Guillen reitera que Selic ficará restritiva por período prolongado

Brasília e São Paulo – O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou na sexta-feira (8), que o “entupimento” dos canais de transmissão da política monetária, citado pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, é um problema estrutural, e não conjuntural. “Quando fazemos as nossas estimativas, não vemos mudança de potência no período recente”, disse Guillen, em evento do Jota, em São Paulo. “Esse é um tema que estou estudando a fundo, e é muito mais estrutural do que conjuntural.”
Ele acrescentou que o uso da expressão “continuação da interrupção do ciclo” pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é claro, por mostrar o momento em que o colegiado se encontra.
“Eu vejo essa expressão como muito clara sobre onde estamos, que é esse momento de, diante de toda a incerteza, termos cautela. E a cautela sugere uma interrupção para olhar, ver se a taxa de juros é apropriada. Uma vez definida essa taxa apropriada, será um período bastante prolongado de taxa significativamente contracionista”, afirmou.
Na última reunião, em 30 de julho, o Copom manteve a Selic em 15% e indicou esperar a “continuação da interrupção do ciclo”.
Em tom de brincadeira, Guillen comentou que houve críticas à redação dessa sinalização. “Brinquei que foi a crítica agora do português. Faltava essa para completar o álbum de figurinhas de críticas”, disse.
O diretor destacou ainda que o comitê está comprometido com a convergência da inflação à meta, seguirá vigilante e pode ajustar os passos futuros.
Desaceleração doméstica
Guillen reforçou que, na avaliação do Copom, a atividade doméstica tem desacelerado, como esperado. Segundo ele, alguns indicadores mostram sinais divergentes: no crédito, a desaceleração é mais nítida, enquanto os dados do mercado de trabalho permanecem resilientes.
“O mercado de trabalho segue dinâmico, tanto na parte de rendimentos quanto na parte de contratação. Então começam a surgir dados mistos, mas com moderação”, afirmou, em linha com a ata da última reunião, divulgada na terça-feira.
Ele disse que sua intenção no evento era justamente reforçar pontos já trazidos na ata.
Hiato
O diretor detalhou que o BC projeta uma abertura de hiato relevante nos próximos meses, ou seja, espera que a economia opere abaixo do potencial. A previsão é de que a variável encerre o próximo ano em -0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
Questionado sobre a taxa de juro real neutro, Guillen respondeu que não considera adequado fazer alterações frequentes nessa estimativa, para evitar volatilidade. No fim do ano passado, o BC elevou a estimativa de 4,75% para 5%. “Se julgarmos que devemos alterar, vamos comunicar. No momento, não mudamos a taxa neutra”, disse.
Política fiscal
Sobre o cenário fiscal, o diretor afirmou que o BC trabalha com expectativas próximas às do Focus e do Questionário Pré-Copom (QPC), incluindo maior execução no segundo semestre. Ele lembrou que a autarquia já reconheceu que o impacto fiscal pode ser maior do que o previsto no modelo.
Ambiente internacional
Em relação ao cenário externo, Guillen disse que o ambiente segue adverso e incerto, citando a nova política tarifária dos Estados Unidos, que passou a incluir o Brasil como foco, além das incertezas fiscais internas.
Ele destacou ainda que, nas últimas reuniões do Copom, foi discutido como a correlação entre moedas e nível de juros tem se comportado de forma diferente do passado, afetando especialmente os países emergentes.
Reportagem distribuída pela Estadão Conteúdo
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