IDEIAS | 2023 – O Brasil não é para amadores

Em 2020 tivemos a Covid e a certeza de que ninguém estava preparado. Em 2021 vimos o retorno da economia e a certeza (equivocada) das empresas e governos de que tudo tinha passado (isso porque o ano de comparação foi 2020, ou seja, muito baixa). Em 2022 todos os riscos financeiros, econômicos, de energia, ambientais, de suprimentos e geopolíticos foram “colocados na mesa”, o que, para gestores (públicos e privados), significou o maior desafio de suas carreiras. 2023 se consolida como um ano de enormes desafios. Todas as previsões dos bancos comerciais, de investimentos e CEOs (FedEx, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Microsoft entre outros), ao redor do mundo, estão projetando um ano de recessão. Não acredito que eles estejam errados.
2023 deve consolidar, cada vez mais, o que vimos em 2022:
1 – O PIB mundial continuará caindo. China, EUA, Índia e Países da Zona do Euro projetaram um PIB menor do que em 2022. Isto significa um menor volume de negócios e um maior desafio para as empresas brasileiras. Para o nosso País, a projeção do crescimento do PIB é de apenas 1%. Muito pequeno para as nossas necessidades de investimentos. A produtividade e sinergia são fundamentais para manter as margens e os lucros.
2 – Teremos que conviver, ainda, com dólar alto e com uma volatilidade acima da média. A variação cambial impacta no caixa/liquidez. No dia em que escrevo esta matéria, o dólar está em R$ 5,20, o que impacta o resultado das empresas, impacta também a sua vida (pão de sal, gasolina….). Então para as empresas, importante fazer o que chamamos de “trava” do dólar, garantindo a previsibilidade de desembolso de caixa.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
3 – Os juros continuarão altos em 2023. A Selic hoje está a 13,75%, e com um viés de alta. Isto impacta os juros pagos pelas companhias (a maioria das empresas com ações na bolsa diminuiu ou teve prejuízos). Os juros altos também impactam no endividamento das famílias, tendo como consequência a diminuição do consumo e a falta de criação de empregos. Os bancos e as empresas já provisionaram uma inadimplência maior em 2023. É muito importante verificar os indicadores de liberação de crédito para os clientes. Pior do que vender com prejuízo é vender e não receber.
4 – Teremos em 2023 a continuação do enxugamento das empresas. Em 2022, já fizeram os ajustes a Amazon, Shopee, FedEx, HP, Philips, XP, Nubank, Buser, Xaomi e Fintechs. Para você, que está lendo esta matéria, possa se preparar melhor, sugiro que participe de palestras e aumente o seu networking e para você, empresas, valorize e busque ter pessoas excelentes na equipe, essa será uma grande diferença para 2023.
5 – 2023 continuará nos mostrando o que muita gente tinha esquecido ou não tinha vivenciado; a inflação. Este “dragão” que impede o seu cliente de ter mais dinheiro, que impede a sua empresa de ter margens e que junto com o “não” crescimento (estagflação) mostra que teremos ainda grande desafio nas empresas e no crescimento do mercado.
6 – Em 2023 teremos, ainda, grandes desafios fiscais. “Fora do teto” significa que as despesas não serão adicionadas na “contabilidade” do país, mas teremos que ter recurso em caixa para o pagamento do “fora do teto”. Como o Brasil não tem dinheiro, teremos que emitir dívida e pagar mais juros. Isto vai impactar no custo do empréstimo ao pequeno e médio empresário, assim como na pessoa física. Novamente estamos atuando nas consequências, quando teríamos que atuar nas causas (fazer a reforma tributária e administrativa).
7 – Os investidores e a sociedade também cobrarão, em 2023, uma postura mais ativa das empresas e governos sobre as questões de ESG (social, ambiental e governança), assim como o cumprimento dos ODSs da ONU, de 2030. A conta é simples: se a sociedade vai mal, seu caixa vai mal (pergunte aos bancos o impacto em seus resultados devido à inadimplência). Mercado de Carbono, inclusão e ações sociais devem também ser pautas estratégicas nas empresas, cada uma fazendo a sua parte. A meta da ONU é 2030, mas sinceramente, não temos todo este tempo.
Resumindo: é importante, para 2023, repensar a estrutura das empresas (fazer mais com menos), renegociar as dívidas de curto, para longo prazo, olhar com atenção o custo do produto/serviço (este controle que vai manter o seu lucro), assim como a precificação correta do produto (não venda com prejuízo), coloquem ESG na estratégia e, principalmente, foco nas pessoas certas. Não adianta ter um planejamento espetacular, se a execução é falha.
Não enxergue o mercado como se estivesse em um Boeing, a 40 mil pés de altura. Enxergue o mercado como se estivesse em um bimotor, a 10 mil metros de altura, pois assim conseguira se antecipar a muitas coisas que já estão acontecendo no mercado.
Quero encerrar ressaltando que, no Brasil, existem grandes oportunidades. Agronegócio, construção civil, ramo de alimentação, mercado de beleza, mercado veterinário, mercado farmacêutico, e-commerce e logística são exemplos disso. A leitura correta do mercado e as decisões pensadas, como sugeridas nesta matéria, podem tornar a sua empresa mais robusta e, você, um profissional mais preparado. Quando a oportunidade chegar, e na recessão existem muitas, saberão aproveitá-las os melhores profissionais, afinal de contas, o Brasil não é para amadores….
Ouça a rádio de Minas