Ibovespa cai 2% e marca mínima desde junho após pacote fiscal desapontar

São Paulo – O Ibovespa caiu mais de 2% nesta quinta-feira (28) marcando uma mínima de fechamento desde meados do ano, refletindo a reação negativa de agentes financeiros ao anúncio de medidas fiscais “modestas” pelo governo brasileiro.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 2,46%, a 124.531,28 pontos, menor patamar de fechamento desde 28 de junho, de acordo com dados preliminares, após marcar 127.667,73 pontos na máxima e 124.389,63 pontos na mínima do dia.
O volume financeiro somou R$ 27,72 bilhões, acima da média diária do ano, de R$ 23,6 bilhões, e da média do mês, de R$ 26,5 bilhões, mesmo com a ausência de negócios em Wall Street em razão de feriado nos Estados Unidos.
“O governo anunciou um pacote complexo, mas modesto, de medidas fiscais”, afirmou o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs. “O pacote não é ambicioso, nem está alinhado com o que o cenário macro atual exige.”
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O governo detalhou nesta quinta-feira seu pacote fiscal prometido a semanas e esboçado na véspera, argumentando que as medidas assegurarão a estabilidade do arcabouço fiscal ao trazer uma economia de R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, com impacto estimado de R$ 327 bilhões até 2030.
As medidas também incluíram mudanças no imposto de renda, com a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda da pessoa física e taxação maior para quem ganha mais.
O dólar ultrapassou os R$ 6 pela primeira vez na história em termos nominais e as taxas dos contratos de DI dispararam, o que reverberou na bolsa, pressionando papéis sensíveis à economia doméstica e endossando ações de exportadores.
De acordo com o analista Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, o pacote frustrou a expectativa do mercado, que esperava algo melhor, mas percebeu que as medidas não serão suficiente para diminuir a relação dívida/PIB do País.
A reação na bolsa, da taxa de câmbio e na curva futura de juros “demonstra que o mercado não acredita no governo”, pontuou Mollo, avaliando que o atual governo perdeu a oportunidade de fazer um bom ajuste fiscal.
Destaques
- MRV&CO ON desabou 14,1%, para uma mínima desde março de 2023, com o setor como um todo minado pela disparada nas taxas dos DIs. O índice do setor imobiliário da B3 caiu 6,58%. No mesmo contexto, o índice do setor de consumo caiu 3,49%.
- CVC BRASIL ON tombou 13,38%, pressionada pelo movimento na curva futura de juros e pela alta do dólar, que fechou o dia a R$ 5,99, em alta de 1,3%. A operadora de turismo fechou recentemente acordo de reperfilamento de dívida, em parte atrelada ao CDI.
- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 3,6%, com o setor como um todo contaminado pelas preocupações com o cenário fiscal brasileiro depois das medidas anunciadas pelo governo. Após o fechamento, o banco anunciou que seu conselho aprovou o pagamento juros sobre o capital próprio de R$ 0,31 por ação.
- JBS ON avançou 3,35%, apoiada pela alta do dólar ante o real que tende a beneficiar ações de exportadoras. Além disso, o Goldman Sachs elevou o preço-alvo das ações da líder global na produção de carnes para 44 reais, de R$ 42,9 anteriormente, mantendo a recomendação de “compra”.
- SUZANO ON subiu 3% e KLABIN UNIT valorizou-se 1,97%, também beneficiadas pelo movimento da taxa de câmbio
- VALE ON fechou com decréscimo de 1,03%, em dia de variações modestas dos futuros do minério de ferro na Ásia. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), na China, encerrou as negociações do dia estável, enquanto o vencimento de referência em Cingapura subiu 0,27%.
- PETROBRAS PN perdeu também 1,03%. A estatal divulgou nesta quinta-feira que vai limitar ao máximo de 50% sua participação em futuras parcerias no segmento de etanol.
- ECORODOVIAS ON, que não está no Ibovespa, desabou 19,79%, após vencer a disputa pela concessão de 92 quilômetros de rodovias que ligam a capital de São Paulo a cidades no oeste da região metropolitana do Estado, com a oferta de outorga de R$ 2,19 bilhões — ágio de 47.117,67% sobre o valor mínimo. (Reportagem distribuída pela Reuters)
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