Finanças

Mercado estima que Ibovespa continuará a bater recorde; veja análise

Índice da bolsa brasileira bate recorde histórico
Mercado estima que Ibovespa continuará a bater recorde; veja análise
Valorização do Ibovespa surpreendeu o mercado, que está reavaliando suas projeções | Foto: Divulgação B3

O Ibovespa fechou acima dos 140 mil pontos pela primeira vez na história, renovando o recorde pelo segundo dia consecutivo na última terça-feira (20). O principal índice da bolsa brasileira subiu 0,34%, encerrando o pregão acima de 140 mil pontos (140.109,63) na última terça-feira, superando o recorde de 139.636 pontos registrado no dia anterior. A projeção, agora, diante do cenário econômico interno e mundial é que o índice alcance 189 mil pontos até meados de 2026.

Segundo especialistas, fatores externos e internos provocaram a mudança de humor dos investidores. O economista da Valor de Investimentos, Paulo Duarte, afirma que a bolsa tem surpreendido e atribuiu a alta a fatores externos. “Com a perda da credibilidade norte-americana, os investidores estão procurando novas fronteiras e diversificando seus investimentos até geograficamente. O que temos visto são investidores estrangeiros comprando e investidores brasileiros vendendo”.

O head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, levanta três pontos para as mudanças. O cenário externo seria o primeiro. A quietação da turbulência em relação à política comercial tarifária dos Estados Unidos, que a princípio gerou bastante volatilidade, “trouxe para os mercados uma tranquilidade maior”, possibilitando o crescimento.

Outro ponto que Moliterno apresenta que tem favorecido os investimentos na bolsa de valores é a questão das taxas de juros. Para ele, há uma expectativa por parte do mercado de uma desaceleração dos juros no mercado externo. Internamente, o aperto monetário do Brasil, na avaliação dele, já pode estar produzindo efeito na economia. “Os investidores estão acreditando que a gente chegou no limite e que não vai haver mais aumento no juros”.

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O terceiro e último fator apresentado pelo head da Veedha Investimentos, que ele considera, inclusive, o mais importante, é a depreciação das empresas brasileiras. Segundo ele, elas estavam sendo negociadas aquém do seu potencial, o que acabou sendo superado após a temporada de resultados e balanços que mostraram que elas estão tendo um bom desempenho, atraindo investidores. “Ficou um gap muito grande do Brasil em relação ao resto do mundo e agora os investidores estão vendo essa oportunidade”, afirma. 

O diretor de operações da Ourominas Investimentos, Elson Gusmão, comenta que, dessa forma, o mercado vem ajustando suas projeções para o Ibovespa com viés mais otimista, apoiado em fundamentos sólidos das empresas listadas, da maior entrada de capital estrangeiro e da melhora na confiança do investidor.

Ibovespa pode aumentar ainda mais

Entretanto, o movimento interno, na opinião dos especialistas, pode ser mais lento e dá margem a altas ainda maiores a médio prazo no Ibovespa no futuro. Como o Brasil ainda opera com juros elevados, os fundos de investimentos institucionais locais, e de pensão, por exemplo, ainda estão sublocados em rendas variáveis. “Porém, uma hora eles vão ter que se realocar e quando isso acontecer deverá impulsionar ainda mais a bolsa para mais alto”, acredita Moliterno.

Dessa forma, Moliterno avalia que muito provavelmente outras casas deverão mudar suas projeções. “Primeiro começou com os estrangeiros, Bank of America, JP Morgan e agora, mais incisivamente o Morgan Stanley, que alterou suas recomendações, recomendando compra para o Brasil, além da projeções de elevações para o meio do ano que vem”. 

De acordo com o relatório do banco americano Morgan Stanley a tendência de alta do índice brasileiro deve se manter no médio prazo, com projeção de alcance a 189 mil pontos até meados de 2026. O banco também elevou sua recomendação para o Brasil à categoria overweight– que significa compra -, indicando uma visão otimista sobre o mercado local. 

Paulo Duarte, da Valor Investimentos, avalia, entretanto, que os sinais são mistos: ao mesmo tempo em que são observadas bolsas em máximas históricas, também são vistos taxas de juros em altos patamares, cenário que ele diz não ser muito comum. “Para imaginarmos novas altas do Ibovespa, temos que vislumbrar o horizonte de corte de juros do Banco Central, que ainda é bastante incerto devido às questões fiscais do Brasil”, diz.

O diretor da Ourominas, Elson Gusmão, entende que a curto prazo deve haver correções técnicas após a forte valorização recente na bolsa. Porém, a médio prazo, se o cenário macro permanecer estável e as reformas avançarem, o Ibovespa tende a manter a trajetória de alta.

O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, entende, entretanto, que o movimento não é uma tendência. “É uma realocação de portfólio, é uma mudança de locação do investidor global que tem procurado outros países além dos EUA”. Conforme ele explica, ao sair do país de Donald Trump, os investidores buscaram os países emergentes e a América Latina se tornou uma alternativa, já que o tarifaço dos EUA afetou mais intensamente os países da Ásia. 

Dessa forma, na avaliação de Mathias, por não se tratar de tendência, o processo deve se esgotar em até dois meses. “Esgotados, a gente volta para os fundamentos do Brasil, que são ruins. Temos uma política fiscal disfuncional, que empurra a economia enquanto o Banco Central breca. Uma combinação que não faz sentido”, afirma.

Ele também critica a política fiscal e diz que está estruturalmente errada. “É um País que tem um quadro fiscal muito preocupante, emergencial. O mercado já assumiu que esse problema vai ser endereçado em 2027, com a projeção de uma crise”.

Dessa forma, ele defende que o futuro depende muito da perspectiva das eleições para trazer um candidato que se comprometa com um ajuste fiscal sério. “A tendência do preço dos ativos brasileiros, a médio e longo prazo vai responder à percepção de risco fiscal, esse é o nosso calcanhar de Aquiles, é um problema emergencial que se não for solucionado encaminhará para a crise, mas acreditamos que ele vá ser solucionado de alguma forma”, conclui.

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