Indicação de Galípolo é aprovada pelo mercado

São Paulo – A indicação de um ex-banqueiro como número 2 do futuro Ministério da Fazenda reforçou a expectativa do mercado de que o futuro ministro petista, Fernando Haddad, adote um estilo de gestão “morde e assopra” à frente da economia de Lula 3.
De um lado, o governo eleito tem dado sinais de que elevará os gastos, enquanto ao mesmo tempo dá indicações de que buscará segurar a trajetória da dívida pública. A proporção de endividamento sobre o PIB é um dos indicadores seguidos mais de perto por investidores: quanto maior a proporção, em regra, maior o risco do credor, o que tende a elevar os juros cobrados.
O lado que mais morde são as discussões sobre a PEC da Gastança em Brasília, em que se preveem gastos extras que ultrapassam os R$ 150 bilhões. No lado que mais assopra, eles esperam uma formação da equipe econômica que vá em direção oposta, com nomes que agradem aos investidores.
O nome do ex-presidente do Banco Fator, Gabriel Galípolo, por exemplo, vai nessa direção. Galípolo, que atuou na coordenação do plano de governo do ex-prefeito na disputa pelo estado de São Paulo, teria aceitado ontem o convite de Haddad para a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda.
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O economista André Perfeito avalia que o nome de Galípolo tende a ser bem recebido pelos investidores.
“Acredito que a reação dos investidores deve ser positiva. Afinal, ele era do mercado e tem uma interlocução boa com a indústria financeira”, afirma Perfeito.
Ele acrescenta que as atenções dos investidores estarão voltadas especialmente para a nomeação do secretário de política econômica do novo governo, que costuma ser um dos principais responsáveis pela interlocução com o mercado financeiro.
Economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management, Julio Hegedus Netto também vê com bons olhos a escolha de Galípolo.
“Acho que é um nome que vai ser bem aceito pelo mercado. Ele tem uma experiência de mercado boa, e é importante que ele, como secretário-executivo, tenha um bom trânsito no mercado financeiro. Foi uma boa escolha e considero acertada a decisão do ministro Fernando Haddad”, afirma Hegedus Netto.
Já Silvio Campos Neto, economista sênior da consultoria Tendências, tem uma visão mais cautelosa sobre o nome de Galípolo. “Não o conheço muito, mas sei que tem uma visão mais desenvolvimentista. É importante que ele se manifeste nos próximos dias para falar o que pensa, o que pretende no cargo, para obtermos informações melhores e conseguir avaliar de forma mais precisa qual a orientação que pretende adotar.”
Perfeito diz ainda esperar por uma gestão no estilo “morde e assopra” de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda.
Nesse sentido, a expectativa dele é a de que, em alguns momentos, membros do ministério sinalizem para uma política de aumento dos gastos, mas, em outros, indiquem também a intenção do governo de adotar uma maior austeridade fiscal.
“Pelo tom das declarações recentes do Lula, me parece que é um pouco esse o jogo que o Haddad vai tentar fazer”, afirma Perfeito, que ressalta a importância de gestos recentes que podem agradar o mercado, como a aproximação de Haddad com o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto.
O economista diz ainda que o nome do ex-prefeito estava longe de ser o preferido do mercado, mas que, considerado o nível atual da bolsa e do dólar, há espaço para valorizações, desde que não haja surpresas consideradas muito negativas por parte dos agentes financeiros em relação à condução da economia.
Hegedus Netto, da Mirae Asset, lembra ainda que, em declarações nos últimos dias, Fernando Haddad afirmou que a reforma tributária será uma das prioridades na área econômica no primeiro ano do governo.
Segundo o especialista, o ponto mais importante dentro da discussão de uma reforma tributária diz respeito à unificação dos impostos, com a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
“A reforma tributária passa por uma simplificação da carga fiscal, e talvez com uma taxação sobre lucros e dividendos que é um debate que está em aberto”, afirma Hegedus Netto.
Campos Neto, da Tendências, afirma que a reforma tributária é um avanço importante no campo econômico para o próximo governo, em especial ao trazer alguma compensação considerado o aumento de gastos previsto com a PEC da Gastança.
“Sabemos que é uma reforma difícil de sair, que mexe com diversos setores e estados, sempre tem resistência, mas, a princípio, parece ter alguma viabilidade, até porque já tem um texto pronto de boa qualidade produzido por uma pessoa que tem trânsito junto ao PT, que é o Bernard Appy”, afirma Campos Neto.
Desconfiança
O economista da Tendências diz que a desconfiança que ainda permanece no mercado decorre de uma visão desenvolvimentista que segue com força em alas do governo eleito, segundo a qual o crescimento da economia seria impulsionado principalmente por uma atuação do Estado. “A grande preocupação é se teremos uma retomada desse modelo.” (Lucas Bombana)
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