Inflação de serviços é desafio para o BC

Brasília – O desafio para que as taxas de inflação reduzam no Brasil ainda é grande à frente, disse na sexta-feira (4) o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, classificando a tarefa de segurar a alta de preços no setor de serviços como desafio duro.
“Se a gente quer ter inflação ancorada na meta de 3% a partir de 2024, precisa desinflacionar serviços. 8,5% de (inflação de) serviços não é consistente com uma meta de 3%, a gente precisa trazer serviços de volta para o que era no pré-pandemia. Esse é talvez o desafio mais duro”, disse.
Em evento promovido pelo Bradesco Asset Management, Serra afirmou esperar que a dinâmica da atividade econômica distensione daqui para frente, com uma convergência da inflação para a meta a partir do primeiro ou segundo trimestre de 2024.
Na avaliação do diretor, o fato de o mercado de trabalho estar mais apertado do que os patamares vistos antes da pandemia de Covid-19 é um desafio a mais para a desinflação de serviços.
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Ele ponderou que o impacto da reforma trabalhista aprovada durante o governo Michel Temer tende a baixar a taxa estrutural de desemprego no País, o que ainda daria margem para criação de novas vagas sem pressionar a inflação.
O diretor afirmou que indicadores econômicos já mostram impacto do aperto monetário promovido pelo BC para debelar a alta de preços. Segundo ele, o Brasil passou a registrar recuo nas vendas do varejo, especialmente em categorias mais ligadas à concessão de crédito, como veículos, eletrodomésticos e construção.
“Está, sim, batendo a política monetária”, afirmou.
Ele também mencionou que a inflação no Brasil está mais baixa do que em outros países da América Latina, ressaltando que a deflação recente “vai bater” nos preços de bens ao consumidor, um “sinal auspicioso” à frente.
Nesse contexto, Serra afirmou que o Brasil chegou antes de seus pares num ponto em que o ajuste nos juros “pareceu suficiente”.
Em outubro, o BC decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela segunda reunião consecutiva, após promover o mais duro aperto monetário desde a criação do regime de metas para a inflação. Em seus comunicados, a autoridade monetária tem afirmado, porém, que não hesitará em retomar os ajustes nos juros se considerar necessário.
Fiscal
Na apresentação, o diretor afirmou que o BC evita falar sobre política fiscal, principalmente num momento de transição de governo, mas afirmou que os mercados globais têm reagido mais fortemente a políticas de expansão de gastos públicos.
“A gente passou por um período em que os mercados estavam mais lenientes com o fiscal e, finalmente, com o juro mais alto, os mercados estão reagindo a esse tipo de evento”, disse.
O diretor ressaltou que em um ambiente de juros mais elevados no mundo o custo de rolagem de dívidas públicas aumenta, em meio a um cenário de alta no estoque do endividamento dos países. Segundo ele, esse cenário deixa os mercados “muito mais ariscos do lado fiscal”.
Serra também destacou dados positivos relacionados ao Brasil, citando que o real é a moeda com a melhor performance neste ano e que a bolsa brasileira só não foi melhor do que a da Turquia.
Na apresentação, ele mencionou as revisões para cima feitas pelo mercado ao longo do ano para as projeções do crescimento da atividade brasileira em 2022, afirmando que isso ocorreu por ter havido um excesso de pessimismo diante de um “país dividido”.
Por outro lado, ele traçou um cenário global desafiador à frente, com baixa liquidez nos mercados e deterioração econômica na China e em outras economias avançadas.
IBGE revisa queda do PIB brasileiro de 2020
Rio – A queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020, o ano inicial da pandemia, ficou menor do que a estimada inicialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Após revisão, a baixa da economia nacional passou de 3,9% para 3,3%, conforme dados divulgados pelo instituto na sexta-feira (4).
O resultado de 2020 veio após três anos consecutivos no azul – as altas foram de 1,3% em 2017, de 1,8% em 2018 e de 1,2% em 2019. A queda de 3,3% foi a maior desde 2016, quando a baixa também ficou em 3,3%.
O maior tombo da série histórica do IBGE, com dados desde 1996, ocorreu em 2015. À época, o PIB despencou 3,5%. Em outras palavras, o ano inicial da pandemia, após a revisão, deixa de representar a queda mais intensa da série.
Em 2020, a chegada da crise sanitária forçou a adoção de medidas de isolamento social. A baixa na circulação de pessoas derrubou setores dependentes da interação direta com consumidores. Foi o caso de parte dos serviços, o principal segmento da economia brasileira sob a ótica da oferta.
“Foi uma queda muito localizada nos serviços, principalmente nos serviços presenciais, paralisados durante a pandemia, como hotéis, restaurantes, cinema e entretenimento, viagens e serviços domésticos”, apontou o gerente de bens e serviços das Contas Nacionais do IBGE, Cristiano Martins.
Em valores correntes, o PIB foi calculado em R$ 7,6 trilhões em 2020. A revisão decorreu, principalmente, da incorporação de novos dados sobre serviços, sinalizou o instituto. O setor passou de uma queda de 4,3% para uma baixa menos intensa, de 3,7%.
O desempenho da indústria também foi revisado: de retração de 3,4% para recuo de 3%. Já o crescimento da agropecuária em 2020 ficou maior, de 3,8% para 4,2%.
A revisão do PIB é um procedimento padrão do IBGE. Os números atualizados integram o Sistema de Contas Nacionais.
O levantamento agrega novos dados do instituto e de fontes externas, mais amplos e detalhados, na comparação com as divulgações do PIB feitas a cada três meses.
A consolidação dos resultados costuma ocorrer dois anos após o período de referência -no caso de 2020, a revisão foi feita em 2022.
“Sempre ocorrem revisões dos dados preliminares em relação aos definitivos, com mais fontes de informações. Entretanto, em épocas atípicas, como a pandemia de 2020, elas podem ser maiores, fato que ocorreu em todo o mundo”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O consumo das famílias, que representa 61,8% do PIB pela ótica da demanda, caiu 4,5%. Já o investimento produtivo na economia, medido pela formação bruta de capital fixo (FBCF), somou R$ 1,3 trilhão em 2020, registrando queda de 1,7%.
A taxa de investimento, que consiste na razão entre a FBCF e o PIB, foi de 16,6%. Avançou 1,1 ponto percentual em relação a 2019.
Segundo os dados preliminares do IBGE, o PIB voltou a crescer em 2021. A alta foi estimada inicialmente em 4,6%.
O avanço no ano passado ocorreu em meio ao retorno de atividades econômicas graças à vacinação contra a Covid-19. O resultado consolidado de 2021 será divulgado em 2023 pelo IBGE.
Projeções – Para o ano de 2022, analistas do mercado financeiro projetam uma alta de 2,76%, conforme o boletim Focus, publicado pelo Banco Central.
A avaliação é que a atividade econômica ainda mostra reflexos da reabertura após os prejuízos na pandemia. Também há efeitos da liberação de recursos às vésperas das eleições pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
O atual presidente foi derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vai para seu terceiro mandato a partir de 2023. (Leonardo Vieceli/Folhapress)
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