Impacto do câmbio em inflação é o que preocupa BC

Brasília – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reafirmou ontem que o importante para a autoridade monetária, em relação ao movimento do dólar frente ao real, é como o canal de inflação é afetado. Em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso, ele afirmou que é somente nesse tipo de situação que o BC tem que agir – e por meio dos juros básicos, e não de intervenções cambiais.
“O importante para gente é como o câmbio alimenta o canal de inflação. E eu disse que o importante é ver se esse movimento de câmbio está fazendo que a expectativa de inflação, na frente, seja elevada, porque isso acaba contaminando a curva de expectativa da inflação e, se isso estiver acontecendo, obviamente temos que agir, e me referi ao juros, e não ao câmbio”, disse.
“Acreditamos muito no princípio da separação, que é: juros é utilizado para política monetária. Câmbio é flutuante, fazemos intervenções quando existem gaps de liquidez, e as medidas macroprudenciais são usadas para crises financeiras, ou seja, para solidez do sistema financeiro”, acrescentou.
Ontem, o dólar estava sendo negociado na casa de R$ 4,20, patamar que, para alguns analistas, pode perdurar devido à carência de perspectiva de relevante fluxo de recursos ao País até o fim do ano, em um período sazonalmente já marcado por saída de moeda.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Campos Neto admitiu que, a depender da janela temporal observada, a desvalorização do real tem sido “um pouco acima” da sofrida por seus pares. Mas ele voltou a dizer que, diferentemente do que já ocorreu no passado, desta vez o movimento veio acompanhado não de piora, mas de melhora na percepção de risco associada ao País.
Ecoando o que já tinha dito na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na terça-feira, Campos Neto avaliou que, para além do pré-pagamento de dívidas no exterior pelas empresas, movimento capitaneado pela Petrobras, outros fatores têm contribuído para o avanço do dólar em relação ao real.
Nesse rol, ele citou um panorama mais global, com outras moedas também se desvalorizando. Também voltou a mencionar a frustração com a expectativa do ingresso de dólares no País com o leilão de petróleo da cessão onerosa.
“Como agentes se posicionaram de uma forma que não se realizou, então você tem uma saída daquela posição, isso gerou uma depreciação”, disse o presidente do BC, sublinhando que grande parte do movimento do dólar não é associado à busca por hedge.
Campos Neto afirmou que o BC mudou a forma de intervir no câmbio quando entendeu que houve mudança de dinâmica. Isso veio a reboque da pressão fundamentalmente exercida no dólar à vista, pelo movimento das empresas de comprarem dólar para quitarem dívidas no exterior e emitirem dívidas no País, em meio à queda na taxa longa de juros no Brasil.
Em relação à inflação, ele brincou que tem ouvido com menos frequência perguntas a esse respeito, “o que para um banqueiro central é ótima notícia, porque significa que as pessoas não estão tão preocupadas”.
Nos 12 meses até outubro, a inflação medida pelo IPCA subiu apenas 2,54%, abaixo do piso da meta oficial para 2019, de 4,25% pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O presidente do BC disse ainda que há interpretação equivocada de que o Brasil teria vendido US$ 23 bilhões de reservas internacionais este ano. “Na verdade, liquidamente nós vendemos à vista e recompramos no futuro”, defendeu ele. “Entendemos, basicamente, que conceito líquido é o mais importante”.
Menos crescimento – Olhando para o cenário global, ele afirmou que a polarização política é tópico no mundo que tem afetado investimentos e o crescimento econômico. “Tem um tema muito importante também, além da guerra comercial, da tensão comercial, que é o tema geopolítico que nós estamos vendo em diversas partes do mundo, a polarização política. Tudo isso tem afetado os investimentos de uma forma mais definitiva”, disse.
Campos Neto também afirmou que qualquer decisão em relação aos juros básicos depois deste ano deverá ser tomada com cautela, após o Comitê de Política Monetária já ter indicado que deve cortar a Selic para 4,5% em dezembro.
“Copom cortou a Selic para 5%, deixamos indicado que entendemos que é possível fazer mais um movimento de igual magnitude (na próxima reunião) e entendemos que qualquer movimento adicional tem que ser feito com cautela”, afirmou ele. (Reuters)
Bolsonaro gostaria de dólar abaixo de R$ 4
Brasília – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem preferir que a cotação do dólar estivesse abaixo de R$ 4, mas ponderou que o comportamento da taxa de câmbio também está atrelado a fatores externos, como o embate de tarifas comerciais entre os Estados Unidos e a China.
“Nós gostaríamos de um dólar abaixo de R$ 4”, disse, na saída do Palácio da Alvorada, acrescentando que a taxa de câmbio não reflete apenas questões internas. “O mundo está todo conectado. Qualquer problema lá fora tem reflexo no mundo todo, não é só aqui, não”, disse.
O dólar atingiu recorde histórico nominal para um fechamento nesta semana após encerrar a segunda-feira acima de R$ 4,20, e analistas dizem que, até o fim do ano, qualquer ajuste de baixa tenderá a ser limitado.
Mesmo com a correção na terça-feira, o dólar segue muito próximo da marca psicológica de R$ 4,20, patamar que, para alguns analistas, pode perdurar, devido à carência de perspectiva de relevante fluxo de recursos ao País até o fim do ano, em um período sazonalmente já marcado por saída de moeda.
Na terça-feira, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que parte da explicação para o movimento recente de valorização do dólar frente ao real tem relação com o resultado do leilão de excedente da cessão onerosa. Mas ressaltou que essa era uma parte da explicação.
“Parte é global, parte é pré-pagamento. Tem muito exportador que também está segurando, importador que está segurando”, disse o presidente do BC. “São várias explicações”.
Outros projetos – Na saída da residência oficial da Presidência, Bolsonaro também voltou a comentar sobre projetos para incentivar o desenvolvimento da indústria de telecomunicações, bem como o leilão das frequências para telefonia móvel 5G, que vai acontecer no próximo ano.
“Nós fazemos comércio com o mundo todo. Tem mais empresas se habilitando também. O que for melhor para o Brasil, tecnicamente e financeiramente, a gente embarca”, afirmou.
Ainda comentou sobre problemas de desmatamento, destacando que se trata de uma questão “cultural”. “Você não vai acabar com desmatamento. Nem com queimada. É cultural”. (Reuters)
Ouça a rádio de Minas