Finanças

Governo: é necessária a intervenção no juro do rotativo

Instituições poderão levar ao CNM uma proposta de autorregulação quanto aos juros do rotativo no cartão de crédito
Governo: é necessária a intervenção no juro do rotativo
Crédito: Alessandro Carvalho/ Arquivo Diário do Comércio

Brasília – O secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Barbosa Pinto, disse que o tabelamento é uma solução ruim para a redução das altas taxas de juros cobradas por instituições financeiras, mas disse ver como necessária uma intervenção do governo no caso do rotativo de cartão de crédito.

Para o membro da equipe econômica, a proposta aprovada no Congresso Nacional para limitar os juros do rotativo oferece uma solução equilibrada para a questão. “Concordo que tabelamento [de juros] é uma solução ruim, agora, a gente rechaçar o tabelamento não significa que a gente não deva ter algum tipo de intervenção estatal e algum tipo de regulação sobre a questão”, afirmou Pinto, em evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico.

Ele ressaltou que, embora o número de agentes atuantes no mercado de crédito tenha crescido, a competição no setor não se dá no patamar das taxas de juros. O secretário considerou também que qualquer alteração em apenas uma das pontas de um mercado composto por diversos participantes pode levar a danos maiores. Segundo ele, é preciso cautela para não ser adotada uma “solução ainda pior do que o equilíbrio ruim” que o país tem hoje.

Na avaliação de Pinto, o projeto de lei do Desenrola deu uma alternativa “prudente” para o tema por focar em três pilares: competição, educação financeira e portabilidade. O texto aprovado pelo Congresso Nacional dá 90 dias para as próprias instituições do sistema financeiro definirem um patamar de juros para o rotativo e para o parcelamento da fatura do cartão em atraso.

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O parcelamento é acionado automaticamente 30 dias após o cliente cair no rotativo por não ter quitado a fatura integral do cartão. Se não houver o aval do CMN (Conselho Monetário Nacional) nesse período, será aplicável o teto que limita a dívida ao dobro do montante original.

Em agosto, a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito ficou em 445,7% ao ano, segundo dados divulgados pelo Banco Central.

O PL também disciplinou a portabilidade de crédito, que permite a transferência de uma dívida de uma instituição financeira para outra com melhores condições de pagamento.

“Acho que o projeto foi equilibrado em dar esse prazo para que o setor tente se organizar em uma solução que funcione para o mercado”, disse o secretário. Ele também ponderou que a proposta de limitar a dívida do rotativo ao dobro do montante original é um plano menos intervencionista do que colocar um teto fixo de 100% para a taxa de juros. Segundo Pinto, isso permite que as instituições financeiras efetuem a cobrança conforme desejarem dentro de um curto período de tempo até atingirem tal limite.

De acordo com o membro da Fazenda, a pasta não está participando das discussões neste momento e caberá às instituições levarem a proposta de autorregulação ao BC. A autoridade monetária então encaminhará a questão ao CMN, colegiado formado pelos ministros da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet), além do presidente do BC (Roberto Campos Neto).

“O Ministério da Fazenda está em uma postura passiva de aguardar o trabalho que os emissores de cartão de crédito vão fazer para, quando o assunto chegar no CMN, a gente poder avaliar a solução que foi trazida”, afirmou.

Quanto à possibilidade de a discussão sobre o rotativo envolver o redesenho do parcelamento de compras sem juros, como defendem os bancos, Pinto ressaltou que não existe nenhuma lei ou regulação do CMN ou do BC que incentive ou desestimule esse instrumento bastante usado pela população brasileira.

O secretário da Fazenda afirmou ainda ter convicção de que é possível resolver o problema do rotativo no País. “Começa com a questão da educação financeira no geral, mas antes tem que vir a informação financeira, que hoje é o que a gente não tem”, disse.

E acrescentou: “A gente nunca vai ter competição para taxa de juros se o cliente não for adequadamente informado no momento adequado sobre essa taxa. Esse é um ponto que a indústria deixou a desejar, a gente precisa avançar nessa linha”. (Nathalia Garcia)

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