Guerra deve impactar a Selic neste ano

São Paulo – A deterioração das expectativas inflacionárias na esteira do choque de preços das commodities com a guerra na Ucrânia tem forçado analistas a promover uma revisão generalizada dos cenários para os preços e taxas de juros, que deverão subir mais e por mais tempo, com impactos colaterais sobre a atividade econômica.
Diante da disparada das expectativas de inflação, já há quem veja inclusive o Banco Central mantendo o ritmo de alta de 1,50 ponto percentual da Selic na próxima semana, contrariando sinalização de aperto menor dada em sua reunião de política monetária anterior, em fevereiro.
As mudanças de cenários por parte de instituições financeiras ocorrem em momento bastante delicado, com a guerra da Rússia na Ucrânia deprimindo o sentimento global, impondo fortes perdas a alguns ativos de risco e colocando os bancos centrais contra a parede, em meio a temores de uma estagflação – o pior dos mundos em se tratando de ciclos econômicos.
No Brasil, o rali internacional dos preços do petróleo reativou movimentações em torno de medidas para aliviar os preços dos combustíveis no ano eleitoral, o que voltou a acender alguma desconfiança do lado fiscal. Os juros futuros na B3 dispararam nos últimos dias, e as ações da Petrobras sofreram um tombo recentemente em meio a debates lidos no mercado como novos riscos de ingerência na política de preços da estatal.
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O Banco Central anuncia sua decisão de política monetária na próxima quarta-feira, dia 16. O juro básico está em 10,75% ao ano.
Credit Suisse – Entre os bancos com as estimativas mais elevadas para o patamar dos juros básicos ao fim deste ano está o Credit Suisse, que revisou nesta semana sua projeção a 13,25%, sobre 12,75% anteriormente.
A expectativa de maior agressividade do Banco Central na política monetária é justificada pela inflação elevada, que segundo o banco suíço chegará a 7% em 2022, aumento de 0,8 ponto percentual em relação a cenário anterior e bem acima do teto da meta de 5%.
A revisão do Credit Suisse já incorpora o impacto do conflito entre Rússia e Ucrânia, com a avaliação de que o aumento de preços de alimentos e gasolina em decorrência da guerra vai mais do que compensar a redução do IPI no Brasil.
JPMorgan – O JPMorgan elevou ontem de 6% para 6,5% sua projeção para o IPCA neste ano, citando impacto da alta acima do esperado nos preços dos combustíveis anunciados pela Petrobras. Nas estimativas do banco, a magnitude maior do que a esperada adiciona cerca de 15 pontos-base às previsões para o IPCA de 2022.
Além disso, a inflação será ainda pressionada pela expectativa de fortes altas nos preços de produtos agrícolas, conforme cenário da equipe de análise de commodities do banco, o que empurrará a inflação de alimentos no Brasil para 10,9% em 2022, de 9,4% do prognóstico anterior.
BNP Paribas – O banco francês espera Selic acima dos 13%. “Esperamos que o Banco Central do Brasil leve a taxa de juros para um nível ainda mais contracionista, e agora projetamos um aumento de 100 pontos-base em março, 100 pontos-base em maio e 50 pontos-base em junho, empurrando a taxa Selic para 13,25% em 2022”, disse o banco em relatório desta semana.
O banco privado antes estimava Selic de 12,25% ao fim do ano e agora vê corte de juros apenas no segundo trimestre de 2023, indo a 10,5% ao fim do próximo ano (9,5% previsto anteriormente).
UBS BB – O UBS BB, que também elevou seus prognósticos, vê a disparada nos preços da energia e de commodities agrícolas adicionando pelo menos 1,2 ponto percentual à inflação de 2022, o que potencialmente levaria a aumento nas expectativas de inflação para o longo prazo.
Assim, os economistas do banco agora veem o BC mantendo o ritmo de alta de juros em 150 pontos-base na próxima semana, o que levaria a Selic a 12,25%.
Eles projetam Selic terminal de 13,75%, contra 12,50% do cenário anterior. O UBS BB passou a ver IPCA de 5,7% neste ano (de 4,5% antes) e “pelo menos” 20 pontos-base mais alto para 2023.
Citi – O Citi vê a Selic em patamar abaixo de 13% ao fim de dezembro, mas não contraria a ampla expectativa de que a inflação ultrapassará o objetivo oficial em 2022.
Em relatório de ontem, o Citi afirmou que sua estimativa atual para a alta do IPCA no ano, de 5,8% (patamar já bem acima da meta), terá de ser ajustada para cima de forma “substancial”. “Teremos que ajustar não apenas nossa expectativa para os bens comercializáveis (vinculados aos preços mais altos das commodities), mas também para os não comercializáveis (serviços, etc.)”.
A perspectiva atual do Citi é de que a Selic chegue a 12,75% ao fim deste ano, visão compartilhada pela XP.
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