Finanças

Ibovespa fecha maio em alta mas o cenário é de cautela

Apesar de valorização em maio, série de fatores pode afetar o desempenho neste mês
Ibovespa fecha maio em alta mas o cenário é de cautela
Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Após um abril complicado, o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, encerrou maio com alta. No mês, o indicador subiu 3,22%, chegando aos 111.351 pontos, elevando para 6,23% a alta acumulada no ano. Para junho, o cenário se manterá pressionado devido a diversos fatores como inflação em alta, elevação dos juros, guerra entre Ucrânia e Rússia. Mesmo em um cenário instável, alguns setores podem se destacar e trazer bons resultados, entre eles estão o de commodities e o financeiro.

De acordo com o head de produtos e assessor da Plus Investimentos, Pedro Vieira Costa, em maio, o desempenho favorável foi puxado pelas commodities e bancos se recuperando, após forte queda em abril. Para junho, as estimativas ainda são cautelosas.

“Junho ainda estará pressionado. Temos uma Selic de 12,75% ao ano e a próxima reunião tende a subir 0,5%. Então, vamos voltar aos patamares de 1% ao mês da renda fixa, o que faz com que os investidores tenham a tendência de fugir um pouco da bolsa e partir para um investimento mais seguro e conservador”.

Ainda segundo Costa, a indicação é que os investidores deem preferência às ações de empresas do setor financeiro, como bancos e empresas de maior porte. Além disso, o setor de commodities tende a apresentar resultados favoráveis, com a flexibilização do lockdown na China. Neste caso, destacam-se frigoríficos exportadores, empresas de commodities agrícolas e minerais.

Riscos

Já os setores que trazem mais risco são os que perdem com a alta dos juros e inflação elevada, o que limita o acesso ao crédito e às compras. Neste caso, as empresas do varejo tendem a ter resultados menos favoráveis.

“Os investidores precisam ficar muito atentos ao varejo. São ações que já caíram bastante. Justamente pela pressão dos juros e inflação elevada. Essa pressão impacta no consumo da população que caiu bastante e faz com que as empresas tenham resultados bem piores. Elas tendem a reduzir preços, forçar vendas sem lucro, queimar estoques, então, de certa forma, deixa com margem reduzida”, explicou Costa.

Pontos positivos

O analista da Terra Investimentos, Regis Chinchila, pontua que para junho existem diversos fatores que podem manter o Ibovespa em um viés positivo. “Falar em estimativa de faixa de preços é complicado, mas, espero que, em junho, o índice possa trabalhar de 117.000 a 118.000. Estou esperando isso, mas é claro que a gente acompanha a bolsa e sabe que há muita volatilidade”.

Dentre os principais fatores internos está a visão de desaceleração de indicadores de inflação. “Ainda não conseguimos determinar se o cenário veio para ficar, porque temos uma inflação global que acaba atrapalhando bastante essa leitura para médio prazo. Mas, nos últimos indicadores tivemos uma desaceleração. A expectativa ainda é que o Banco Central siga com política de aperto monetário , com alta de 0,5% e Selic chegando a 13,25%. Aí, teremos uma visão mais completa do final do ciclo ou de quando pode acontecer, o que seria muito importante para as empresas ligadas ao mercado interno, as varejistas, empresas ligadas ao consumo, construção, enfim, empresas que demandam mais ou precisam mais de crédito e mais estímulo”.

Para Chinchila, as commodities seguem entregando viés mais positivo, pela guerra entre Ucrânia e Rússia ainda não ter sinal de fim. “As sanções impostas pela União Europeia em relação à Rússia e o embargo ao petróleo fazem com que a cotação do petróleo russo trabalhe em patamar bastante alto. Então, os ativos ligados ao petróleo tendem a operar em patamar ainda com ganhos”, disse.

Ele destaca ainda a reabertura na China. “É um ponto importante que temos olhado. Há alguns estímulos do governo chinês rodando e a Vale e empresas de siderurgia podem se beneficiar”.

Os bancos, principalmente, os maiores, também tendem a apresentar bons resultados, segundo o analista da Terra.

Fim do ciclo de aperto monetário

Daniela Schulz, especialista em investimento CEA, professora e conteudista da Eu me banco, explica que o desempenho da B3, em junho vai depender muito do aumento das taxas de juros e dos indicadores de inflação, se vão começar a refletir a aplicação de alta dos juros.

“Apesar disso, o mercado brasileiro vê uma luz com relação ao aumento da taxa. Esperamos que na próxima reunião a taxa venha menor e que até final do ano a gente veja o encerramento da alta do juros, mas ainda depende de vários fatores, inclusive da guerra entre Rússia e Ucrânia”.

Para Daniela, entre os setores que os investidores devem ficar de olho está o financeiro – bancos e seguradoras – em que o cenário de alta das taxas de juros tende a favorecer. O setor de commodities também tende a ter resultados positivos, incluindo as agrícolas, de energia, papel celulose, petróleo e minério

“Recomendo ficar de fora das empresas de varejo, apesar do mercado ver o fim do ciclo alta da taxa de juros, o varejo sofre muito com taxa de juros elevada. Então, o setor de varejo precisa ficar mais atento e, eu, como profissional, prefiro acompanhar de fora”, disse.

Cenário global

Para a líder regional da XP. Inc em Minas Gerais, Jéssica Oliveira, apesar da reação do Ibovespa em abril, ainda há uma cautela em relação ao resultado da bolsa por conta do cenário macro global, ainda com descontrole inflacionário e alta de juros.

“Desse modo, destacamos papéis que têm bons pagamentos de dividendos, o que torna a exposição bastante defensiva. Existem papéis de diferentes segmentos, como bancos, commodities e telefonia. O importante é manter o olhar para a diversificação e buscar empresas com perspectivas de pagamento de dividendos consistentes, níveis atrativos, gestão de qualidade em modelos de negócio sólidos e natureza mais defensiva”.

Para os próximos meses, Jéssica destaca que é preciso olhar alguns pontos importantes. “O cenário não é o melhor possível. Na verdade, estamos enfrentando um momento bem delicado globalmente”.

Segundo ela, entre os principais pontos a serem observados nos próximos meses estão a alta da inflação e dos juros no mundo todo, sendo que aqui no Brasil lidamos melhor com isso, lá fora inflação de 2 dígitos é algo raríssimo. Também há a guerra na Europa, ampliando as tensões políticas para a Suécia e Finlândia dado as declarações abertas de ambos os países para o desejo de entrar na Otan. As eleições no Brasil, com um cenário bem provável de fortíssima polarização no segundo turno.

Para ela, no curto prazo, como a economia chinesa e o preço das commodities têm um peso fortíssimo na nossa bolsa, não podemos ignorar a possibilidade da bolsa continuar subindo.

“O Brasil está barato demais para ignorar: temos a bolsa sendo negociada a múltiplos de preço/lucro na casa de 30% de desconto comparado às médias históricas. Empresas pagando ótimos dividendos, entregando resultados crescentes. Estamos vivendo um ótimo momento de buy opportunity na bolsa brasileira. Mesmo com um cenário desafiador, estamos com o preço do IBOV em patamares muito baixos e acreditamos no potencial de atingir 130.000 pontos até o final de 2022, o que representaria uma alta próxima a 16% ainda este ano”.

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