Haddad: há espaço para corte de juros

Brasília – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que há espaço para iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros. No início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, pela sexta vez consecutiva, a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano.
“Um outro gasto muito importante em respeito ao Orçamento federal em relação à dívida são as taxas reais de juros. Também pouco se olha para isso. Este ano, a estimativa de gasto real com juros é da ordem de R$ 740 bilhões. E vejam que curiosidade: o gasto injustificado alimenta o juro real porque é o desequilíbrio das contas públicas promovido pelo gasto tributário que faz com que o Banco Central suba o juro por insustentabilidade da trajetória da dívida pública”, afirmou o ministro, em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Na avaliação de Haddad, o debate sobre a redução dos juros não afeta a autoridade e autonomia do Banco Central, responsável por estabelecer o percentual adotado.
“Não estamos questionando a autoridade monetária, do ponto de vista do seu poder. Estou ponderando o que é melhor para o Brasil. Com as medidas tomadas até aqui, sim, haveria espaço para um gesto de mais confiança na economia brasileira, sem que houvesse qualquer percalço na inflação”, argumentou.
Reforma tributária
Na audiência, Fernando Haddad disse acreditar que, após décadas de análise entre os parlamentares, a reforma tributária poder ser votada na Câmara dos Deputados a partir de junho. Segundo o ministro, a nova legislação será progressiva mesmo em relação aos impostos sobre consumo.
“A reforma tributária em relação ao imposto sobre consumo, ela é progressiva por duas razões: uma porque vai ter uma alíquota menor sobre os bens adquiridos pelos trabalhadores, por quem tem renda menor. E a segunda é que poderá ter uma autorização para fazer o cashback, devolver os tributos cobrados sobre os produtos que imaginar, [como] cesta básica”, disse.
Haddad explicou que as novas regras “encadearão os setores”. “Assim, traz mais contribuintes para a base tributária e se consegue ter alíquotas mais decentes no tempo.”
“A reforma tributária que já poderia ter sido votada e não foi porque queriam criar um imposto novo, voltar com a CPMF”, disse. “Aquilo seria um atraso. Foi muito bem não aprovar um imposto com a volta da CPMF. Agora, não. Eu acredito que nós podemos votar em junho, aqui na Câmara, a PEC da Reforma Tributária”, completou.
Próximos temas
Segundo o ministro, está na perspectiva da pasta a discussão sobre transição ecológica e sobre recursos para educação. “Vencida a etapa da regra tributária e da reforma tributária, teremos uma avenida para discutir o que é estratégico para o país”, defendeu.
“Nós vamos poder discutir a questão da transição ecológica, nós temos que rediscutir a questão da educação brasileira. Ontem saíram indicadores de analfabetismo de crianças extremamente preocupantes”, disse.
“Não dá para continuar convivendo com taxa de crescimento de 1% ao ano em média. Este ano nós devemos crescer próximo de 2%, mas, na minha opinião, é pouco. Temos tudo para crescer acima da média mundial”, acrescentou.
Campos Neto estima redução lenta da inflação
Brasília – A abordagem proativa da política monetária no Brasil foi oportuna e tem dado resultado, mas o processo está agora em uma fase na qual a redução da inflação é mais lenta, disse ontem o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltando que o Brasil enfrenta desafios para consolidar a desinflação.
Em apresentação por videoconferência na Conferência Anual do Banco Central, ele enfatizou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025, que estavam estáveis, mostram desancoragem, com questionamentos sobre possível mudança nas metas de inflação e incertezas fiscais.
Campos Neto afirmou que os núcleos de inflação — que desconsideram itens voláteis — estão mais resilientes por conta de uma difusão da alta de preços entre os setores da economia e pressões ainda fortes em componentes mais rígidos, como o setor de serviços.
“Assim, a velocidade da desinflação tende a ser mais lenta nessa segunda etapa, tanto no Brasil como nos demais países”, disse. “Embora tenhamos progredido até agora, ainda enfrentamos desafios para consolidar a desinflação no Brasil.”
De acordo com o boletim Focus do BC, que capta as projeções de mercado para indicadores econômicos, as expectativas de inflação estão em 6,03% para este ano, 4,15% em 2024 e 4% em 2025.
As metas estabelecidas são de 3,25% neste ano e 3% em 2024 e 2025, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos em todos os casos.
Em meio a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à taxa básica de juros praticada pelo BC para segurar a inflação, atualmente em 13,75% ao ano, o governo passou a estudar possíveis alterações no regime de metas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já sinalizou ser favorável a um alongamento do horizonte para as metas, o que desobrigaria o BC a cumpri-las ao fim de cada ano.
“Decisões que induzam a reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuem para um processo de inflacionário mais célere e menos custoso”, afirmou Campos Neto.
O presidente do BC voltou a afirmar que o arcabouço fiscal proposto pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ajudar na missão de reancorar as expectativas, embora não haja uma relação direta entre a proposta fiscal e o nível de preços no país.
Na apresentação, Campos Neto afirmou que incidentes em bancos nos Estados Unidos e na Europa despertaram atenção para riscos, como o de contágio mais disseminado no sistema financeiro. Segundo ele, até o momento, esse contágio é limitado, mas requer monitoramento. (Reuters)
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