Inflação e atividade econômica estão no radar do Banco Central

São Paulo – O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, destacou nesta segunda-feira (14) que, na condução da política monetária, os diretores da autarquia estão de olho nas projeções de inflação do Comitê de Política Monetária (Copom) e o desempenho da atividade econômica.
Em sua primeira fala pública após ter tido sua indicação para assumir a presidência do BC em 2025 aprovada pelo Senado, em evento promovido pelo Itaú BBA, Galípolo reiterou que cabe à autoridade monetária perseguir o centro da meta de inflação, e que a desancoragem das expectativas para os preços segue sendo uma preocupação.
“A taxa de juros básica aqui está se movendo basicamente observando o que está acontecendo do ponto de vista da atividade e olhando para as projeções da inflação dentro do horizonte relevante”, disse ele.
A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, está em 3,5%, acima da meta central de 3%.
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O diretor reafirmou que cabe ao BC colocar a taxa de juros em patamar restritivo suficiente pelo tempo necessário para levar a inflação à meta, sendo mais cauteloso na política monetária em meio a um ambiente com mercado de trabalho mais apertado. “Dada a volatilidade, a gente está bastante dependente de dados e mais reativo”, ressaltou.
Ele afirmou que o modelo do BC para projeção da inflação é essencial e “organiza o debate”, reduzindo divergências na diretoria, mas disse que não há relação mecânica entre o modelo e a decisão do Copom.
Os juros básicos estão atualmente em 10,75% ao ano após o BC reiniciar um ciclo de alta na Selic citando um cenário com resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho e elevações nas projeções e expectativas de inflação.
No evento, Galípolo destacou que as sucessivas surpresas positivas nos dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são “tema central” para o BC, argumentando que esse ponto parece estar entre as razões para a desancoragem das expectativas.
O diretor avaliou que, olhando projeções de mercado do boletim Focus e informações de inflação implícita, “não parece” que há visão sobre uma eventual descontinuidade na atuação do BC.
Galípolo, que assume a presidência da autoridade monetária em janeiro de 2025, afirmou que a transição feita pelo atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, “tem sido grande exemplo de institucionalidade”.
Dólar
O câmbio no Brasil é flutuante e as atuações do Banco Central se dão em situações de falta de liquidez ou excesso de volatilidade, sem que haja busca por qualquer nível específico para o real, disse nesta segunda o diretor de Política Monetária da autarquia.
Galípolo afirmou que não há mudança de institucionalidade da lógica de atuação no câmbio pelo Banco Central. “O câmbio no Brasil é flutuante, é uma linha de defesa relevante para a estabilidade e absorção de choques, e as atuações do BC se dão exclusivamente por algum tema relacionado a falta de liquidez ou excesso de volatilidade, sem a persecução de qualquer tipo de nível de câmbio”, afirmou.
Ao apontar que a volatilidade na interpretação de analistas sobre a forma de atuação do BC é quase tão grande quanto à da moeda brasileira, o diretor disse que o mercado migrou de um receio de “intervencionismo” para acusações de que ele é “mão fraca” nessa área.
O diretor ainda afirmou que o real tem ficado “persistentemente mais desvalorizado”, mas enfatizou que não há relação mecânica entre o nível do câmbio e a definição dos juros básicos no Brasil. Após permanecer o fim de 2023 e início de 2024 ligeiramente abaixo de R$ 5, o dólar passou a subir no País.
Reportagem distribuída pela Reuters
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