Haddad afirma que juros atual são fora de propósito

O Brasil vive hoje situação anômala, com uma taxa real de juros “fora de propósito”, disse ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumentando que a atividade econômica já passa por desaceleração e que a inflação no País está mais baixa comparativamente a outros países.
Em entrevista ao portal Brasil 247, Haddad afirmou que esse cenário foi impulsionado por uma “farra eleitoral” do governo anterior, que teria gerado um custo de R$ 300 bilhões aos cofres públicos com medidas que classificou como eleitoreiras.
Ele também argumentou que o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou como legado uma taxa básica de juros que saltou de 2% ao ano na pandemia para 13,75%.
“O Brasil está com taxa de inflação menor do que os Estados Unidos e a Europa, só que estamos com a maior taxa de juro real do planeta. Olha o paradoxo que estamos vivendo, uma situação completamente anômala, uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juro real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando”, disse, ressaltando que o Banco Central tem conhecimento sobre esse cenário.
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Em seus comunicados, o Banco Central tem dado sinais em direção que não coincidem com a avaliação de Haddad. A autarquia tem afirmado que seguirá avaliando se manter a taxa Selic em 13,75% ao ano será suficiente para levar a inflação à meta, ressaltando que não é o momento de baixar a taxa e que não hesitará em retomar as altas nos juros se considerar necessário.
Em declarações recentes Haddad tem pregado uma harmonização das políticas fiscal e monetária, em meio a cobranças do BC para que o novo governo atue com responsabilidade nas contas públicas. A coordenação entre as duas áreas também é defendida pelo presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
Na entrevista desta segunda, o ministro rejeitou a ideia de que o mercado tem oscilado por conta de ataques especulativos, argumentando que as movimentações ocorrem porque havia uma ideia errônea de que a economia estava no rumo certo, mas os números apresentados pela transição de governo mostram que a gestão Bolsonaro deixou um rombo nas contas públicas.
“Não é um ataque especulativo, é que a ficha caiu. Cabe a nós esclarecer a situação com transparência”, disse. “Boa parte do empresariado está torcendo para o país dar certo, mas muitos não tinham noção do governo que estavam apoiando, achavam que economia estava a pleno vapor”.
Câmbio
O ministro afirmou ainda que não haverá discussão no novo governo sobre uma meta para a taxa de câmbio. Ele ponderou que a volatilidade do real é nociva e que a governança nas contas públicas pode estabilizar o ambiente para a moeda e os juros.
Em relação à desoneração de combustíveis, Haddad afirmou que o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a sugerir uma prorrogação desses benefícios por 90 dias a partir de janeiro. Ele disse ter defendido, na ocasião, uma extensão por 30 dias, esperando que o presidente indicado da Petrobras, Jean Paul Prates, tomaria posse ainda neste mês.
No entanto, de acordo com o ministro, a questão ficou “um inferno” com a Lei das Estatais e regras de compliance, o que deve inviabilizar a posse tão rapidamente. Por isso, disse que Lula decidiu prorrogar por dois meses o benefício para gasolina e álcool e um ano para outros insumos.
O ministro chegou a anunciar publicamente que a desoneração de combustíveis implementada por Bolsonaro seria extinta em 1º de janeiro. Depois, o governo eleito recuou e optou pela prorrogação.
Na entrevista, Haddad anunciou que o Conselho Monetário Nacional –responsável por formular políticas relacionadas a moeda e crédito– será coordenado por ele; a ministra do Planejamento, Simone Tebet; e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Até o ano passado, com o superministério da Economia, o órgão era comandado por Guedes, seu secretário de Orçamento e o presidente do BC.
O ministro afirmou ainda que seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo discutirá com Banco do Brasil e Caixa o programa voltado a endividados prometido por Lula na campanha, em parceria também com bancos privados. Segundo ele, a renegociação será inicialmente voltada a pessoas físicas, mas empresas também poderão participar.
A medida ajudará a impulsionar o mercado interno, juntamente com o fortalecimento da área social e a implementação de uma política para recuperar o poder de compra do salário mínimo, afirmou.
Citi espera mudanças na tributação
São Paulo – Analistas do Citi afirmaram ontem que veem mudanças nas tributação e o comportamento dos bancos públicos como temas que devem ganhar a atenção do setor bancário brasileiro em 2023.
Em relatório a clientes, eles citaram que as discussões sobre o fim do mecanismo de juros sobre o capital próprio devem voltar à mesa, mas esperam que haja algumas compensações.
O plano do PT prevê que a reforma do Imposto de Renda inclua a taxação sobre a distribuição de lucros e dividendos – medida proposta pelo governo de Jair Bolsonaro, mas que não foi implementada pelo Congresso.
Quando aos bancos controlados pelo governo, a equipe do banco norte-americano liderada por Rafael Frade não espera alteração significativa nas rotas, mas ressaltou que “isso pode ser um risco para o setor”.
Em discursos na posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou a intenção de resgatar o papel de bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do País.
Para a temporada de balanços do quarto trimestre no setor, os analistas do Citi avaliam que as atenções devem se concentrar nas projeções para 2023.
“Os resultados em si provavelmente serão menos surpreendentes, embora possam fornecer algum suporte para o guidance”, escreveram no relatório.
Eles afirmaram esperar um conjunto robusto de resultados para Itaú Unibanco e Banco do Brasil, acrescentando que os múltiplos de ambos implicam espaço significativo para uma eventual melhora.
Bradesco e Santander Brasil, avaliaram Frade e equipe, provavelmente continuarão a sofrer o impacto de margem financeira (NII) de mercado negativa e maiores despesas com provisões.
Citando a previsão de crescimento do crédito no País de 8% para 2023, do Banco Central, os analistas preveem um desempenho mais forte do BB, dada a exposição ao agronegócio, e mais fraco para Santander Brasil, por redução de risco do portfólio. Itaú e Bradesco devem ficar em linha.
Eles também projetam que o resultado da intermediação financeira (NII) deve crescer acima das carteiras de crédito em 2023, embora com alguma compressão na margem de intermediação (NIM) em Santander e Bradesco por foco em riscos mais baixos.
Eles também veem o custo do risco como percentual da carteira de crédito para 2023 em níveis similares aos do quarto trimestre de 2022, levando a números mais elevados do ano fiscal, com uma potencial melhora no segundo semestre.
“A grande dúvida continua sendo o Bradesco, cujo guidance para 2022 implica em ampla variação para o quarto trimestre, com potencial para provisões ainda muito altas no primeiro semestre de 2023, aliviando posteriormente.”
Para o último quarto de 2022, eles calculam lucro líquido recorrente de R$ 8,55 bilhões para Itaú, com NII de R$ 25,3 bilhões. BB deve mostrar resultado positivo de R$ 8,4 bilhões, com NII de R$ 19,9 bilhões.
Em relação a Bradesco, estimam lucro de R$ 4,15 bilhões, com margem financeira de R$ 17,3 bilhões, e quanto ao Santander Brasil, calculam lucro de R$ 2,55 bilhões e NII de R$ 13,1 bilhões.
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