Galípolo defende agressividade do BC para aumentar a taxa Selic

Brasília- O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse nesta quarta-feira (12) que é esperado que o BC seja mais agressivo ao promover elevações da taxa Selic e mais cauteloso em momentos de corte dos juros básicos.
Em evento promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, no Rio de Janeiro, Galípolo afirmou que cabe à autoridade monetária ter “parcimônia” na observação de dados econômicos para ter a certeza de que eles confirmam uma tendência, e não uma volatilidade. “Reação preventiva precisa sempre existir, mas é esperado também que o BC tenha uma função de reação assimétrica para altas e para baixas (da Selic). Se o BC deve ser mais agressivo num momento de alta, ele deve ser mais parcimonioso e cauteloso no momento de fazer qualquer movimento para baixo”, disse.
A autarquia decidiu em janeiro seguir o ritmo de aperto nos juros já previsto ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.
Galípolo disse ser natural que os agentes de mercado observem dados de atividade para monitorar os efeitos da política monetária, mas sugeriu cautela nas avaliações. “O Banco Central vai tomar o tempo necessário para ter a certeza de que os dados que estão chegando confirmam uma tendência, e não simplesmente volatilidade de dados de alta frequência”, afirmou, enfatizando que o nível de juros caminha para patamar bastante elevado.
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Galípolo disse que o BC optou por três altas consecutivas de 1 ponto percentual na Selic, e não uma alta direta de 3 pontos porque o ambiente é dinâmico e é necessário observar os movimentos da economia com o tempo. Para ele, a autarquia não tem em seu mandato reduzir volatilidades, mas “seria bom se não agregasse”.
Restando apenas mais uma alta de 1 ponto percentual já indicada pelo BC para a Selic, ele afirmou que com a aproximação do fim desse “guidance”, “o barco tende a balançar mais”, passando a haver um espectro mais amplo de possíveis atuações. “Acho que a gente ainda precisa de tempo”, disse. “Vamos ganhar tempo para ver como dados vão reagindo”, ponderou.
Ele ainda reafirmou que o BC tem as ferramentas para colocar os juros em patamar restritivo e seguir nessa direção, acrescentando que “o remédio vai funcionar”.
Em relação ao tema das contas públicas, o presidente do BC avaliou que para um mesmo nível de gasto fiscal parece que o impulso na economia brasileira tem sido maior do que se imaginava. Para ele, esse movimento pode ter ocorrido porque há um elemento de distribuição de renda no atual governo, que se reflete em demanda e na inflação.
Galípolo acrescentou que o pagamento de precatórios – que teve aceleração no atual governo – tem um efeito de impulso fiscal, embora seja difícil estimar o impacto na economia.
Galípolo comenta tarifas de Trump
Galípolo, disse que ainda há muita incerteza sobre as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas acrescentou que a autarquia tem ouvido que o Brasil poderia sofrer impacto menor devido à sua inserção menor na correlação com os EUA.
O presidente do BC afirmou que o receio pelo “choque de tarifas” promovido por Trump desde sua vitória eleitoral mudou o cenário que o BC tem assistido. “Curiosamente, parece que ao longo de 2025 temos ouvido mais a ideia de que pelo fato de o Brasil não de inseriu tão bem do ponto de vista da correlação com a economia norte-americana, talvez o Brasil sofra menos no caso de uma tarifa”, disse.
Em sua última decisão de política monetária, em meio às promessas de ampliação de tarifas nos EUA, o BC incluiu entre os riscos de baixa para a inflação a chance de um cenário menos inflacionário para países emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.
Na apresentação, Galípolo disse que as incertezas globais aumentaram e apontou que é missão do BC do Brasil trabalhar em defesa de uma nova globalização, contra um projeto “que está aí” de desglobalização.
Para o presidente do BC, além do tema das tarifas, BCs acompanham com atenção a alta da dívida pública dos países, o que coloca pressão em taxas de juros e produz impacto sobre economias emergentes.
Reportagem distribuída pela Reuters
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