Inadimplência no rotativo de cartão preocupa os bancos

São Paulo – Bancos e empresas do setor de pagamentos estão trabalhando em alternativas ao rotativo do cartão de crédito, modalidade acionada automaticamente quando o cliente não paga o valor integral da fatura na data de vencimento.
O setor financeiro visa reduzir a inadimplência ao oferecer uma modalidade mais barata de crédito. Hoje, o rotativo é a linha mais cara do mercado. Segundo o setor, 20% dos brasileiros não pagam a fatura dentro do prazo estipulado e ficam, em média, 18 dias no rotativo.
De acordo com o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, uma das alternativas estudadas é o financiamento do saldo total da fatura do mês e de parcelas que o consumidor já tiver assumido em compras parceladas para os próximos meses, não só o valor em atraso.
Desde 2017, segundo determinação do Banco Central (BC), o consumidor não pode ficar além de 30 dias no rotativo do cartão, devendo haver a troca da dívida por uma linha de crédito mais barata. Nesta linha alternativa, o cliente não entraria no rotativo e iria diretamente ao crédito mais barato, que também deve respeitar o teto de juros do rotativo.
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As novas linhas estão sendo discutidas em um fórum criado a partir de discussões entre entidades do setor sobre alternativas para reduzir os altos juros da modalidade, que acabou sendo limitada a 100% da dívida original pelo governo Lula em janeiro deste ano.
Fazem parte das discussões a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs); a Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa empresas como PagBank e Mercado Pago; a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que reúne PayPal e Stone); a Febraban e a Zetta (associação que representa fintechs).
Seis meses depois do início do teto de juros do rotativo, as principais instituições financeiras brasileiras estão cobrando, no máximo, entre 31,73% e 73,91% do valor original da dívida para a maioria (99%) das operações, segundo dados divulgados pelo Banco Central. Ainda não há uma definição sobre a linha alternativa, que precisa ser submetida ao BC. As discussões estão “bem avançadas”, diz Sidney.
Apostas
A Febraban defende que a proibição do pagamento com cartões de crédito em bets, prevista para janeiro de 2025, seja prorrogada. A modalidade é a mais utilizada ao se fazer apostas on-line no Brasil. “Estamos bastante preocupados com o quanto isso pode comprometer a renda das famílias e ampliar a inadimplência, aumentando, inclusive, o custo do crédito”, afirmou Isaac Sidney.
Recentemente, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) proibiu o uso de cartão de crédito em apostas de alíquota fixa, que englobam apostas esportivas (as chamadas bets) e jogos on-line, a partir do próximo ano.
A norma, publicada pelo Ministério da Fazenda em abril, também definiu que não serão aceitos pagamentos em dinheiro (em espécie), boletos, cheques, criptoativos ou outras formas alternativas de depósito que possam dificultar a identificação da origem dos recursos.
Foram autorizados os pagamentos via Pix ou cartões de débito. Transferências via TED e cartões pré-pagos também serão aceitos.
Em julho, o índice de inadimplência de pessoas físicas com o cartão de crédito ficou em 7,39%, abaixo da média de 7,71% dos últimos 12 meses, segundo dados do Banco Central.
Em janeiro, pesquisa Datafolha revelou que 15% dos brasileiros dizem fazer ou já ter feito apostas esportivas on-line. O gasto médio mensal entre o total de pessoas que apostam é de R$ 263 – equivalente a 20% do salário mínimo de 2023. Três em cada dez apostadores afirmam gastar mais de R$ 100 por mês, mostra o levantamento. De acordo com o Instituto Locomotiva, um terço desses apostadores está endividado e possui dois ou mais cartões de crédito.
Reportagem distribuída pela Folhapress
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