuída pela Estadão Conteúdo

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